DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Europa dá vexame, leva bronca dos EUA e vai assumir o risco de bancos ineptos a fim de não ir para o vinagre
A finança mundial esteve à beira do abismo na tarde de quinta-feira e na sexta-feira, pois o Banco Central Europeu disse na manhã de quinta que não iria financiar governos sem crédito na praça, como era o caso da Grécia e seria, em poucos dias, o de Portugal.
O BCE, na pessoa de seu presidente, Jean-Claude Trichet, dizia também que não taparia rombo de banco caloteado. Disse, enfim, que o mercado poderia vir quente que ele estava frio feito um pepino.
Bem, o mercado veio quente e anunciou o fim do mundo. Os europeus levaram um susto, uma corrida, uma bronca dos EUA e, vexaminosamente, jogaram a toalha. Vão tapar rombos e fizeram picadinho de normas da União Europeia. Os EUA ainda ofereceram dinheiro para conter a quebradeira da prima.
Não vai haver despejo imediato do dinheiro prometido, 750 bilhões, US$ 958 bilhões ou R$ 1,7 trilhão (53% do PIB do Brasil). Um fundo europeu vai tapar eventuais rombos de caixa de governos falidos -por falar nisso, o governo de Chipre se comprometeu a emprestar US$ 1,27 bilhão, quatro vezes mais que o Brasil alardeou. Um fundo para "desastres naturais" (sic) e outras ocorrências excepcionais vai tapar súbitos rombos de caixa.
O FMI vai oferecer outro tanto de dinheiro e, vergonha, vai supervisionar as contas dos governos europeus. Por fim, o BCE se comprometeu a emprestar dinheiro para governos e bancos, a fim de evitar quebras, além de oferecer garantias. Algo parecido com o que EUA e seu BC, o Fed, fizeram na crise de 2008. Qual o resumo da ópera?
1) Mais uma vez os bancos transferiram os riscos de sua incompetência para o setor público, como o fizeram em 2008. Mamãe União Europeia vai cobrir eventuais calotes;
2) Para o Brasil, foi ótimo, ao menos no curto prazo (um ano). Há grande chance de não haver disparada do dólar nem seca global de crédito devida a quebras de bancos e governos europeus. Mas, como os europeus vão crescer muito pouco, algo dessa baixa global no consumo deve respingar por aqui;
3) O risco de calote de governos europeus não acabou. As medidas de arrocho, de cortes de gastos públicos e, indiretamente, redução de salários serão ainda mais pesadas. Se não houver arrocho, os governos quebram. A Grécia continua tão quebrada quanto na sexta. Os "povos do Mediterrâneo" continuam tão fritos quanto antes do pacote;
4) Haverá deflação e recessão ou crescimento muito pequeno na Europa por dois ou três anos, em especial na Grécia, em Portugal e na Espanha, talvez na Bélgica e na Itália. Assim, pode haver revolta social, política. Que pode derrubar governos e acordos de arrocho. A própria recessão vai criar dificuldades para o governos pagarem suas contas;
5) A União Europeia ficou politicamente desmoralizada. Só agiu aos 44 minutos do segundo tempo. Vai ter de, na marra, fazer algum tipo de governo comum no que diz respeito a gastos públicos e a financiamento da dívida pública. Coisa prevista faz tempo por acadêmicos e sábios, mas que terá de ser feita na marra, agora, ao menos em parte. Os governos nacionais, que já não têm moeda, terão ainda menos autonomia fiscal;
6) A crise ainda não acabou.
Europa dá vexame, leva bronca dos EUA e vai assumir o risco de bancos ineptos a fim de não ir para o vinagre
A finança mundial esteve à beira do abismo na tarde de quinta-feira e na sexta-feira, pois o Banco Central Europeu disse na manhã de quinta que não iria financiar governos sem crédito na praça, como era o caso da Grécia e seria, em poucos dias, o de Portugal.
O BCE, na pessoa de seu presidente, Jean-Claude Trichet, dizia também que não taparia rombo de banco caloteado. Disse, enfim, que o mercado poderia vir quente que ele estava frio feito um pepino.
Bem, o mercado veio quente e anunciou o fim do mundo. Os europeus levaram um susto, uma corrida, uma bronca dos EUA e, vexaminosamente, jogaram a toalha. Vão tapar rombos e fizeram picadinho de normas da União Europeia. Os EUA ainda ofereceram dinheiro para conter a quebradeira da prima.
Não vai haver despejo imediato do dinheiro prometido, 750 bilhões, US$ 958 bilhões ou R$ 1,7 trilhão (53% do PIB do Brasil). Um fundo europeu vai tapar eventuais rombos de caixa de governos falidos -por falar nisso, o governo de Chipre se comprometeu a emprestar US$ 1,27 bilhão, quatro vezes mais que o Brasil alardeou. Um fundo para "desastres naturais" (sic) e outras ocorrências excepcionais vai tapar súbitos rombos de caixa.
O FMI vai oferecer outro tanto de dinheiro e, vergonha, vai supervisionar as contas dos governos europeus. Por fim, o BCE se comprometeu a emprestar dinheiro para governos e bancos, a fim de evitar quebras, além de oferecer garantias. Algo parecido com o que EUA e seu BC, o Fed, fizeram na crise de 2008. Qual o resumo da ópera?
1) Mais uma vez os bancos transferiram os riscos de sua incompetência para o setor público, como o fizeram em 2008. Mamãe União Europeia vai cobrir eventuais calotes;
2) Para o Brasil, foi ótimo, ao menos no curto prazo (um ano). Há grande chance de não haver disparada do dólar nem seca global de crédito devida a quebras de bancos e governos europeus. Mas, como os europeus vão crescer muito pouco, algo dessa baixa global no consumo deve respingar por aqui;
3) O risco de calote de governos europeus não acabou. As medidas de arrocho, de cortes de gastos públicos e, indiretamente, redução de salários serão ainda mais pesadas. Se não houver arrocho, os governos quebram. A Grécia continua tão quebrada quanto na sexta. Os "povos do Mediterrâneo" continuam tão fritos quanto antes do pacote;
4) Haverá deflação e recessão ou crescimento muito pequeno na Europa por dois ou três anos, em especial na Grécia, em Portugal e na Espanha, talvez na Bélgica e na Itália. Assim, pode haver revolta social, política. Que pode derrubar governos e acordos de arrocho. A própria recessão vai criar dificuldades para o governos pagarem suas contas;
5) A União Europeia ficou politicamente desmoralizada. Só agiu aos 44 minutos do segundo tempo. Vai ter de, na marra, fazer algum tipo de governo comum no que diz respeito a gastos públicos e a financiamento da dívida pública. Coisa prevista faz tempo por acadêmicos e sábios, mas que terá de ser feita na marra, agora, ao menos em parte. Os governos nacionais, que já não têm moeda, terão ainda menos autonomia fiscal;
6) A crise ainda não acabou.
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