- O Globo
Não há dúvida de que o nível da campanha para presidente baixou, e deve baixar ainda mais, porque a estratégia beligerante parece que funcionou. Pelo visto, o eleitor tem um pouco de torcedor de MMA, gosta de briga. Quando o Datafolha registrou na semana passada a vantagem de sete pontos de Dilma sobre Marina, o diretor do instituto, Mauro Paulino, atribuiu a virada à nova atitude de confronto da candidata do PT. "Os ataques (...) foram determinantes", afirmou. Cientistas políticos concordaram com ele, e, no QG do PT, o resultado foi comemorado pela ala que sempre defendeu a tática de guerra. É possível que no começo a presidente estivesse na outra ala, menos por vocação pacifista e mais por precaução, já que advertiu publicamente seus concorrentes para "não esquecer seus telhados", deixando subentendido que todos os tinham de vidro. Ela, pelo escândalo da Petrobras; Marina, pela citação do ex-governador Eduardo Campos na lista do delator; e Aécio, pela participação de seu partido no mensalão mineiro.
Talvez porque achasse que ganharia a parada, com seu temperamento mais agressivo, ela resolveu partir para a pancadaria. Na entrevista de anteontem ao "Bom Dia Brasil", a repórter Ana Paula Araújo perguntou: "Na sua campanha eleitoral na TV, a senhora diz que, se a sua adversária Marina for eleita, os pobres vão passar fome, os banqueiros vão fazer as maiores maldades com o povo, acaba o pré-sal, as pessoas não vão mais comprar casa própria (...). A senhora acha legítimo levar o debate político para esse lado, ao invés de discutir propostas, soluções para o país, ficar botando medo nas pessoas?"
A resposta: "Veja bem. É interessantíssimo. Tudo o que eu falo está no programa da candidata". Quando começa com "veja bem" ou com "meu querido", vem bala. Dilma tem se revelado muito sagaz nas entrevistas televisivas: fala sem se deixar interromper, responde o que quer e é sempre assertiva, mesmo quando sabe que não é verdade o que está dizendo, como no caso do programa da adversária, onde simula ter descoberto elementos para afirmar que, com Marina, os pobres vão passar fome. Não precisava inventar. As propostas da candidata do PSB já têm contradições suficientes.
Se a previsão dos analistas estiver certa, a propaganda dilmista continuará usando o "medo do desconhecido" como estratégia e assim espera acabar desgastando e desconstruindo, ou melhor, desqualificando a imagem da oponente até um possível segundo turno entre as duas. O PSDB também está mudando de alvo e mirando mais em Marina, identificando-a com o PT. Tudo bem, desde que não ajude a baixar mais o nível da disputa. O método pode ser eficaz na campanha, mas não para resolver os graves problemas que esperam o(a) vencedor(a).
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