DEU NO VALOR ECONÔMICO
No primeiro debate de candidatos, José Serra disse que pretende ter o PT e o PV no governo, na hipótese de ser eleito à sucessão de Lula. O tucano, como Dilma Rousseff e Marina Silva, mostra-se incomodado com a fatalidade das alianças à direita. Já dizia isso em 2002. Mas, no momento, trata-se de um bem calculado e elaborado gesto de campanha eleitoral.
Não que falte sinceridade à "heresia" de Serra, como o próprio tucano classificou sua declaração de intenções. O que ele procura, isso sim, é não vir a ser rotulado de "candidato anti-Lula", uma péssima idéia quando o presidente em exercício apresenta um consistente índice pessoal de aprovação, sempre na faixa acima dos 70%, segundo as pesquisas de opinião.
Na prática, as pesquisas mostram que Serra, sendo candidato da oposição, não pode se comportar como se o futuro governo do PSDB fosse descontinuar o governo Lula. Algo assim como Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, à certa altura da campanha viu-se forçado a esclarecer que não faria um governo de ruptura com os oito anos de seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Na campanha de 2002, num vôo entre Belo Horizonte e Brasília, José Serra conversou longamente com seus companheiros de viagem sobre a eventualidade de aliança com o PT, na hipótese de ser eleito. Dizia que gostaria muito de governar com o PT, mas pediu sigilo para seus interlocutores, temeroso da reação de seus aliados de campanha. "O PSDB me mata", afirmava. Àquela altura sua candidatura em aliança com o PMDB ainda não ganhara todos os contornos da derrota, mas já fazia água por todos os lados.
Em 2002 a população queria mudança e deixou isso claro ao longo de todo o ano eleitoral. Primeiro, ao empinar, nas pesquisas, a candidatura da governadora do Maranhão Roseana Sarney, veleidade que não sobreviveu ao mês de março. Depois veio Ciro Gomes, à época no PPS, abatido depois de um bate-boca radiofônico com um eleitor. Serra, o candidato oficial. Bem que gostaria de ter um enunciado de oposição, mas estava indelevelmente marcado como o candidato do governo do PSDB, o partido do presidente FHC. Era o candidato chapa-branca, apesar da oposição que fez à equipe econômica do governo tucano.
Atualmente ocorre o contrário: todas as pesquisas registram um sentimento na população favorável à continuidade. Serra, por seu turno, dá todos os sinais a seu alcance para mostrar que ele é a melhor opção para dar seguimento ao que está acerto, ajustar desvios e mudar o que está errado. Inclusive governar com gente que está ou já esteve no governo do presidente Lula.
Conceitualmente, Serra estabeleceu os parâmetros de sua campanha de 2010 na formalização de sua pré-candidatura, no discurso-mote "O Brasil Pode Mais". Já no terceiro parágrafo Serra fez um balanço resumidos sobre os avanços ocorridos no país nos últimos 25 anos, desde a retomada do governo pelos civis. "Não foram conquistas de um só homem ou de um só governo, muito menos de um único partido".
Ou seja, Serra situou os governos FHC e Lula num mesmo processo civil que se desenvolve desde a restauração democrática. Mas também José Sarney, Itamar Franco e, porque não dizer, Fernando Collor de Mello. Para o tucano, é possível acomodar "tanto o PT como o PV no governo em função de objetivos comuns, com base no programa". Uma afirmação bonita como discurso, mas improvável na prática. Até agora, as alianças entre os dois partidos têm ocorrido mais em função de relações pessoais ou de interesses regionais localizados.
Serra sempre se gabou de ter uma bancada serrista no PT. É verdade que ele sempre teve bons amigos no partido, alguns, aliás, tucanos na origem. A passagem do tucano pelo Ministério da Saúde também foi de abertura aos segmentos à esquerda do espectro partidário, especialmente os velhos comunas do "Partidão". Serra também assumiu a prefeitura de São Paulo sem olhar para o retrovisor. Nos governos da cidade e do Estado teve - e ainda tem - colaboradores com origem no PT.
Prefeito e governador de São Paulo, o tucano manteve boas relações tanto com Antonio Palocci como com Guido Mantega. Com Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, teve conversas frequentes e secretas, inclusive quando o ministro da Fazenda estava às voltas com o caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. No portfólio de amizades tucanas do presidente Lula, os dois primeiros nomes eram Mário Covas (morto em 2002) e José Serra, muito embora o presidente não perca oportunidade para chamá-lo de "chato".
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
No primeiro debate de candidatos, José Serra disse que pretende ter o PT e o PV no governo, na hipótese de ser eleito à sucessão de Lula. O tucano, como Dilma Rousseff e Marina Silva, mostra-se incomodado com a fatalidade das alianças à direita. Já dizia isso em 2002. Mas, no momento, trata-se de um bem calculado e elaborado gesto de campanha eleitoral.
Não que falte sinceridade à "heresia" de Serra, como o próprio tucano classificou sua declaração de intenções. O que ele procura, isso sim, é não vir a ser rotulado de "candidato anti-Lula", uma péssima idéia quando o presidente em exercício apresenta um consistente índice pessoal de aprovação, sempre na faixa acima dos 70%, segundo as pesquisas de opinião.
Na prática, as pesquisas mostram que Serra, sendo candidato da oposição, não pode se comportar como se o futuro governo do PSDB fosse descontinuar o governo Lula. Algo assim como Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, à certa altura da campanha viu-se forçado a esclarecer que não faria um governo de ruptura com os oito anos de seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Na campanha de 2002, num vôo entre Belo Horizonte e Brasília, José Serra conversou longamente com seus companheiros de viagem sobre a eventualidade de aliança com o PT, na hipótese de ser eleito. Dizia que gostaria muito de governar com o PT, mas pediu sigilo para seus interlocutores, temeroso da reação de seus aliados de campanha. "O PSDB me mata", afirmava. Àquela altura sua candidatura em aliança com o PMDB ainda não ganhara todos os contornos da derrota, mas já fazia água por todos os lados.
Em 2002 a população queria mudança e deixou isso claro ao longo de todo o ano eleitoral. Primeiro, ao empinar, nas pesquisas, a candidatura da governadora do Maranhão Roseana Sarney, veleidade que não sobreviveu ao mês de março. Depois veio Ciro Gomes, à época no PPS, abatido depois de um bate-boca radiofônico com um eleitor. Serra, o candidato oficial. Bem que gostaria de ter um enunciado de oposição, mas estava indelevelmente marcado como o candidato do governo do PSDB, o partido do presidente FHC. Era o candidato chapa-branca, apesar da oposição que fez à equipe econômica do governo tucano.
Atualmente ocorre o contrário: todas as pesquisas registram um sentimento na população favorável à continuidade. Serra, por seu turno, dá todos os sinais a seu alcance para mostrar que ele é a melhor opção para dar seguimento ao que está acerto, ajustar desvios e mudar o que está errado. Inclusive governar com gente que está ou já esteve no governo do presidente Lula.
Conceitualmente, Serra estabeleceu os parâmetros de sua campanha de 2010 na formalização de sua pré-candidatura, no discurso-mote "O Brasil Pode Mais". Já no terceiro parágrafo Serra fez um balanço resumidos sobre os avanços ocorridos no país nos últimos 25 anos, desde a retomada do governo pelos civis. "Não foram conquistas de um só homem ou de um só governo, muito menos de um único partido".
Ou seja, Serra situou os governos FHC e Lula num mesmo processo civil que se desenvolve desde a restauração democrática. Mas também José Sarney, Itamar Franco e, porque não dizer, Fernando Collor de Mello. Para o tucano, é possível acomodar "tanto o PT como o PV no governo em função de objetivos comuns, com base no programa". Uma afirmação bonita como discurso, mas improvável na prática. Até agora, as alianças entre os dois partidos têm ocorrido mais em função de relações pessoais ou de interesses regionais localizados.
Serra sempre se gabou de ter uma bancada serrista no PT. É verdade que ele sempre teve bons amigos no partido, alguns, aliás, tucanos na origem. A passagem do tucano pelo Ministério da Saúde também foi de abertura aos segmentos à esquerda do espectro partidário, especialmente os velhos comunas do "Partidão". Serra também assumiu a prefeitura de São Paulo sem olhar para o retrovisor. Nos governos da cidade e do Estado teve - e ainda tem - colaboradores com origem no PT.
Prefeito e governador de São Paulo, o tucano manteve boas relações tanto com Antonio Palocci como com Guido Mantega. Com Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, teve conversas frequentes e secretas, inclusive quando o ministro da Fazenda estava às voltas com o caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. No portfólio de amizades tucanas do presidente Lula, os dois primeiros nomes eram Mário Covas (morto em 2002) e José Serra, muito embora o presidente não perca oportunidade para chamá-lo de "chato".
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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