Folha de S. Paulo
Escândalos de corrupção impactam a opinião
pública quando a economia vai mal, criando incentivos adicionais para o governo
expandir o gasto
No momento, há uma notável confluência de notícias que eleva brutalmente a saliência da corrupção na agenda política: o escândalo dos descontos em aposentadorias e pensões do INSS (trazendo à tona o caso dos consignados, que envolveu o ex-ministro Paulo Bernardo e a atual ministra Gleisi Hoffmann); a queda do ministro Juscelino Filho, após denúncia da PGR; o asilo concedido à ex-primeira-dama do Peru e a prisão de Ollanta Humala, no âmbito do Odebrechtgate; e, por fim, a prisão de Collor em um processo decorrente da Lava Jato.
A corrupção voltou ao noticiário —e não
poderia ser diferente. E terá impacto. Sobre o terço de eleitores não petistas
e não bolsonaristas, bem entendido. A corrupção é, por excelência, bandeira da
oposição, como já discuti aqui na coluna. Essa constatação é consensual na
literatura sobre o tema, embora no Brasil tenha se cultivado o
"argumento" de que a politização da corrupção era característica do
"moralismo udenista". Na verdade, o protagonismo da UDN —partido oposicionista no pós-guerra— nas
denúncias de corrupção apenas confirma esse padrão. Durante o regime militar, a
oposição assumiu esse papel, e Paulo Maluf tornou-se o símbolo da corrupção.
Brizola chegou a se referir ao PT como a
"UDN de macacão. O partido centrou fogo contra as rachadinhas do clã Bolsonaro.
Quem detém a caneta para nomear e contratar é
o chefe do Executivo; na expressão precisa de Rui Barbosa, "o Presidente é
o grande Nomeador, o grande Contratador". Nomear e contratar significa, em
última instância, distribuir bens privados —empregos, renda e benefícios
locais. Já a oposição só pode oferecer promessas de bens públicos, de impacto
difuso: governo limpo, transparência, democratização e crescimento futuro.
O atual noticiário sobre corrupção não
poderia surgir em momento mais delicado para o governo Lula 3 —o que
explica o esforço midiático incomum para controlar as repercussões do caso
potencialmente mais explosivo: o do INSS. Igualmente reveladora foi a recusa do
líder do União
Brasil na Câmara em aceitar o ministério após a queda de Juscelino.
Em uma coluna ainda em 2024, analisei a erosão sem
precedentes da reputação e do capital político de Lula, sugerindo que múltiplos
fatores o enfraquecem e o transformam em um "pato manco". Concluí, à
época, que, "para os parceiros da coalizão, os ganhos de participar do
governo são decrescentes com o tempo". Como político inelegível, seu poder
de barganha diminui diante da incapacidade de formular promessas críveis —já
que estas pressupõem a continuidade no cargo.
A recusa do deputado apenas confirma essa
previsão. Os ganhos de estar no governo estão em queda, e o Planalto perde
rapidamente sua força gravitacional. De qualquer modo a presidência vertebra
nosso sistema político, mesmo enfraquecida.
O impacto de escândalos de corrupção sobre a
avaliação de governos é mais severo quando a economia vai mal, como conclui
Zechmeister em "The Varying Political Toll of Concerns About Corruption in
Good Versus Bad Economic Times". Isso cria incentivos para a concessão de
benefícios privados, consequentemente, para a expansão dos gastos públicos.
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