- O Estado de S. Paulo
Os primeiros números da semana vão mostrando que o que se diz das pesquisas não é mero chavão: elas não antecipam o resultado das urnas; limitam-se a informar quais são as intenções do eleitorado em determinado momento.
Na atual campanha já houve diferentes momentos. Primeiro aquele em que a presidente Dilma Rousseff era franca favorita, cenário onde na versão de seu marqueteiro iria reinar "sobranceira" sobre os adversários reduzidos à categoria de "anões".
Depois, a queda acentuada da popularidade sinalizou as dificuldades, mas ainda se vivia a ilusão numérica de que a eleição seria ganha por ela em primeiro turno.
Lá pelo mês de julho, início de agosto as pesquisas indicavam um quadro bem adverso para a presidente. Ainda à frente, mas já com o tucano Aécio Neves apresentando um crescimento razoável para a casa dos 20%, enorme rejeição em São Paulo e situação periclitante no segundo turno. Ao ponto de Eduardo Campos com 8% das intenções de voto aparecer na simulação da etapa final com 30 pontos a mais, adquiridos obviamente no já famoso mau humor.
Em 13 de agosto deu-se a tragédia, Marina Silva assumiu a titularidade da chapa do PSB e o panorama mudou outra vez. De imediato o partido foi para o patamar dos dois dígitos, sem que Aécio perdesse nada. Em seguida Marina deslanchou, o tucano caiu de maneira drástica.
Ela chegou a abrir dianteira de 20 pontos em relação a ele no primeiro turno e a alcançar quase 10 à frente de Dilma no segundo. As forças que já se organizavam em torno do PSDB começaram a se dispersar, a fazer movimentos em direção à ex-senadora e os especialistas chegaram a tirar a seguinte fotografia daquele momento: do jeito que vai, Marina pode ganhar no primeiro turno.
Em seguida, viu-se que não foi. O próximo retrato mostrou o crescimento de Marina Silva estancado. Seja por força da artilharia de grosso (nos dois sentidos) calibre do PT ou pelo arrefecimento do entusiasmo do eleitorado com uma novidade que pode ter passado a ser visto como de pouca consistência, fato é que a onda não evoluiu para dimensões de tsunami.
Até a semana passada ainda não era possível falar em queda da candidata. Havia, antes, uma sinalização forte de resistência. Afinal de contas, com todas as condições a seu favor - inclusive o recurso à mentira contra o qual é impossível combater, dado o caráter abstrato do ataque - a campanha de Dilma Rousseff não havia conseguido derrubar a adversária como o pretendido.
As pesquisas Ibope/Estadão e CNT/MDA de ontem tiram as primeiras fotografia 12 dias antes da eleição e nelas registram o que já se pode chamar de queda de Marina Silva. Com 36% em uma e 38% na outra, Dilma ficou como estava; Aécio confirmou uma discreta recuperação e não avançou. Seu melhor índice é o mesmo: 19% no Ibope.
Mas, Marina descendo de 33% para 27%, na CNT, nem com muito boa vontade é possível ignorar o que significa. No início ganhou muito, depois estacionou e agora viu se reduzirem seus índices de intenções de votos. Se as urnas vão reproduzir esse quadro só as urnas dirão.
O retrato não lhe é favorável. Esses 27% representam exatamente o capital dela na última pesquisa, de abril, em que seu nome foi incluído quando nem candidata era. Na ocasião, já estava aliada a Eduardo Campos, o eleitorado havia sido informado que seria sua candidata a vice-presidente e vivia do patrimônio amealhado na campanha de 2010.
De lá para cá Marina esteve afastada da cena, não fez política. Absteve-se no segundo turno, preservou-se para um projeto de partido próprio que não deu certo e agora está de volta ao ponto de partida.
Sua distância de Aécio Neves caiu pela metade. Perdeu a dianteira em relação a Dilma no segundo turno. Ficou mais fácil para a presidente. E para os adversários a decisão está nas mãos do tempo. Que urge e ruge.
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