Com o fico de Serra, o PSDB evita o risco de perder a posição de principal alternativa de poder ao PT, que viria com a divisão dos votos tucanos em São Paulo
O jogo para a sucessão presidencial alcançará seu ponto mais claro a partir da semana em curso. Com o "fico" do ex-governador José Serra ao PSDB, o senador Aécio Neves (MG) não apenas avançou na construção da própria candidatura. Mais que isso, evitou a divisão dos votos tucanos e o risco de perder a posição de principal antagonista do PT, ocupada pelo PSDB desde que o país ingressou no regime eleitoral bipolar, em 1994. Hoje, o TSE decidirá sobre a validade das assinaturas não certificadas de apoio à criação da Rede Sustentabilidade de Marina Silva. São fortes as indicações de que o pedido de registro nessas condições será negado e de que haverá um recurso ao Supremo. Mesmo sem a Rede, só no sábado ficará claro se Marina concorrerá por outro partido, como o PEN ou o PPS. Ela nega a hipótese, mas será pressionada a não frustrar seus eleitores.
Se Marina ficar fora da disputa, a presidente Dilma Rousseff enfrentará apenas dois adversários hoje competitivos, Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também já fez seu jogo, empurrando para fora do PSB os que resistiam à sua candidatura, como o núcleo cearense dos irmãos Gomes e o grupo fluminense liderado pelo prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso. Para Aécio e Campos, será uma perda. Marina, a segunda colocada nas pesquisas, ajudaria a garantir o segundo turno, embora a presidente Dilma, hoje, não tenha potencial eleitoral para ganhar no primeiro. Há entre petistas e governistas quem veja na ausência de Marina o quadro ideal para a presidente. Ela ficaria livre do emblema do "novo", poderia herdar parte dos votos marinistas e se sentiria mais à vontade para enfrentar Aécio na segunda posição. Há entre eles, porém, os que já pensam o contrário: que num inevitável segundo turno a disputa com Marina seria mais confortável e segura. Na escolha final e decisiva, o eleitor pensaria duas vezes antes de interromper o governo que aí está, mesmo contrariado com isso ou aquilo, para entregá-lo a uma candidata de muitas virtudes, mas desprovida de um partido ou de aliados que garantam a governabilidade, bem como de projeto claro para outras demandas do país, afora a questão da ética na política e do desenvolvimento sustentável, pilares de seu discurso atual. Mas tais considerações, nesta altura, são inócuas. O TSE e o STF é que julgarão o destino da Rede, apesar das torcidas em um sentido e outro, e só Marina decidirá sobre a filiação a outra sigla, em caso de fracasso de seu projeto partidário.
Paz tucana
A união tucana, com a permanência de Serra no partido, foi um passo importante não apenas para Aécio como candidato, mas para o PSDB como principal alternativa de poder ao PT. Se Serra deixasse o partido para ser candidato pelo PPS, levaria pelo menos a maior parte dos votos tucanos no estado de São Paulo, que, somados aos de Minas, devem constituir a base eleitoral mais forte da candidatura de Aécio. Serra anunciou o "fico" com uma declaração forte, de que ficava para ajudar a derrotar o governo do PT, que hoje "compromete o presente e ameaça o futuro". Aécio confirmou o acordo com uma chuva de elogios ao companheiro. Mas há uma sombra ainda sobre a paz tucana, que diz respeito à escolha oficial do candidato, adiada para o ano que vem, segundo o próprio Aécio. Os parlamentares ligados a Serra insistiam ontem que a realização de prévias não foi descartada no acordo que garantiu o "fico". Os aecistas diziam, por seu lado, que Serra tomou sua decisão conhecendo a realidade do partido, em que a candidatura de Aécio desfruta de maioria avassaladora. Ainda que não tente atropelar Aécio, Serra se colocará como alternativa até o último momento, para o caso de tropeço ou inviabilidade do mineiro. Por fim, se quiser ser candidato ao Senado, terá que enfrentar a postulação do deputado e secretário José Aníbal, e o risco de uma disputa com o petista Eduardo Suplicy. Por tudo isso, alguns tucanos já defendem que ele seja candidato a deputado federal, ajudando a puxar votos para a ampliação da bancada.
Guerras de Pernambuco
Talvez em nenhum estado a agitação pré-eleitoral seja tão grande quanto em Pernambuco. Começo porém registrando esclarecimentos do senador petista Humberto Costa a respeito do que disse o ex-presidente Lula em sua entrevista publicada pelo Estado de Minas no domingo. Falando sobre a dificuldade de convencer alguém a não ser candidato em nome das alianças, Lula recordou encontro que teve com Humberto em janeiro de 2012, no qual o aconselhou a não disputar a Prefeitura do Recife, concluindo que foi inútil. Costa acabou derrotado pelo candidato de Eduardo Campos, Geraldo Julio, disputa que contribuiu para azedar a relação PT-PSB. O senador esclarece que ouviu mesmo esse conselho quando, em companhia do senador Jorge Viana, visitou o convalescente ex-presidente. "Desisti mas, meses depois, o partido enfrentou problemas internos e acabou anulando as prévias que foram disputadas por Maurício Rands e o ex-prefeito João da Costa. Em busca de uma alternativa pacificadora, a direção nacional do PT fez um apelo para que eu fosse candidato. Todos os ex-presidentes do partido, inclusive Lula, foram consultados e concordaram. De modo que não fui candidato de mim mesmo ou de minha ambição", diz o senador. Endossando a versão do senador, a assessoria do ex-presidente admite que ele contou apenas a primeira parte da história.
Fonte: Correio Braziliense
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