terça-feira, 11 de maio de 2010

Serra critica BC, Telebrás, Belo Monte, Mercosul...

DEU EM O GLOBO

Tucano diz que política de juros está errada e que PT aparelhou Estado

Após um mês de críticas e elogios ao governo Lula, o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, adotou ontem discurso abertamente oposicionista. Em entrevista à rádio CBN, criticou o Banco Central e disse que o órgão errou quando não baixou os juros. Atacou a usina de Belo Monte, o Mercosul e a Telebrás. Disse que o PT aparelhou o Estado. Mas que Lula reduziu o clima de terrorismo ao afirmar que nada anormal acontecerá, independentemente do eleito. Depois, contemporizou e disse que é preciso diálogo entre o Planalto e o BC. E que não dá para ter bom humor às 8h, quando ocorreu a entrevista.

Serra: "BC não é a Santa Sé"

Tucano critica política de juros, Mercosul, Petrosal, Telebras, Belo Monte... e elogia Lula

Flávio Freire

SÃO PAULO - Após um mês de pré-campanha em que dosava críticas com elogios ao governo Lula, o précandidato tucano à Presidência, José Serra, ontem deixou aflorar mais os ataques, indicando diversas mudanças que faria no governo, caso eleito. Em entrevista à rádio CBN, ele mostrou desconforto ao falar sobre se manteria ou não a autonomia do Banco Central e até foi ríspido com a colunista Míriam Leitão, da equipe de entrevistadores.

Mais tarde, o notívago Serra tentou justificar dizendo que não podia estar de bom humor às 8h da manhã, hora da entrevista.

Além do BC que não baixou os juros quando devia, na opinião dele , o tucano criticou o aparelhamento do Estado pelo PT; o processo de construção de Belo Monte; o Mercosul; e a Telebras, entre outros programas do governo. Ao mesmo tempo, destacou que respeitará a decisão do Congresso quanto ao aumento das aposentadorias acima do mínimo e disse que o presidente Lula reduziu o clima de terrorismo ao afirmar que nada de anormal acontecerá no país, independentemente de quem seja eleito.

Sobre o BC, Serra disse que a instituição não é infalível e que o presidente da República tem, sim, o direito de se posicionar caso o comando do banco cometa erros calamitosos. O BC não é a Santa Sé, disse, irritado, defendendo o direito de o presidente manifestar sua opinião e negando que isso fira a autonomia do BC.

O tucano não gostou de uma pergunta sobre a especulação de que mudaria os rumos das políticas monetária e fiscal, assim como a hipótese de que poderia assumir também a presidência do BC. Perguntado sobre o que faria se percebesse equívocos em decisões do BC, Serra se alterou: Espera um pouquinho. O Banco Central não é a Santa Sé. Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência.

Agora, quem acha que o Banco Central erra é contra dar condições de autonomia e trabalho ao Banco Central? Claro que não. Agora, de repente, monta-se um grupo que é acima do bem e do mal, que é o dono da verdade, e que... e qualquer criticazinha já vem algum jornalista, já vem o outro, e ficam nervosinhos por causa disso disse ele, em resposta a Míriam.

(Leia a íntegra ao lado) Serra disse que é preciso dar tranquilidade ao pessoal do Banco Central, mas ponderou: Se houver erros calamitosos, que são perfeitamente possíveis de diagnosticar, acho que o presidente tem de (fazer) sentir sua posição, como aliás o atual governo fez e o governo do Fernando Henrique fazia, sem que isso causasse qualquer estresse ou ataque de nervosismo.

Para Serra, o Banco Central errou quando não baixou os juros durante a crise financeira internacional.

Quando as condições para baixar os juros são boas, como foi na crise, e o Brasil foi o último do mundo inteiro (a baixar), apesar que a crise aqui não foi tão grave. Não baixar os juros num contexto em que não tinha inflação, tinha deflação até, simplesmente foi um erro. A mesa da economia brasileira, eu ajudei a erguer, estava no chão, e todo mundo sabe que não vou virar a mesa (se eleito) disse Serra, defendendo o tripé câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal.

A seguir, trechos da entrevista do tucano, que abriu a série da CBN com os pré-candidatos a presidente.

Na próxima segunda-feira será a vez de Dilma Rousseff, do PT.

MERCOSUL: Acho que o Mercosul tem de ser reformado. Foram fixadas metas muito ambiciosas. Acho importante salvar o Mercosul. Temos de reforçar o livre comércio. Há uma zona de livre comércio e você não consegue vender. Essas reuniões de presidentes parecem mais um espetáculo sem nenhum avanço concreto. Ele precisa ser reformado para ser fortalecido.

APARELHAMENTO DO ESTADO: É inegável que o governo, quando está o PT, aparelha com toda a militância, desvirtuando as funções governamentais, que não são de fortalecer um partido, mas de servir ao interesse público. Não é minha característica fazer aparelhamento partidário. Partido, a gente tem respeito, disputa eleição, para, na hora de governar, você governar para todos e todas, e com todos e todas que forem bons.

LOTEAMENTO: Não vou lotear. Nem para a base aliada. Você trabalha com o Congresso com base nas emendas orçamentárias. Ao contrário do que se diz, deputado estadual, federal, senador, quando faz emendas, mais de 90% das emendas são boas, porque o sujeito quer ser eleito. Outra coisa é se o dinheiro é mau usado, então tem de ter mecanismos para isso. Fui prefeito, governador, ministro e nunca deixei parlamentares indicarem diretores de empresas. A responsabilidade é do chefe, do governador, do prefeito ou do presidente. Se não fizer isso, você está aparelhando. Por que você pega alguém na área de telecomunicação só porque é de um partido? Não tem cabimento isso.

PSDB PRIVATISTA: Isso é trololó. Não pretendo privatizar nada. Isso é jogo de oposição em período eleitoral.

PETROSAL: Você tem grande potencial nessa área, e mudou-se o modelo, o de construir uma empresa. Creio que poderia ter ficado a Petrobras mesmo ou a Agência Nacional de Petróleo. Talvez não fosse necessária essa estatal, que o governo apresenta como algo enxuto, que não vai inchar mais, que será eficiente. Mas tenho dúvida a esse respeito. Mesmo mudando o modelo, como o governo quer, não seria necessário criar outra empresa, dadas as empresas já existentes.

ROYALTIES: Acho, em primeiro lugar, que os royalties do pré-sal que ainda virão devem ficar ligados a investimentos para que o país possa crescer em função disso e aproveitar bem. Os royalties que vierem devem ser ligados a investimentos para beneficiar o conjunto do Brasil, mas devem ser mantidos no caso do Rio e do Espírito Santo, ou então você liquida esses estados. Fora que é tradição no mundo inteiro que os estados produtores tenham mais royalties. Estão vivendo disso (...), têm de receber mais como produtores, assim como Minas deve receber mais com minério. Eu não desfalcaria Rio e Espírito Santo. Pelo projeto de lei, tiraria de um dia para outro os royalties do Rio e do Espírito Santo, isso seria uma tragédia, me opus desde o primeiro momento a isso.

TELEBRAS/BANDA LARGA: Quando eu era governador, criamos uma empresa de turismo. Se é uma coisa essencial (a volta da Telebras), tudo bem. No caso dessa nova estatal, a finalidade é boa, mas é preciso ver se é a melhor maneira de oferecer internet de banda larga, com menor preço, mais concorrência e também boa velocidade, porque os planos dessa empresa são apresentados abaixo do padrão mundial, então tem que ver se é o melhor caminho. Acho que devia ter um debate melhor, porque o governo criar empresa no ano que vem com gasto de R$ 16 bilhões, com tantos problemas no Brasil, é preciso mesmo ver se é a melhor opção.

BELO MONTE: Belo Monte é importante, mas é errado tocar do jeito que está sendo tocado, sem se discutir as questões ambientais, as questões econômicas. Há muita coisa no ar. Se o governo quer fazer, precisaria convencer a sociedade das vantagens que essa usina apresenta. Em última análise, vai investir bilhões com dinheiro do contribuinte. O próximo governo tem de dar importância imensa ao tema.

BOLSA FAMÍLIA: Assistencialista ou não, o Bolsa Família deve ser mantido. Mas deve ser fortalecido com vínculo nas questões de educação e saúde.

PREVIDÊNCIA: O sistema da Previdência, em seu conjunto, tem déficit. Não há dúvidas de que os aposentados estão em situação de atraso no Brasil. Mas o ministro (Guido) Mantega é sério, e o presidente Lula é sensível, e vou respeitar a decisão que o Congresso tomar. Mas a reforma da Previdência tem que eliminar privilégios e corrigir injustiças.

ESQUERDA OU DIREITA?: Do ponto da análise convencional, do que é direita, esquerda, sim (sou de esquerda). Defendo um projeto de desenvolvimento nacional, defendo um governo forte. Não obeso, mas musculoso. Defendo os mecanismos de justiça social, vou estar comprometido até o fundo da alma com os trabalhadores e os desamparados, é ser aliado de empresas que gerem empregos.

ENTREVISTA DE LULA AO EL PAÍS: O Lula disse que qualquer um que ganhar, não vai ter nada de anormal. Isso é importante porque tem quase um clima de terrorismo, de que, se alguém da oposição ganhar, o país perderia. Isso mostra que o Lula não está tão preocupado como se imagina se ganhar um outro candidato.

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