O Estado de S. Paulo
Em tempos de alta desaprovação, comandar um
ministério é muito custoso
A decisão do líder do União Brasil na Câmara,
deputado Pedro Lucas, de recusar o convite do presidente Lula para o Ministério
das Comunicações reacendeu interpretações apressadas de que o presidencialismo
de coalizão estaria em crise.
Alega-se que os ministérios teriam perdido valor diante da maior influência do Legislativo sobre o orçamento, sobretudo após o advento do orçamento impositivo. Hoje, argumenta-se, valeria mais para um deputado permanecer no Congresso – com cerca de R$ 37 milhões em emendas de execução obrigatória – do que assumir um ministério com orçamento supostamente esvaziado e retornos eleitorais incertos.
É fato que as emendas impositivas trouxeram
maiores restrições à capacidade do Executivo de formar e manter coalizões
majoritárias. Elas inflacionaram as relações entre Executivo e Legislativo.
Quando os parlamentares perceberam que não precisavam mais votar com o governo
para garantir a execução de seus recursos, o Executivo foi forçado a buscar
novas moedas de troca – origem, aliás, de práticas pouco transparentes como o
“orçamento secreto”.
Essa interpretação, porém, captura apenas
parte do fenômeno. Outro aspecto central é que integrar o governo não gera
apenas benefícios, mas também custos. Partidos e parlamentares que assumem
ministérios tornam-se copartícipes da imagem e dos resultados da administração
– sejam positivos ou negativos.
Aceitar esses custos políticos só faz sentido
quando os benefícios esperados compensam os riscos. Quando a balança pesa para
o lado dos custos, aumentam recusas, indisciplina e rupturas de coalizão.
No artigo Executive Toolbox: Building
Legislative Support in a Multiparty Presidential Regime, argumento, junto com
Eric Raile e Timothy Power, que os instrumentos à disposição do presidente –
ministérios, emendas, recursos, concessões políticas – são substitutos
imperfeitos. Formam um arsenal dinâmico, em que a combinação e o valor de cada
moeda precisam ser recalibrados.
Estrategicamente, o presidente tende a
reservar ministérios para aliados mais próximos, menos propensos a implementar
políticas divergentes. Já emendas são direcionadas a parceiros ideologicamente
mais distantes.
Talvez, portanto, o problema não seja a perda
de valor dos ministérios, mas o aumento do custo de integrar uma coalizão – em
um contexto de queda de popularidade e alta desaprovação do governo –,
tornando-se alto demais para aliados sub recompensados, que já vislumbram novos
caminhos na disputa presidencial de 2026.
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