DEU NO VALOR ECONÔMICO
O mercado financeiro se acalmou nesta segunda- feira com as medidas anunciadas no final de semana. A União Europeia anunciou a criação de um fundo de estabilização financeira de 750 bilhões. E mais importante, o Banco Central Europeu recuou de sua posição de não comprar papéis de dívida de países europeus excessivamente endividados. Passou a acompanhar as decisões dos bancos centrais dos Estados Unidos (FED), do Canadá, da Inglaterra e da Suíça de injetar liquidez para evitar a repetição de pânico financeiro que ocorreu em 2008 com a falência do Lehman Brothers.
O mercado financeiro se acalmou nesta segunda- feira com as medidas anunciadas no final de semana. A União Europeia anunciou a criação de um fundo de estabilização financeira de 750 bilhões. E mais importante, o Banco Central Europeu recuou de sua posição de não comprar papéis de dívida de países europeus excessivamente endividados. Passou a acompanhar as decisões dos bancos centrais dos Estados Unidos (FED), do Canadá, da Inglaterra e da Suíça de injetar liquidez para evitar a repetição de pânico financeiro que ocorreu em 2008 com a falência do Lehman Brothers.
Essa decisão de monetização dos títulos de dívida pública, que não depende de aprovação dos parlamentos, tem eficácia imediata e deverá acalmar o mercado financeiro por hora. No último dia 5 de Maio, a situação era tão grave que avizinhávamos uma situação similar a uma corrida bancária, em que os intermediários financeiros paralisam as operações empréstimos com corrida generalizada para ativos líquidos e considerados mais seguros, particularmente, o dólar e títulos do Tesouro Americano. Daí a decisão dos bancos centrais de intervir para evitar o pior.
Essa crise desencadeada pelos excessos de endividamento da Grécia deverá ter novos desdobramentos e não há nenhuma segurança de que as medidas anunciadas no final de semana serão suficientes para acalmar os ânimos do mercado financeiro global. É inevitável que a atual crise não tenha repercussões sobre o Brasil.
Enquanto as autoridades governamentais não enfrentarem o problema da falta de regulamentação dos mercados financeiros, novos desdobramentos serão inevitáveis.
Qualquer que seja a forma da nova regulamentação será um processo penoso para os países e instituições com alto endividamento, pois a solução passará inevitavelmente pela clássica solução do problema de endividamento que é a dupla transferência de renda interna e externa. No caso desses países, o problema será maior pois ao adotarem o euro, abriram mão da taxa de câmbio e da depreciação como mecanismo de correção dos déficits em transações correntes e da emissão de moeda para saldar a dívida pública.
A nova regulação financeira passará também pelo aumento dos requisitos de capital e de liquidez das instituições financeiras e por uma desalavancagem generalizada do sistema financeiro, isto é, num ambiente de taxa real de juros mais elevada e de menor liquidez. É neste contexto pós-crise financeira que os países e instituições devedoras terão que pagar as suas dívidas.
As decisões tomadas neste final de semana não representam uma solução para a dívida da Grécia, nem dos demais países, mas que os investidores e especuladores começaram a rejeitar estas dívidas, que até agora lhes renderam polpudas comissões e juros, provocando sua desvalorização. Para evitar um círculo vicioso de quebras financeiras estão, a partir de agora, sendo transferidas dos balanços dos bancos, das instituições financeiras e dos investidores privados, para o balanço dos bancos centrais e tesouro nacional. Ou seja, países com gestão fiscal responsável e que fizeram ajustes estruturais na sua economia tornando-a competitiva, contendo os salários reais e os preços, como a Alemanha, é que passarão a ser financiadores e detentores da maior parte das dívidas assumidas por países que se endividaram muito acima das suas possibilidades.
Que impactos a crise da Grécia terá sobre o Brasil? De imediato, já tivemos, na semana passada, um ensaio do que poderá acontecer se a crise se agravar: o canal de transmissão imediata e de maior impacto é o da conta de movimentos de capitais do exterior. Houve uma pequena parada súbita nos fluxos de capitais do exterior, com os bancos e empresas brasileiras paralisando captações no exterior. Tivemos também uma pequena saída de capitais fazendo com que as cotações da bolsa de valores tivessem quedas.
Obviamente o real sofreu uma depreciação. É esse o canal que tem desestabilizado periodicamente a economia brasileira a partir do início dos anos 90 quando a conta movimento de capitais foi liberalizada. Mesmo que a economia brasileira esteja com as contas públicas em ordem, tenha reservas cambiais, e pratique uma política monetária conservadora, os reflexos de uma parada súbita nos fluxos de capitais podem ter consequências dolorosas.
Basta lembrar que no terceiro trimestre de 2008, com a parada no fluxo de capitais, levou a uma reação muito forte de contração doméstica de crédito pelos bancos que fez com que uma economia que vinha crescendo a mais de 6% a.a., despencasse para -0,2% a.a. Em 1999 sofremos recessão econômica similar quando tivemos uma típica crise cambial, mas, diferentemente de 2008, tínhamos endividamento público e externo crescentes. Em 1997, com a crise da Ásia; em 2000/2001, com a crise do NASDAQ, da Argentina e Turquia, sofremos parada súbita por contágio. O fluxo de entrada e saída de capitais e as taxas de câmbio flexíveis são, na verdade, os canais de transmissão através dos quais crises financeiras repercutem na atividade econômica e na inflação no Brasil. É hora de aprender com os fatos.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia da - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.
Essa crise desencadeada pelos excessos de endividamento da Grécia deverá ter novos desdobramentos e não há nenhuma segurança de que as medidas anunciadas no final de semana serão suficientes para acalmar os ânimos do mercado financeiro global. É inevitável que a atual crise não tenha repercussões sobre o Brasil.
Enquanto as autoridades governamentais não enfrentarem o problema da falta de regulamentação dos mercados financeiros, novos desdobramentos serão inevitáveis.
Qualquer que seja a forma da nova regulamentação será um processo penoso para os países e instituições com alto endividamento, pois a solução passará inevitavelmente pela clássica solução do problema de endividamento que é a dupla transferência de renda interna e externa. No caso desses países, o problema será maior pois ao adotarem o euro, abriram mão da taxa de câmbio e da depreciação como mecanismo de correção dos déficits em transações correntes e da emissão de moeda para saldar a dívida pública.
A nova regulação financeira passará também pelo aumento dos requisitos de capital e de liquidez das instituições financeiras e por uma desalavancagem generalizada do sistema financeiro, isto é, num ambiente de taxa real de juros mais elevada e de menor liquidez. É neste contexto pós-crise financeira que os países e instituições devedoras terão que pagar as suas dívidas.
As decisões tomadas neste final de semana não representam uma solução para a dívida da Grécia, nem dos demais países, mas que os investidores e especuladores começaram a rejeitar estas dívidas, que até agora lhes renderam polpudas comissões e juros, provocando sua desvalorização. Para evitar um círculo vicioso de quebras financeiras estão, a partir de agora, sendo transferidas dos balanços dos bancos, das instituições financeiras e dos investidores privados, para o balanço dos bancos centrais e tesouro nacional. Ou seja, países com gestão fiscal responsável e que fizeram ajustes estruturais na sua economia tornando-a competitiva, contendo os salários reais e os preços, como a Alemanha, é que passarão a ser financiadores e detentores da maior parte das dívidas assumidas por países que se endividaram muito acima das suas possibilidades.
Que impactos a crise da Grécia terá sobre o Brasil? De imediato, já tivemos, na semana passada, um ensaio do que poderá acontecer se a crise se agravar: o canal de transmissão imediata e de maior impacto é o da conta de movimentos de capitais do exterior. Houve uma pequena parada súbita nos fluxos de capitais do exterior, com os bancos e empresas brasileiras paralisando captações no exterior. Tivemos também uma pequena saída de capitais fazendo com que as cotações da bolsa de valores tivessem quedas.
Obviamente o real sofreu uma depreciação. É esse o canal que tem desestabilizado periodicamente a economia brasileira a partir do início dos anos 90 quando a conta movimento de capitais foi liberalizada. Mesmo que a economia brasileira esteja com as contas públicas em ordem, tenha reservas cambiais, e pratique uma política monetária conservadora, os reflexos de uma parada súbita nos fluxos de capitais podem ter consequências dolorosas.
Basta lembrar que no terceiro trimestre de 2008, com a parada no fluxo de capitais, levou a uma reação muito forte de contração doméstica de crédito pelos bancos que fez com que uma economia que vinha crescendo a mais de 6% a.a., despencasse para -0,2% a.a. Em 1999 sofremos recessão econômica similar quando tivemos uma típica crise cambial, mas, diferentemente de 2008, tínhamos endividamento público e externo crescentes. Em 1997, com a crise da Ásia; em 2000/2001, com a crise do NASDAQ, da Argentina e Turquia, sofremos parada súbita por contágio. O fluxo de entrada e saída de capitais e as taxas de câmbio flexíveis são, na verdade, os canais de transmissão através dos quais crises financeiras repercutem na atividade econômica e na inflação no Brasil. É hora de aprender com os fatos.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia da - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.
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