• Grupos exigem abolição de texto que autoriza uso de armas letais para reprimir manifestações
• Senado brasileiro aprovou a criação de uma comissão para visitar o país e dialogar com oposição e governo
Samy Adghirni – Folha de S. Paulo
CARACAS - Violentos protestos irromperam nesta quarta-feira (25) pela Venezuela em repúdio à morte do adolescente Kluyberth Roa, 14, baleado na cabeça, no dia anterior, por um policial em San Cristóbal, oeste do país.
Manifestantes exigiram a abolição da resolução 8.610, adotada no mês passado pelo governo, que autoriza forças de segurança a usar armas letais para reprimir protestos que considerarem violentos.
A defensoria do povo, espécie de ouvidoria do governo, insiste em que Roa foi morto com uma bala de escopeta de borracha, mas admitiu que o material não deve ser usado em manifestações públicas.
A polícia disse que o autor presumido do disparo confessou ter perseguido e encurralado Kluyberth antes de atirar, corroborando a tese de uma morte a queima-roupa.
No interior do Estado de Táchira (cuja capital é San Cristóbal), encapuzados sequestraram um caminhão de gasolina e o incendiaram. Bombeiros impediram que o caminhão explodisse.
Em Maracaibo (oeste), jovens também encapuzados atearam fogo em um caminhão que transportava medicamentos. Houve confrontos entre policiais e jovens que haviam montado barricadas de pneu e lixo queimado para fechar avenidas. Dezenas foram presos.
"Foi o dia mais tenso desde os protestos do ano passado", relatou à Folha um morador. Ele se referia à onda de revoltas estudantis antigoverno que estremeceu várias cidades no primeiro semestre de 2014 e resultou na morte de 43 pessoas, incluindo policiais.
Em Mérida (sudoeste), ao menos cinco estudantes ficaram feridos em confrontos com a polícia.
Em Caracas, dezenas de jovens se reuniram em frente ao Ministério do Interior, Justiça e Paz para exigir a anulação da resolução 8.610. Acabaram recebidos rapidamente pelo vice-ministro.
"[Esta] resolução é uma infâmia que ontem manchou de sangue [o Estado de] Táchira", disse o líder estudantil Hasler Iglesias.
Críticos alegam que o texto viola o artigo 68 da Constituição, que bane o uso de armas de fogo em protestos.
Após admitir inicialmente que o incidente foi um erro policial, o presidente Nicolás Maduro disse que os protestos desta quarta foram atos de "terrorismo". Ele afirmou que estrangeiros a serviço da oposição estão semeando caos na Venezuela para derrubar o governo.
"A partir da Colômbia estão tentando infiltrar um grupo de paramilitares vestidos de civis [nos Estados de] Zulia, Táchira e Apure", disse. Maduro vem intensificando denúncias de um suposto complô opositor apoiado pela direita colombiana e pelos EUA.
Sob este pretexto, a Justiça prendeu vários opositores acusados de ter instigado os protestos de 2014 para derrubar o governo, como o prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, e o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López.
Na semana passada, o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, também foi detido sob acusação de conspiração.
Missão do Senado
O Senado brasileiro aprovou na quarta a criação de uma comissão para visitar a Venezuela e estabelecer diálogo com lideranças do governo e da oposição. A missão, ainda sem data, será formada por senadores do PMDB, PR, PSDB e PTB.
Já a Câmara condenou a quebra do "princípio democrático, com ofensa às liberdades individuais e ao devido processo legal" pelo governo de Maduro.
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