Raymundo Costa, Andrea Jubé e Guilherme Serodio – Valor Econômico
BRASÍLIA e RIO - A campanha da presidente Dilma Rousseff desencadeou ontem uma ofensiva para conter o avanço da candidata do PSB, Marina Silva, nas pesquisas e assegurar que o PT estará no segundo turno da eleição, seja o adversário Marina, como indicam as últimas sondagens de opinião, ou o senador Aécio Neves, candidato do PSDB, que caiu do segundo para o terceiro lugar. No comitê de Dilma discute-se, inclusive, a possibilidade de a presidente fazer acenos mais claros ao mercado sobre o que pretende fazer em relação à economia, em novo mandato, algo que ela resistia fazer, até agora.
Numa frente dessa ofensiva, a presidente convocou para o final da tarde de ontem uma entrevista coletiva, no Palácio da Alvorada, entre outras coisas para esclarecer aspectos sobre a segurança pública que pretendia abordar no debate entre os candidatos promovido pela TV Bandeirantes, mas sobre os quais não teve oportunidade de falar - a presidente esperava por uma tréplica que não veio e deixou no ar uma resposta sobre o assunto. Em outra frente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer uma incursão ao Nordeste, ainda nesta semana, a fim de preservar o capital político do PT na região.
A viagem é simbólica: Lula irá a Juazeiro, na Bahia, e a Petrolina, em Pernambuco, e na quinta-feira se encontra com a presidente Dilma Rousseff no Recife, capital de Pernambuco, o berço político do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no último dia 13. Lula e Dilma farão campanha para os candidatos ao governo do Estado, Armando Monteiro (PTB), e ao Senado, o ex-prefeito da capital João Paulo (PT). Não está prevista nenhuma visita aos familiares de Campos.
Enquanto isso, a cúpula da campanha estuda como desconstruir Marina, uma candidatura em ascensão a pouco mais de um mês da eleição. A ideia era esperar para ver como Marina se sairia ontem à noite na entrevista ao "Jornal Nacional", um público de 40 milhões de brasileiros, e como ela se comporta na pesquisa Datafolha a ser divulgada neste fim de semana. O PT esperava que Aécio atacasse Marina, mas já armazena munição.
A linha da desconstrução deve atacar a "auréola de pureza" que envolve a candidata, o questionamento de sua capacidade administrativa - esperava-se que Dilma, no debate, dissesse que ela não conseguiu gerenciar nem a criação de seu próprio partido -, desmontar a ideia de que Marina não é da "velha política", pois ela já está em sua quinta legenda e dizer que a eleição da candidata do PSB, um partido pequeno, significa "ingovernabilidade". Com o cuidado de não mencionar o ex-presidente Fernando Collor, que hoje é seu aliado. Além disso, a passagem de Marina pelo PV e pelo Ministério do Meio Ambiente está sendo escrutinada pelo PT.
A linha adotada no debate da Bandeirantes era tentar manter a polarização com Aécio Neves e não tratar Marina como a principal adversária. Isso será revisto. A percepção é que a superexposição da ex-ministra do Meio Ambiente, somada ao clamor pela morte trágica de Eduardo Campos, impulsionaram a adversária nas pesquisas.
"Já falei que não comento pesquisas, nem quando sobe, nem quando desce, nem quando estaciona", disse a presidente Dilma, na entrevista concedida ontem. "Numa campanha eleitoral você tem de ver a conjuntura, estamos no início da eleição, muita coisa vai rolar por debaixo dessa ponte, pra que lado a água vai".
Petistas que integram o primeiro escalão comandaram uma ampla reunião de emergência com militantes e servidores do governo federal, na noite de quarta-feira, no comitê central da campanha em Brasília. O clima era de perplexidade com a ascensão de Marina nas pesquisas. Os militantes foram convocados a "descer do salto alto" e sair às ruas para pedir votos. A reunião foi conduzida pelo secretário-executivo do Ministério da Previdência Social, Carlos Gabas - um dos auxiliares mais próximos de Dilma - e contou com a participação do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. O recado foi dirigido às centenas de ocupantes de cargos de confiança no governo, como secretários-executivos, secretários de ministérios e chefes de gabinete, entre outros.
Segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, Carvalho voltou a afirmar que a insatisfação da população brasileira com o PT não parte, exclusivamente, das classes A e B ou dos jovens que saíram às ruas pedindo mudanças em junho do ano passado. O secretário-geral afirmou que essa insatisfação parte, inclusive, de beneficiados de programas sociais do governo, como Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Para Carvalho os sinais apontam para "fadiga de material" em relação ao PT.
Dilma também deve conceder mais entrevistas coletivas para assegurar espaço diário nos telejornais. Também intensificar as viagens. Ontem ela visitou um restaurante popular em Bangu, zona oeste do Rio, ao lado do ex-governador Anthony Garotinho (PR), candidato bem posicionado nas pesquisas ao governo do Estado. Dilma almoçou ao lado de Garotinho e sua esposa, a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), e comeu abóbora com arroz, feijão e frango.
Na entrevista que concedeu no Alvorada, Dilma anunciou que pretende tornar permanente o modelo de segurança pública adotado na Copa do Mundo, que envolve a ação conjunta das polícias federal e estaduais, abrigadas em Centros de Comando e Controle. "Vamos replicar o modelo que deu certo na Copa, compartilhar uma ação conjunta de segurança de forma objetiva", disse a presidente.
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