Uma outra campanha eleitoral começou quando Marina Silva assumiu a candidatura pelo PSB. A pesquisa de intenção de votos do Ibope divulgada anteontem mostrou que o terreno continua movediço para seus principais rivais, a presidente Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves, mas parece ainda plano para a arrancada da ex-ministra do Meio Ambiente. Em primeiro turno, ela abriu vantagem de 10 pontos percentuais sobre Aécio (29% a 19%) e chegou a 5 pontos de Dilma, que caiu para 34%. Marina colheu votos nos dois terrenos adversários e, mais importante, os números indicam que ela atraiu votos da "oposição de junho", que tanto Eduardo Campos quanto Aécio não foram capazes de cativar.
No primeiro debate entre os candidatos, feito pela TV Bandeirantes, Marina, em sua primeira pergunta, feita à presidente Dilma, cobrou exatamente o que tinha sido realizado para atender as reivindicações das ruas em 2013. Com a bandeira da renovação na política em primeiro plano, que tem tudo para empolgar vastas camadas do eleitorado, a candidata do PSB projeta-se com força como principal figura de oposição à Dilma com chances reais de capturar o poder - teria 45% de votos no segundo turno, ante 36% da presidente, segundo o Ibope.
Nada, porém, está assegurado e o debate entre os candidatos mostrou-se surpreendentemente equilibrado para garantir a ascensão ou queda entre os três principais concorrentes. Dilma, Marina e Aécio colocaram suas cartas na mesa, o que contribui muito para um debate esclarecedor. O PSDB deixou de "esconder" o legado de Fernando Henrique Cardoso, que Aécio colocou em honroso lugar. Marina Silva reverenciou a estabilização econômica conseguida por Fernando Henrique e a bem sucedida inclusão social promovida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Alvo principal dos ataques de todos os candidatos, a presidente Dilma Rousseff mostrou segurança, comedimento e capacidade de comunicação que frequentemente lhe fazem falta em eventos públicos. Não houve vencedores nem perdedores entre eles.
Com o segundo turno tornando-se uma fatalidade, PT e PSDB têm de se deparar com a indigesta questão de se, a apenas 40 dias da eleição, há tempo hábil para que a "onda" Marina perca força e a candidata seja "desconstruída". Os tucanos avaliam que uma das forças propulsoras do bom desempenho de Marina nas pesquisas é a comoção com a morte de Eduardo Campos, que é necessariamente passageira. Outros analistas acreditam que Marina perderá pelo caminho parte de sua atração, por motivos simetricamente opostos. Isto é, seja por não ter um partido forte e coeso à altura das propostas de renovação política que faz, seja porque já começou a buscar compromissos exatamente para suprir essa lacuna e disputar o poder.
Não ter partido enraizado e forte é, porém, um problema para governar, não para se eleger. No primeiro pleito da volta da democracia brasileira, Fernando Collor e seu desconhecido PRN foram vitoriosos - há similitude de condições, não, claramente, de proposições.
As propostas principais de Marina confluem para mudar o cenário político, enquanto que, no campo da economia, aproxima-se dos tucanos no discurso. Ela não é um alvo fácil. Ocupa uma posição algo cômoda de apontar aos eleitores que, entre tucanos e petistas, ficará com o melhor dos dois - uma concepção importante, mas que pode parecer irreal. Isso lhe dá facilidade para criticar ambos e se preservar de ataques. De seu lado, tem a temer as próprias contradições. Não é a menor delas a distância que existe entre sua ideia matriz de acabar com o "toma lá dá cá" da política brasileira sem uma base razoável de parlamentares no Congresso.
Esse lado "sonhático" é sua força e sua fraqueza. É uma louvável candidatura de boas ideias, que precisarão, no entanto, se encarnar em homens e quadros em qualidade e quantidade que ainda não se veem. Como administradora, Marina é um enigma que pode afugentar eleitores que não querem mudanças a qualquer preço e não se dispõem a pagar o preço do noviciado, que costuma ser alto.
Aécio Neves terá agora de se mexer para chegar ao segundo turno. O tucano estava em situação confortável quando Eduardo Campos precisava dele se diferenciar no campo da oposição. Com propostas econômicas similares no essencial às de Marina, agora é ele que necessita demarcar claramente sua identidade.
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