quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Marina sai da defensiva para estancar queda

Cristiane Agostine, Sandra Hahn Renata Batista, Ricardo Gozzi* e Dauro Veras - Valor Econômico

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE, RIO, CURITIBA e FLORIANÓPOLIS - A equipe da campanha de Marina Silva (PSB) à Presidência viu com preocupação o aumento da avaliação positiva do governo e teme perder mais pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto, depois que levantamentos divulgados ontem mostraram a queda de Marina e o crescimento da candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB). Diante desse cenário, a campanha intensificará os ataques contra Dilma. Além de enfrentar dificuldades na reta final da campanha, Marina terá de mediar a briga dentro do PSB sobre a sucessão partidária, em plena campanha presidencial.

Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, a soma de "ótimo" e "bom" passou de 37% para 39%. O índice está próximo de 40%, que, segundo analistas da campanha, tornaria a reeleição de Dilma mais fácil. A diferença da avaliação positiva em relação aos que consideram "ruim" ou "péssimo" (28%) é de 11 pontos percentuais. Antes do início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, a diferença era de apenas um ponto percentual.

A campanha de Marina preocupa-se com o chamado voto útil e já estima perder pelo menos mais dois pontos percentuais para as campanhas de Dilma e de Aécio.

Segundo Ibope, Dilma passou de 36% para 38% e Marina caiu de 30% para 29%. Aécio manteve-se com 19%. No segundo turno, as duas candidatas estão empatadas. No Vox Populi, Dilma e Aécio cresceram e Marina diminuiu nas intenções de voto. A diferença para Dilma, que era de nove pontos percentuais (36% a 27%) dobrou para 18 pontos (40% a 22%) em apenas uma semana. Agora, Marina estaria mais perto de um empate técnico com Aécio Neves (PSDB), que tem 17%, do que com a petista.

Para tentar reverter a desvantagem em relação a Dilma, a candidatura quer "desconstruir" a petista. Segundo o marqueteiro da campanha, Diego Brandy, Marina deve sair da postura defensiva e partir para o ataque. "O que a campanha menos precisa agora é de se defender", disse Brandy.

Os aliados da candidata do PSB, no entanto, ainda estudam como deve ser a crítica à candidatura de Aécio. A subida do tucano pode fazer com que os votos anti-PT que estavam com Marina migrem para Aécio. No entanto, a campanha do PSB aposta no bom desempenho para levar a disputa ao segundo turno entre Marina e Dilma.

A campanha do PSB vai reforçar a associação da imagem do governo Dilma à corrupção. No programa de televisão exibido ontem à noite, Marina disse que a presidente precisa reconhecer os problemas e que deve apresentar um programa de governo "na forma de desculpas" pelo o que fez no país. A candidata prometeu acabar com a "corrupção na Petrobras" e "recuperar a Eletrobras ". Em uma inserção, a campanha ataca a gestão da Petrobras e diz que o governo fez com que a estatal perdesse metade do seu valor e ficasse com uma dívida quatro vezes maior do que tinha, além de estar envolvida em escândalos de corrupção.

A estratégia de vitimização que havia sido adotada pela campanha não se mostrou eficiente. Segundo pesquisa Ibope, a rejeição de Marina foi de 14% para 17%, enquanto a de Dilma caiu de 34% para 31%.

Em entrevistas e comícios, Marina atacou Dilma. Ontem, em Curitiba, criticou o governo por usar recursos do fundo soberano para socorrer as contas públicas e disse que isso demonstra que o governo coloca em risco a estabilidade e o crescimento do país.

Em Florianópolis, Marina criticou a atuação da presidente, ontem, na 69ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. "[Dilma] falou na ONU apenas sobre conquistas passadas, sem sinalizar mudanças futuras", disse, acrescentando que as "políticas erráticas" do governo em relação ao meio ambiente são um retrocesso e comprometem o futuro. A candidata prometeu revisar o fator previdenciário para corrigir distorções. Em comício, criticou Dilma e Aécio. "Votar no PSDB é andar para trás, votar em Dilma é ficar patinando no mesmo lugar; agora é hora de andar para a frente".

Em meio a uma disputa presidencial cada vez mais acirrada, o PSB marcou para a próxima semana a eleição que definirá o novo presidente e a nova executiva nacional. A eleição foi convocada pelo atual presidente, Roberto Amaral, que assumiu o cargo após a morte de Eduardo Campos.

Composta por 35 pessoas, a nova executiva será escolhida na segunda-feira pelos 135 integrantes do diretório nacional, eleitos no congresso do partido, realizado em junho, ainda sob a liderança de Campos. Amaral tem até dezembro para convocar a eleição interna. Segundo fontes do PSB, Amaral teme a "captura" do comando do partido pelo grupo de Marina, que já manifestou a possibilidade de permanecer no PSB, caso seja eleita.

O candidato a vice na chapa de Marina, Beto Albuquerque (PSB), disse ontem que não há consenso em seu partido sobre a possível antecipação da escolha de nova executiva para dirigir a legenda. Albuquerque ressaltou que está conversando com o presidente do PSB para "priorizar a eleição" neste momento e não a sucessão partidária que poderia aguardar o término da campanha. O vice de Marina é um dos cotados a assumir o comando da legenda no lugar de Amaral.

"Iniciamos uma conversa ainda ontem (segunda-feira) e vamos seguir nesta conversa para que a prioridade não seja o partido, mas o processo eleitoral", reforçou Albuquerque, ao lado de Marina, em entrevista coletiva antes de participar de comício em Porto Alegre. "É uma perda de tempo neste momento", avaliou, sobre a eventual antecipação.

Apesar da resistência do grupo de Marina, Amaral tem articulado sua manutenção no cargo. Ontem, passou o dia em São Paulo, em reunião com dirigentes.

No Rio, Estado onde Amaral tem mais força, a sinergia entre o grupo de Marina e do PSB local foi limitada. A opção local por uma coligação com o PT não teve o apoio da agora candidata a presidente, que preferia apoiar a candidatura de Miro Teixeira. Além disso, seus aliados estão dispersos em vários partidos. Miro é candidato a deputado federal pelo Pros. O deputado federal Alfredo Sirkis acompanhou Marina quando ela saiu do PV, está no projeto de criação do Rede Sustentabilidade e se filiou com ela ao PSB, mas optou por não se candidatar. Já o vereador Jefferson Moura permanece no PSOL, embora esteja diretamente engajado na campanha de Marina.

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