“Se por crise se deve entender a perda de critério que orienta a normatividade de nossas condutas, a que emerge atualmente nas democracias contemporâneas, inclusive na brasileira, é uma crise específica, e não uma crise orgânica ou histórica que estaria a demandar a construção de um novo Estado, como nos ensinou Gramsci. As jornadas de junho e o que se seguiu expressaram uma crise específica de legitimação dos mecanismos do sistema político, uma crise na democracia, e não uma crise da democracia. Guardada a particularidade das experiências históricas, a democracia brasileira pode ser considerada "tão democrática" quanto as outras democracias hodiernamente em vigência.
Formalmente, a consigna "democratização da democracia", evocada de maneira mais organizada pelos manifestantes, expressaria um diagnóstico similar. Outro significado guardaria a mobilização da noção de democracia direta, que se fundamenta numa hipersimplificação do político, um ilusionismo que visa a traduzir o ato de governo como algo simples e direto, sem delegação, no qual o envolvimento dos cidadãos com a coisa pública seria contínuo e permanente.”
Alberto Aggio, historiador, é professor titular da Unesp-Franca. A democracia e suas crises. O Estado de S. Paulo, 17 de setembro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário