O reforço da onda em favor da candidatura de Marina Silva, na pesquisa do Ibope divulgada ontem à noite, afirmou-a como finalista do 1º turno na disputa presidencial. Situando-a dez pontos acima da alternativa representada por Aécio Neves, por 29% a 19%. Aproximando-a de Dilma Rousseff, com a redução da distância entre as duas para apenas cinco pontos, dos 29% a 34%. E projetando-a como ganhadora do 2º turno contra Dilma com ampliação para nove pontos, 45% a 36%, de sua vantagem sobre a presidente/candidata nessa etapa da disputa. Segundo o novo Ibope, o avanço de Marina absorveu nova atração de votos nulos e de indecisos e provocou queda de quatro pontos nas intenções de voto de Aécio e de Dilma.
O reforço dessa onda frustra a meta de Aécio de capitalizar o começo do cenário eleitoral (que enseja maior conhecimento seu pelo conjunto da população) para aumento significativo da taxa de intenção de votos. Ao invés disso, sua candidatura é sufocada pelo risco maior de exclusão do 2º turno. E para a campanha de Dilma, além da proximidade de Marina no embate do 1º turno e de maior dianteira da concorrente na simulação do turno final, a onda pró-Marina complica ou inviabiliza o enorme esforço que está sendo feito pelo ex-presidente Lula para aproveitar o horário eleitoral no sentido de uma “virada” das precárias campanhas dos candidatos petistas, majoritários e de voto proporcional, em vários estados, com destaque para os de São Paulo, Rio e Bahia. Num cenário que aponta, até agora, para a perda de dois importantes governos ganhos em 2010 (os do Rio Grande do Sul e da Bahia), um fiasco do projeto de conquista do de São Paulo e insucesso do plano de controle de uma das Casas do Congresso Nacional. Pois o avanço de Marina se nutre, também, do desgaste do petismo no Centro-Sul e nas cidades de maior porte das diversas regiões.
O protagonismo ganho pela candidata do PSB e da Rede terá de enfrentar nas próximas semanas, ademais da reorientação tática que impõe às campanhas de Dilma e de Aécio, os questionamentos que lhe serão feitos nos debates na televisão e no rádio, como o de ontem na TV Bandeirantes e o tête-a-tête com a dupla William Bonner-Patrícia Poeta, na rede Globo. Tais questionamentos, dos quais ela estava inteiramente livre, porão em xeque contestadas posturas tradicionais de Marina sobre questões relevantes da economia (como as restritivas às atividades do agronegócio, e de investimentos em hidrelétricas) e políticas-institucionais (como a de apoio ao projeto petista de criação dos “conselhos sociais” de conteúdo antidemocrático). Assim como as relacionadas à fragilidade e às contradições de sua base de apoio, que, somadas à inexperiência administrativa, limitam suas condições de gerir o governo, sobretudo no contexto de complexa e grave crise econômica a ser enfrentada pelo próximo presidente da República. Quanto a esta, uma semana de piora da conjuntura e das perspectivas à frente. Na segunda-feira, o boletim Focus, do BC, reduziu para 0,7% a projeção do PIB de 2014. E depois de amanhã, balanço do IBGE poderá apontar um quadro de recessão técnica – dois trimestres consecutivos de taxas negativas da economia .
Cabe por fim assinalar que a onda pró-Marina – venha ou não a ser contida – capitaliza boa parte do sentimento mudancista predominante na sociedade. Por meio da afirmação de um oposicionismo ético ao governo petista, ao seu sistema fisiológico de alianças e ao conjunto da “classe política”. Afirmação feita em detrimento da centralidade do debate das causas da estagnação da economia e dos seus efeitos sociais (inclusive do encolhimento do mercado de trabalho e da precarização dos empregos). E de alternativas de governabilidade e de política econômica capazes de libertar o país da agenda populista e do intervencionismo estatal, para que ele se recoloque na trilha de crescimento e do desenvolvimento sustentado.
Jarbas de Holanda é jornalista
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