Executivos de vários setores dizem que adiaram planos de expansão para o fim do ano -se a crise lá fora parar
Executivos de médias e grandes empresas esperavam retomar investimentos e contratações neste segundo trimestre. Para tanto, esperavam também sentir melhoras no ambiente econômico doméstico e ver movimentações na concorrência -sim, de outras empresas do ramo.
Alguns ainda contavam com a retomada do ânimo de clientes estrangeiros. Por fim, acreditavam que os bancos relaxariam a concessão de crédito, pelo menos neste maio.
Viram pouco ou quase nada do que esperavam, é o que se depreende de uma rodada de conversas com associações empresariais e empresas da área de máquinas, química, venda de veículos, máquinas agrícolas, material de construção civil e incorporadoras de imóveis.
Em vez de iniciar agora o plano de expansão para o ano, alguns setores adiaram tais providências para o quarto trimestre.
É comum ouvir desses executivos que a decisão de "esperar para ver" fora tomada mesmo antes do retorno da crise europeia. O temor de tumulto maior apenas ratificou a retranca. Os executivos reclamam de alta de custos aqui dentro, preços ruins lá fora e crédito ainda difícil.
Os mais dados à exportação dizem que apenas vão saber se o câmbio vai ajudar se o real continuar desvalorizado mais ou menos no patamar atual (uns R$ 2,02) até o fim do ano, e se "a coisa lá fora não ficar pior". Quem depende de insumos e peças importadas, porém, já reclama que a "margem [de lucro] vai para o beleléu com esse câmbio, salário alto, energia cara etc."
Quem vive de vender bens mais caros para o cliente doméstico diz que o consumidor "que pode não quer; o que quer não pode". Os primeiros estão cautelosos ou já se abasteceram de bens duráveis nos anos de bom crescimento; os segundos têm dificuldade com o crédito.
Sim, trata-se apenas de intuições, "evidências anedóticas", impressões no entanto confirmadas pelos indicadores estatísticos do marasmo do investimento privado pelo menos até abril, pelas vendas fracas de carros, pela redução forte do ritmo de venda de imóveis.
Obviamente o governo está ouvindo essa mesma conversa.
Mesmo economistas de banco e de consultorias, os "analistas de mercado", estão ouvindo tais coisas das empresas e da área operacional dos próprios bancos em que trabalham. Tanto que de um mês para cá mudou o tom da turma em relação à política monetária do Banco Central: sobre a taxa de juros.
De críticos agressivos, alguns desses economistas passaram a quase tolerantes adeptos da Selic a menos de 8% (está em 9% e faz um mês vários diziam que era irresponsável chegar a 8,75%).
O governo pretende evitar a extensão do desânimo. Por isso baixou imposto de carros e facilitou o crédito. Quer evitar que o marasmo das montadoras redunde em demissões e quebras nos setores conexos.
Muito mais não pode fazer, a não ser esperar o efeito da queda da Selic, que virá, do aumento do gasto público, que está vindo, e do câmbio, que vai demorar um pouco a vir. "Virá" não se sabe bem quando, a depender do clima no exterior, embora estejamos nós, no Brasil, bem longe de mergulharmos em crise.
Mas, já não bastasse a leseira do início do ano, o medo de colapso europeu vai estender a paradeira até agosto, na melhor das hipóteses.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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