A Europa inteira reage à crise indo da esquerda para a direita, como na Espanha, em Portugal e na Grécia, mas a França deu um cavalo de pau e elegeu François Hollande, reconduzindo os socialistas ao poder depois de 17 anos de ausência e arejando o "modelo único" conduzido pela Alemanha.
Em Brasília, a vitória de Hollande foi comemorada, mas com a discrição que a diplomacia exige. O Brasil e a França de Nicolas Sarkozy estiveram muito próximos no início do governo Lula, nem tanto no final. Agora deve haver uma espécie de reaproximação, pelo menos uma facilidade maior de diálogo.
O socialista Hollande tem muito mais a ver com a história, o discurso e o modelo de Dilma. Na campanha, ele defendeu uma receita para a crise muito próxima à que Dilma defende mundo afora. Em vez de cortes, como determinam os alemães e as velhas cartilhas, o contrário: desenvolvimento, investimento, emprego, inclusão social (se ele vai conseguir, são outros 500).
Assim, fica mais fácil para Hollande e Dilma, ou França e Brasil, jogarem no mesmo time em campos como G20 e Rio+20. Os diplomatas, aliás, sonham com a hipótese de Hollande vir para a conferência, que não terá nem Obama nem Merkel.
O novo presidente, porém, não terá vida fácil no poder, sobretudo no começo. Do ponto de vista externo, a Europa está muito atrelada à Alemanha. Do interno, ainda faltam as eleições parlamentares de junho.
Os socialistas de Hollande correm o risco de ficar em minoria, o que, em última instância, pode forçar a um governo de "coabitação": o presidente de esquerda, o primeiro-ministro de direita. Obviamente, não é simples, ainda mais em tempos de crise e depois da longa abstinência de poder dos socialistas. E ainda falta saber o real tamanho e o fôlego da extrema direita dos Le Pen.
PS - Dilma já pode decidir sobre os caças, seja pelos franceses ou não.
Fonte: Folha de S. Paulo
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