DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Vista assim do alto, sem a devida atenção ao significado preciso da frase, a declaração do presidente Luiz Inácio da Silva ao jornal espanhol El País de que não vê possibilidade de o PT perder a eleição, soa normal e natural.
Político algum em pleno processo de disputa pode admitir de antemão a hipótese da derrota.
Não obstante, nenhum deles costuma dispensar a companhia do condicional "se" para se referir ao futuro. Questão de prudência, de respeito aos oponentes e à diversidade de preferências políticas presentes no eleitorado.
A possibilidade como condição daquilo que é possível faz parte da realidade. Nas condições de hoje, é muito mais provável que José Serra ou Dilma Rousseff ganhe as eleições.
Mas, considerando o possível tudo aquilo que pode ser verdadeiro ou possa vir a existir, há que se incluir o nome de Marina Silva entre as hipóteses de vitória.
Que tal pareceria ao eleitor o pré-candidato tucano se resolvesse afirmar que não vê hipótese de perder? Olha lá o Serra, todo arrogante de salto alto, diriam.
E a pré-candidata do PT se dissesse hoje, repetindo o presidente, que não vê possibilidade de perder? Olha lá a Dilma, em mais um tropeço de principiante, apontariam.
Ao afirmar que não vê "possibilidade" de outro resultado senão a derrota de seus adversários, Lula primeiro foi incongruente consigo, pois inicialmente disse "ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate", sem explicar ao que exatamente se refere hipoteticamente: a reações inconformadas de perdedores ou extravagâncias governamentais de vencedores.
Em segundo lugar perdeu a chance de, como presidente da República, assumir uma posição de certa equidistância analítica, que lhe cairia bem como "personagem do ano" de 2009, eleito pelo jornal que o entrevistava, tido como dos melhores, senão o melhor, do mundo.
Poderia fazer isso sem abrir mão da condição de parte no processo nem a nitidez do papel de eleitor privilegiado de Dilma Rousseff. Não precisava, entretanto, reduzir esse papel ao de um cabo eleitoral de campanha quando poderia ser o intérprete do processo em um País que começa a despertar real interesse no plano internacional.
De um político experiente os entrevistadores de El País talvez esperassem ouvir uma análise mais aprimorada a respeito de uma eleição em que a oposição ainda está na frente, pode perder ou ampliar a vantagem e na qual se imagina haverá uma disputa acirrada, do que simplesmente um prognóstico simplista e irrealista: "Deixe-me dizer que não vejo possibilidade de que percamos a eleição."
Por que? Ou faltou curiosidade ao jornal para perguntar ou argumentos ao presidente para explicar com que base se adianta com tanta assertividade à resposta do eleitorado.
Ademais, é um risco desnecessário Lula pagar para ver assim tão cedo apostando seu afamado atributo de intuição afiada. Já perdeu algumas vezes ao longo de seus dois mandatos. Apostou que José Serra não seria candidato a prefeito de São Paulo em 2004, apostou que não perderia a CPMF, apostou mais recentemente que Aécio Neves deixaria o PSDB.
Ocorre que agora o cacife do jogo é mais alto. Se ganhar, ninguém jamais se lembrará de uma única vez em que seu faro político falhou e atrairá para si todos os méritos da vitória. Mas, se perder, o personalismo também fará com que recaia sobre Lula de forma absoluta a conta do prejuízo.
Esmola muita. Os presidentes do PT e do PSDB se comprometeram, durante debate promovido pelo Estado, a vetar o registro de candidaturas dos condenados nos moldes do projeto em processo de votação no Congresso.
O DEM, PSOL, PPS, PV, PC do B, PDT já haviam assumido tal compromisso. De onde se olha e surge a dúvida: se é assim tão fácil, por que tanta celeuma?
Exatamente porque não é assim tão fácil. Conviria, portanto, não confiar na boa vontade da iniciativa de suas excelências.
Na hora H, sem a sustentação da lei - caso não tenha sido aprovado o projeto a tempo para esta eleição - os "fichas-sujas" irão reclamar "seus direitos" na Justiça.
Vista assim do alto, sem a devida atenção ao significado preciso da frase, a declaração do presidente Luiz Inácio da Silva ao jornal espanhol El País de que não vê possibilidade de o PT perder a eleição, soa normal e natural.
Político algum em pleno processo de disputa pode admitir de antemão a hipótese da derrota.
Não obstante, nenhum deles costuma dispensar a companhia do condicional "se" para se referir ao futuro. Questão de prudência, de respeito aos oponentes e à diversidade de preferências políticas presentes no eleitorado.
A possibilidade como condição daquilo que é possível faz parte da realidade. Nas condições de hoje, é muito mais provável que José Serra ou Dilma Rousseff ganhe as eleições.
Mas, considerando o possível tudo aquilo que pode ser verdadeiro ou possa vir a existir, há que se incluir o nome de Marina Silva entre as hipóteses de vitória.
Que tal pareceria ao eleitor o pré-candidato tucano se resolvesse afirmar que não vê hipótese de perder? Olha lá o Serra, todo arrogante de salto alto, diriam.
E a pré-candidata do PT se dissesse hoje, repetindo o presidente, que não vê possibilidade de perder? Olha lá a Dilma, em mais um tropeço de principiante, apontariam.
Ao afirmar que não vê "possibilidade" de outro resultado senão a derrota de seus adversários, Lula primeiro foi incongruente consigo, pois inicialmente disse "ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate", sem explicar ao que exatamente se refere hipoteticamente: a reações inconformadas de perdedores ou extravagâncias governamentais de vencedores.
Em segundo lugar perdeu a chance de, como presidente da República, assumir uma posição de certa equidistância analítica, que lhe cairia bem como "personagem do ano" de 2009, eleito pelo jornal que o entrevistava, tido como dos melhores, senão o melhor, do mundo.
Poderia fazer isso sem abrir mão da condição de parte no processo nem a nitidez do papel de eleitor privilegiado de Dilma Rousseff. Não precisava, entretanto, reduzir esse papel ao de um cabo eleitoral de campanha quando poderia ser o intérprete do processo em um País que começa a despertar real interesse no plano internacional.
De um político experiente os entrevistadores de El País talvez esperassem ouvir uma análise mais aprimorada a respeito de uma eleição em que a oposição ainda está na frente, pode perder ou ampliar a vantagem e na qual se imagina haverá uma disputa acirrada, do que simplesmente um prognóstico simplista e irrealista: "Deixe-me dizer que não vejo possibilidade de que percamos a eleição."
Por que? Ou faltou curiosidade ao jornal para perguntar ou argumentos ao presidente para explicar com que base se adianta com tanta assertividade à resposta do eleitorado.
Ademais, é um risco desnecessário Lula pagar para ver assim tão cedo apostando seu afamado atributo de intuição afiada. Já perdeu algumas vezes ao longo de seus dois mandatos. Apostou que José Serra não seria candidato a prefeito de São Paulo em 2004, apostou que não perderia a CPMF, apostou mais recentemente que Aécio Neves deixaria o PSDB.
Ocorre que agora o cacife do jogo é mais alto. Se ganhar, ninguém jamais se lembrará de uma única vez em que seu faro político falhou e atrairá para si todos os méritos da vitória. Mas, se perder, o personalismo também fará com que recaia sobre Lula de forma absoluta a conta do prejuízo.
Esmola muita. Os presidentes do PT e do PSDB se comprometeram, durante debate promovido pelo Estado, a vetar o registro de candidaturas dos condenados nos moldes do projeto em processo de votação no Congresso.
O DEM, PSOL, PPS, PV, PC do B, PDT já haviam assumido tal compromisso. De onde se olha e surge a dúvida: se é assim tão fácil, por que tanta celeuma?
Exatamente porque não é assim tão fácil. Conviria, portanto, não confiar na boa vontade da iniciativa de suas excelências.
Na hora H, sem a sustentação da lei - caso não tenha sido aprovado o projeto a tempo para esta eleição - os "fichas-sujas" irão reclamar "seus direitos" na Justiça.
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