• Dilma e Aécio não atacaram Marina na proporção do perigo que a candidata do PSB representa para eles. Mas isso deve mudar na propaganda eleitoral e internet
Sempre informados, por serviços especiais de monitoramento, do humor dos eleitores, os principais candidatos à Presidência da República certamente já tinham conhecimento de que participariam do primeiro debate da campanha, na TV Bandeirantes, na noite de terça, em meio à repercussão do elástico salto de Marina Silva em pesquisa do Ibope.
Ele foi de 20 pontos, além dos nove que acumulou Eduardo Campos, de quem era vice e herdou a cabeça de chapa do PSB. Com isso, Marina ultrapassou Aécio Neves (PSDB) — este com uma queda de 23% para 19% — e se aproximou de Dilma, também atingida pela ventania que varreu as eleições com a morte do ex-governador de Pernambuco em desastre aéreo — uma retração de 38% para 34%. Foi além e, na simulação de segundo turno, venceu a presidente candidata à reeleição por 45% a 36%.
Como se previa, os dois candidatos que podem repetir o velho embate entre tucanos e petistas na briga foram os mais atingidos. Mas nem todos apostavam num impacto tão grande. Por tudo isso, chamou a atenção como Dilma e Aécio não atacaram Marina na proporção do perigo que a candidata do PSB representa para os dois. É como se, na essência, mantivessem a estratégia usada quando Eduardo Campos ainda era candidato.
Marina Silva procura compensar o fato de não ter partido próprio — é hóspede do PSB —, nem qualquer maior aliança sob ela, com o discurso do novo, de ser a alternativa ao duelo dos últimos 20 anos entre petistas e tucanos. Assim, se sintoniza com os 70% que desejam mudanças.
Já Dilma se assenta no fato de acumular quatro anos de experiência no Planalto, mas, em compensação, pouco tem a mostrar no front da economia. Pior, seu balanço é negativo (inflação, crescimento baixo). Precisa se valer dos tempos de Lula. Mesmo nos empregos, trunfo até agora da campanha petista, Dilma torce para que não haja tempo, até outubro, de a tendência de cortes de postos de trabalho subir aos palanques. Outra dificuldade de Dilma é ser omissa no que pensa sobre o futuro da economia. Explica-se: para prometer mudanças de forma clara, ela teria de fazer autocrítica, um tiro no pé.
Aécio Neves avançou, nesse campo, ao confirmar formalmente Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda. Basta, agora, consultar as incontáveis entrevistas de Armínio, recentes ou não, para saber o que ele pensa. E recuperar sua atuação no Banco Central, em 1999, quando ajudou FH a estabilizar a economia, na saída atabalhoada da política de câmbio semifixo.
Mas apenas recorrer aos seus governos em Minas não deverá ser suficiente para recuperar espaços perdidos diante do crescimento de Marina.
Já a candidata do PSB em algum momento terá de baixar à vida real, com propostas claras. Foi um bom lance se comprometer com a volta à estabilidade econômica. Ainda é pouco, pois deverá ser alvo prioritário de PT e PSDB na propaganda eleitoral e na internet. Começou a nova eleição.
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