- Folha de S. Paulo
O PT pode evocar FHC, as elites, a imprensa ou uma combinação desses inimigos de sempre, mas o lamentável ataque de que foi vítima o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) na cafeteria de um hospital particular em São Paulo deveria ser compreendido pelo partido como um sinal inequívoco de seu divórcio com o eleitorado na maior cidade e no mais rico Estado do país.
Já existe numa ala do comando petista essa percepção. Um dirigente, questionado por esta colunista na última segunda-feira sobre qual o caminho a seguir, admitiu não ter a menor ideia. "Em São Paulo o jeito será recomeçar do zero", vaticinou.
Um caminho seria tentar entender sem o manto diáfano da fantasia conspiratória e da vitimação o que levou a popularidade do prefeito Fernando Haddad e da presidente Dilma Rousseff a níveis inferiores ao do sistema Cantareira.
A resposta não estará só no humor da elite mal-educada dos Jardins. O quadro é similar nas "franjas" da cidade, território que costumava se pintar de vermelho nas eleições muito antes das ciclofaixas de Haddad.
Ao minimizar a importância de repetidos escândalos de corrupção ligados ao partido, Lula ajudou a corroer a imagem do PT em seu berço.
Em vez de ironizar e tachar de "neofascista" a real preocupação de uma parcela cada vez mais ampla da sociedade com a ética, o partido deveria reconhecer o fato e apresentar uma agenda para vencer o estigma de legenda associada a desvios.
Mas o PT perdeu mais tempo negando o mensalão, fazendo vaquinha para os condenados e traçando paralelos com o PSDB do que agindo para fazer as pazes com um setor da sociedade --os formadores de opinião-- que ajudou a fundar a sigla.
A grosseria contra Mantega foi a explosão de um antipetismo que vai virando ódio. Nesse ritmo, o próximo dia 15 pode ser uma data funesta para a presidente no maior colégio eleitoral do país. E ninguém sabe o que fazer para evitar o cortejo.
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