Em contraponto à festa, do lado de fora, a polícia reprimiu com violência a manifestação contra os gastos com a Copa do Mundo. No confronto, 24 pessoas ficaram feridas e outras 30 foram detidas. Militantes acusaram a PM de abuso de força.
Brasília festeja, mas também protesta
A capital se vestiu de verde e amarelo para receber o primeiro jogo da competição, pontapé inicial para o Mundial 2014. A cidade passou no teste, mas 2,5 mil pessoas se manifestaram contra a realização do evento
Helena Mader
O Eixo Monumental se coloriu de verde, amarelo, azul e branco. Torcedores foram para o estádio em clima de festa e paz, mas um grupo de manifestantes também aproveitou para protestar e acabou se envolvendo em conflito com a PM
Antes do jogo, manifestantes chegaram muito perto do Estádio Nacional Mané Garrincha: do lado de fora, bombas durante a cerimônia de abertura
Vestidos de verde e amarelo ou com roupas de protesto, gritando gol ou bradando palavras de ordem. No estádio, nos bares, nas ruas, presos no trânsito, ou em meio a manifestações. Nenhum brasiliense ficou alheio ao maior evento esportivo já realizado na capital federal. Seis anos após o anúncio de que o país sediaria a grande festa do futebol, a cidade saiu da rotina para receber a Seleção Brasileira. O clima, entretanto, não foi só de torcida e comemoração. Manifestantes se mobilizaram desde cedo para protestar contra o evento e, em vários momentos, entraram em confronto com a polícia. O saldo foi de oito feridos, 30 detidos e centenas de pessoas amedrontadas pela confusão. Até o início da partida entre Japão e Brasil, a tropa de choque da PM e a Força Nacional controlaram os manifestantes e evitaram invasões no local da partida — muitas vezes com violência.
Dentro do estádio, o ambiente era só de alegria. Crianças, grávidas, jovens, idosos, famílias inteira, estrangeiros, muitos assistindo a uma partida da Seleção pela primeira vez, comemoraram juntos a goleada do Brasil em clima de paz. Ao todo, mais de 67 mil pessoas encheram as arquibancadas da arena. O acesso ao Estádio Nacional Mané Garrincha foi tranquilo e os torcedores conseguiram chegar ao local sem percalços. Com a divulgação prévia do esquema de trânsito, os brasilienses já sabiam com antecedência onde estacionar e como funcionariam o transporte público. Muitos motoristas pararam os carros no Parque da Cidade, de onde ônibus gratuitos levavam e traziam os torcedores. O tráfego ficou complicado em toda a área central da cidade por conta do fechamento de vias. Quem insistiu em driblar o esquema de segurança acabou a pé ou saiu no prejuízo: o Detran guinchou 31 carros e multou outros 40.
O acupunturista José Elias Falchione, 53 anos, estacionou na Rodoviária e, de lá, caminhou até o estádio. O morador do Riacho Fundo elogiou o esquema organizado para o jogo. "Não tive problemas para chegar. Vim comemorando com pessoas de outras cidades, o clima pré-jogo estava muito animado", afirmou Falchione. Moradores de outros estados também ficaram satisfeitos com a organização do evento. O estudante carioca Venâncio Loureiro, 33 anos, veio do Rio de Janeiro para Brasília com um grupo de amigos. "Gostamos tanto que planejamos voltar para ver os jogos da Copa do Mundo no ano que vem."
O governador Agnelo Queiroz, que assistiu à partida no camarote das autoridades, ao lado da presidente Dilma Rousseff, comemorou o resultado da partida e desabafou: "O Mané Garrincha não deixa a desejar a nenhum estádio do mundo. É uma vitória contra os pessimistas que torciam para não dar certo". Para Agnelo, nem as manifestações e os episódios de confrontos tiraram o brilho da festa. "Tudo deu certo. Até as manifestações fazem parte. Todo grande evento mundial atrai manifestações, mesmo como essas que ocorreram, sem uma bandeira específica, apenas para tumultuar e tentar atrapalhar. O importante é que a polícia soube reprimir os excessos, proteger os torcedores de forma altiva e correta."
Tumulto
Os protestos começaram muito antes de a bola rolar. Às 9h, já havia grupos organizados na Rodoviária. No início da tarde, 2,5 mil brasilienses estavam reunidos para reclamar da realização da Copa na cidade. Em uníssono, pediam para que os manifestantes não agissem com violência. Mas a dispersão deles foi feita de forma dura pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. Além de balas de borracha, os PMs recorreram a bombas de gás lacrimogêneo. Comandantes da operação negaram as acusações de que a ação foi violenta e alegaram apenas terem respondido de forma enérgica aos protestos porque teria havido tentativas de invasão no estádio. "Foi preciso usar a força. Nós prendemos alguns manifestantes por desacato, outros por resistência", explicou o capitão Alessandro Arantes, da PM.
Entre os feridos, o caso que mais chamou a atenção foi o da estudante Isadora Cristina Riberio de Alencar, 18 anos. A jovem levou nove pontos na nuca após ser atingida por uma bala de borracha. "Depois do que aconteceu em São Paulo, não imaginei que a polícia reagiria com tanta violência", disse. Até o fechamento desta edição, às 21h, o clima ainda era tenso em frente à 5ª DP. Manifestantes ocupavam as ruas próximas.
Fonte: Correio Braziliense
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