domingo, 16 de junho de 2013

Junto e misturado - Tereza Cruvinel

Com a desenvoltura de candidato mais bem-sucedido na oposição, o senador tucano Aécio Neves visitará o governador Eduardo Campos, no dia 22, atento às mágoas do socialista e pensando no segundo turno

A semana se encerrou com uma vaga perplexidade nacional diante da violência nos protestos contra aumentos de passagens. Em São Paulo, onde a fronteira da barbárie esteve mais próxima, os jovens de classe média sentiram a mão pesada da polícia. Se na Avenida Paulista houve tudo aquilo, com a imprensa presente e sobrando pancada para jornalistas, imagine em Capão Redondo e em outros burgos pobres da periferia. Já sabemos que a polícia brasileira apenas direcionou para os mais pobres, depois da redemocratização, a truculência histórica que se intensificou na ditadura. O que gerou perplexidade foi a falta de uma explicação óbvia, daquelas que cabem numa só frase, com sujeito e predicado. Não pode haver apenas uma explicação quando há tanta coisa junta e misturada.

No caldeirão dessa fervura, destaca-se como tempero o velho hábito do Estado brasileiro de enfrentar as questões sociais à bala, a cassetete e gás lacrimogênio — Canudos e Araguaia são pontos fortes dentro dessa curva. Nestes últimos anos, de aumento da renda e do consumo, os protestos de qualquer natureza saíram de cena, e a volta deles, numa roupagem nova, surpreendeu as autoridades, desconcertadas também pela nova roupagem que adquiriram. Houve certo "expontaneísmo" nas manifestações, algo que tem ocorrido em todo o mundo, graças à internet e às mídias sociais. A grande estreia foi na Primavera Árabe (2010-2011), quando multidões mobilizadas pelos novos meios derrubaram os presidentes da Tunísia e do Egito. Mas há evidências, como a presença de faixas e de cartazes, de que a internet não fez tudo sozinha. Além do Movimento Passe Livre, ou por meio dele, grupos de ultraesquerda certamente atuaram, ocupando o espaço que, no passado, foi do PT. Possivelmente foi essa "massa" mais organizada que recuou diante do bloqueio da Rua da Consolação, enquanto uma parte menor da passeata investiu, deparando-se com a pancadaria iniciada pela própria polícia, que teria até se infiltrado entre os manifestantes, como fazia na ditadura.

De onde surgiram esses "voluntaristas" — adjetivação negativa em parte da esquerda —, que responderam com vandalismo ao desatino policial? Devem ser filhos da classe média emergente, que começa a sentir uma fisgada no bolso diante da visita da inflação. São jovens mais afortunados que os de Capão Redondo, que morrem como moscas, nas refregas com o tráfico ou a polícia. Tiveram mais acesso à educação e aos bens de consumo, como o computador. E estão experimentado, alguns pela via equivocada do vandalismo, as vibrações da cidadania. Os protestos e as reivindicações fazem bem à democracia. Cabe ao poder público saber lidar com eles, fixando as fronteiras entre a liberdade de protestar e a garantia de segurança a todos. Imagine se a polícia paulista agisse na Esplanada, onde há quase um protesto por dia? Quase sempre eles encontram uma porta aberta para o diálogo, seja no Congresso ou nos governos, em todos eles, na atual era democrática. A falta desses canais em São Paulo contribuiu para a radicalização que levou o Brasil às manchetes negativas mundo afora. Ontem começou, com o jogo Brasil x Japão em Brasília, a Copa das Confederações. Se o bom senso não se impor, acabaremos exibindo aos turistas estrangeiros, ao vivo, as cenas de barbárie da semana passada.

Feridos

O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e o prefeito Fernando Haddad, do PT, entraram na história falando a mesma língua: recusando qualquer negociação e defendendo a repressão. Depois da selvageria de quinta-feira à noite em São Paulo, Haddad e o PT trataram de se descolar da ação policial, que o governador continuou defendendo. Haddad vai receber o Movimento Passe Livre na terça-feira e tentará explicar a composição da tarifa. Anunciará o Bilhete Único Mensal, que pretende implantar em novembro. O PT municipal soltou nota em defesa do movimento, "que não pode ser criminalizado" por causa do vandalismo de alguns. Mas, eleitoralmente, o jogo parece ter soma zero: a inflação é federal; a polícia, estadual; e a tarifa, municipal. E, como Dilma não tem o que oferecer, porque já zerou os impostos federais do setor, dificilmente Haddad, o novo, se livrará do epíteto de "Maldad" visto nos cartazes.

Ação e cautela

A ordem no quartel tucano foi evitar fogos e saltitos pelo fato de Aécio Neves ter sido o único presidenciável a crescer nas pesquisas, de março para cá (de 10% para 14%, segundo o Datafolha). A convicção interna, porém, é a de que ele fincou bandeira como principal adversário de Dilma na disputa de 2014, percepção que também já é registrada nos círculos governistas. É com a desenvoltura que essa condição lhe proporciona que Aécio visitará o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, no Recife, no dia 22. Campos estagnou nas pesquisas, mas estaria crescendo a mágoa com os movimentos do campo dilmista para inviabilizar sua candidatura, minando apoios no próprio PSB. Fora do páreo, mas ressentido, ele poderá cruzar o rubicão num eventual segundo turno, apostam os tucanos.

Só em agosto, Aécio começará seu giro pelo país como presidente do PSDB, mas, até lá, continuará surfando as palpitações da economia. Na terça-feira, 18, o partido baterá um bumbo no Congresso para uma tríplice celebração: os 25 anos de fundação do PSDB, os 19 anos de lançamento do Plano Real e o aniversário do ex-presidente Fernando Henrique, que, no dia, completará 82 anos. Ele, é claro, estará presente. As trajetórias do PSDB e do Real serão mostradas com exposição montada no mesmo corredor onde, em março, o PT apresentou em imagens a história de seus 10 anos no poder.

Fonte: Estado de Minas

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