• Tucano diz não ser 'oposição circunstancial' e provoca ex-ministra: 'Ela vai na direção do Lula ou do FCH?'
Débora Bergamasco e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
Um dia após pesquisa Ibope mostrar a consolidação de Marina Silva (PSB) em segundo lugar, com 10 pontos à sua frente, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves aproveitou sua participação na série Entrevistas Estadão para provocar a adversária. “Não somos oposição circunstancial. Somos oposição coerente há muito tempo. Não mudamos de lado”, disse. “O Brasil não é para amadores.”
fato de Marina, que assumiu a candidatura ao Planalto após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo, ter construído sua carreira política no PT e ter sido ministra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ouvi recentemente o (economista) Eduardo Giannetti da Fonseca (conselheiro da candidata do PSB) dizer que a Marina gostaria de governar com apoio do Lula e do Fernando Henrique. É muita bonita a expressão, mas em que direção: do Lula ou do Fernando Henrique? Da estabilidade ou do mensalão? Essas contradições precisam ficar claras.”
Aécio voltou a dizer que, se for eleito, governará com um conjunto de pessoas “altamente qualificadas”. Questionado sobre o motivo de ter anunciado anteontem, no debate da TV Bandeirantes, que o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga será seu ministro da Fazenda em caso de vitória do PSDB, o tucano afirmou que a ideia era sinalizar “de forma muito clara” que tem um “projeto de País”.
A relações com FHC. O candidato do PSDB evitou dizer quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai aparecer em sua propaganda eleitoral, embora tenha dito que ele terá “papel importante” em seu governo. Aécio também comentou a declaração de FHC, de que gostaria de ver Marina participar da gestão em caso de vitória.
“Ela é uma candidata que está disputando a eleição. Não vou convidá-la para meu governo. O Fernando Henrique deu, na verdade, uma resposta a uma provocação que a candidata fez. Ele quis dizer que acredita na nossa vitória.”
O tucano afirmou ser uma opção de mudança “muito mais consistente” e disse que não vai buscar “emprestado” referências de outros grupos políticos para conduzir seu projeto de governo.
Nesse momento, Aécio reforçou uma frase que será o mote de sua campanha na atual fase, em que está atrás de Marina nas pesquisas, na disputa por uma vaga no 2.º turno. “O Brasil não é para amadores. O futuro que nos espera enseja experiência e competência.”
Apesar das críticas, o mineiro lembrou que apoiou a tentativa de criação da Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar sem sucesso. E ainda fez um afago à deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que assumiu a coordenação-geral da campanha da ex-ministra. “Tenho enorme respeito por ela e pelo que sei, isso é mútuo.”
O aeroporto e a blitz. Responsável pela pior crise da campanha de Aécio até agora, a revelação de que o governo de Minas gastou quase R$ 14 milhões na reforma de um aeroporto que é administrado por familiares do senador e fica próximo à fazenda de sua família também foi tema da entrevista.
Um dos entrevistadores lembrou que em 1983 o então governador, Tancredo Neves, avô de Aécio, construiu a pista de terra na fazenda de Múcio Guimarães Tolentino, seu cunhado. “A crítica vem da oposição, o que é natural, e de quem não conhece a realidade de Minas Gerais”, afirmou Aécio.
O presidenciável disse que o aeroporto foi uma construção “estratégica” para a região. “A grande diferença das obras do meu governo, pelas quais eu respondo integralmente do ponto de vista legal e moral, é que elas foram acompanhadas e aprovadas pelo Ministério Público de Minas Gerais e não foram questionadas pelo Tribunal de Contas”, alegou. “A obra foi correta e planejada.”
Ao ser lembrado sobre o episódio em que foi parado por uma blitz da Lei Seca no Rio, em 2011, e usou o direito de não fazer o teste do bafômetro, Aécio respondeu que, dessa vez, não se recusaria a assoprar o aparelho e que aquela decisão havia sido um “equívoco”.
“Sou um cidadão, um homem comum. Não ando com motorista e segurança”, disse Aécio. “Nesse caso específico, minha carteira de habilitação estava vencida há 30 dias”. Como não estaria autorizado a dirigir de volta para casa, afirmou que não achou necessário assoprar no aparelho.
Oposição e mea culpa. O candidato manteve as críticas à condução da política econômica, tema que tem dominado sua campanha. Acusou o governo de esconder os dados oficiais sobre a economia e atribuiu à ausência de transparência da atual gestão à perda de credibilidade do setor produtivo brasileiro. “Tenho convicção que grande parte desta perda crescente da confiança e credibilidade do Brasil vem da pouca transparência dos dados oficiais. O orçamento hoje é uma grande peça de ficção.”
Ao falar sobre os 12 anos do PT à frente do Palácio do Planalto, declarou que o modelo atual está esgotado e que o partido “fracassou”. Para o candidato, o PT acertou ao manter os pilares macroeconômicos e ao unificar os programas sociais, com a criação do Bolsa Família. Ao fazer referência à continuidade das políticas macroeconômicas de FHC, Aécio acabou fazendo um mea culpa: “Nós que deveríamos ter unificado lá atrás”.
Aécio citou uma série de dados para criticar a política econômica do governo e a gestão fiscal do País.
“Este ano tivemos um aumento de 15% dos gastos correntes do governo”, disse. O tucano afirmou ter o compromisso de simplificar a área tributária e de reduzir gastos da máquina pública.
O presidenciável voltou a dizer que a Petrobrás se tornou motivo de notícias “das páginas policiais” e apontou problemas de gestão também na Eletrobrás. Aécio defendeu a necessidade de se repensar a matriz energética brasileira, com a adoção de fontes de energias alternativas, como a eólica, a biomassa e o gás natural.
Segurança pública . Aécio acusou o governo Dilma de “criminosa omissão" na área da segurança pública. Segundo o tucano, a Polícia Federal “tem o menor orçamento desde 2009”. “Dilma prometeu (em 2010) que colocaria em funcionamento 14 Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados) para patrulhar as fronteiras. Só dois estão em funcionamento”, apontou.
O candidato do PSDB também criticou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter executado apenas “10% do Fundo Penitenciário Nacional”, segundo ele. O objetivo desse fundo é proporcionar recursos e meios para financiar e apoiar as atividades de modernização e aprimoramento do sistema penitenciário brasileiro.
O candidato voltou a defender a proposta de transformar o Ministério da Justiça em Ministério da Segurança Pública e prometeu fazer uma “profunda” reforma no Código Penal, que depende do Congresso.
Na entrevista, Aécio defendeu a proposta do senador e seu candidato a vice, Aloysio Nunes Ferreira, de elevar o tempo de internação de jovens infratores em casos específicos. “A utilização do menor em crime virou uma verdadeira indústria”, justificou.
O senador registrou na entrevista uma divergência com FHC ao se dizer contra a legalização do uso da maconha, Aécio disse respeitar as opiniões do ex-presidente, mas argumentou que o Brasil não deve ser cobaia neste sentido. “Fernando Henrique pode falar o que ele quiser, mas sou contrário à proposta.”
Bolsa Família . Aécio afirmou que o principal programa do governo para o Nordeste “se resumiu ao Bolsa Família”. O tucano disse que o projeto é importante, mas precisa ser ampliado, e criticou a forma de cadastro das famílias. “O cadastro do Bolsa Família é uma caixa-preta. Queremos dar transparência a isso”, disse o tucano.
Para o candidato do PSDB, é preciso continuar obras “inacabadas” na região Nordeste, como a transposição do Rio São Francisco, projeto iniciado no governo Lula. “A política da presidente Dilma para o Nordeste também foi fracassada.”
Questionado se todas as propostas feitas recentemente, como promessa de maior reajuste para os aposentados, teriam estimativas de custo, Aécio afirmou que as propostas são realizáveis do ponto de vista orçamentário. “Se alguém tem autoridade para falar de responsabilidade fiscal sou eu. Esse é o governo do desperdício e da ausência de prioridades claras. Nossas propostas são factíveis, vamos fazer o Brasil voltar a crescer.”
Mercosul e espionagem. Aécio foi questionado no fim da entrevista sobre a política externa do atual governo. Sobre o Mercosul, o tucano criticou o alinhamento estratégico promovido pelos petistas. “O artigo mais valioso da política é o tempo”, frisou, destacando que a atual gestão deixou de fazer acordos comerciais com parceiros estratégicos. “A incapacidade do atual governo de ter uma política externa pragmática nos trouxe enorme prejuízo.”
O candidato foi questionado sobre a decisão de Dilma de cancelar a visita de Estado aos Estados Unidos no ano passado, após a crise da espionagem americana. “Se o gesto mais adequado era cancelar a viagem eu não sei. Mas ela acertou ao manifestar a indignação brasileira com a situação”, afirmou Aécio. “Não acho que alguém por estar em outro campo político está todo errado.”
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