• Fundação do partido classifica medidas anunciadas como recessivas
Fernanda Krakovics e Catarina Alencastro – O Globo
BRASÍLIA- Depois da ofensiva sobre o PMDB, ontem foi a vez de o governo centrar suas atenções ao convencimento do PT sobre a importância das medidas de ajuste fiscal que envolvem a redução de benefícios trabalhistas e previdenciários. Já pela manhã, cinco ministros se reuniram por quase duas horas com senadores do PT, PCdoB e PDT. No início da tarde, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Brasília para conversar com senadores do PT. Enquanto o governo negocia a pacificação de sua base, coube à Fundação Perseu Abramo, do próprio PT, voltar à carga. Em boletim de conjuntura, ela traçou um cenário sombrio para a economia brasileira e afirmou que a confiança do consumidor e do empresário "despencam com ajuste recessivo" proposto pelo governo Dilma e que as medidas em curso podem "deprimir" a atividade econômica. "A trajetória de queda da confiança do consumidor e do empresário no Brasil se aprofundou nos últimos meses, alcançando mínimas históricas e dificultando qualquer expectativa de recuperação para a economia brasileira no curto prazo", afirma o texto , assinado pelo economista Guilherme Mello , que pertence aos quadros da Fundação Perseu Abramo.
Há crítica generalizada a respeito da falta de articulação política antes do envio das medidas e sobre o fato de atingir direitos de trabalhadores, base política e social do PT. O ex-líder do PT Vicentinho (SP), que reivindica uma série de alterações na proposta do governo, não descarta que as medidas percam a validade e que, a partir daí, tenha início um processo mais amplo de discussão. —Aposto em uma solução com mudanças, porque da forma como foram enviadas, não houve discussão no Parlamento, que é onde a decisão final será tomada. Sinto que o governo está muito disposto a conversar, até porque a situação aqui não está boa, a correlação de forças é negativa e há profundas dificuldades a serem enfrentadas. Tem que haver um limite entre a economia que o governo pretende fazer, o combate às fraudes e assegurar os direitos dos trabalhadores — afirma Vicentinho .
Lula tem demonstrado preocupação com a articulação política do governo, principalmente com o esgarçamento da relação com o PMDB. Desde o final do ano passado, essa é a terceira vez que ele se reúne com a bancada do PT no Senado. Nas outras ocasiões, ouviu muitas críticas ao governo. Senadores petistas re clamam que as duas conversas anteriores com Lula não surtiram efeito. O presidente do PT, Rui Falcão, no entanto, minimizou a crise. —O presidente (Lula) vem ouvir, não vem para fazer o convencimento de ninguém. O presidente Lula não está sendo porta-voz de convencimento do Executivo — disse Falcão, ao chegar ao jantar, realizado no apartamento do senador Jorge Viana (PT-AC). Falcão também minimizou o fato de deputados e senadores do PT ter em apresentado emendas às duas medidas provisórias que dificultam o acesso a benefícios sociais .
—Está havendo um processo de diálogo com os ministros. Isso faz parte da dinâmica do Congresso. Um projeto não sai necessariamente do jeito que entrou — afirmou. Depois da rodada de reuniões da manhã, o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, disse que já há um consenso de que é preciso acabar com brechas na legislação que permitem "comportamentos oportunistas". Entr e as medidas pretendidas pelo governo há o aumento de seis para 18 meses para o primeiro acesso ao seguro-desemprego e a exigência de que para receber a pensão por morte, o cônjuge deve estar casado por pelo menos dois anos.
Renan fala em "escorregadão"
O ministro da Previdência, Carlos Gabas, deixou claro após se reunir com representantes das centrais sindicais que o governo pode aceitar modificações na MP que altera as regras das pensões por morte. A proposta enviada ao Congresso fixa prazo de carência de dois anos de contribuição ao INSS para que o viúvo ou a viúva tenha direito ao benefício. Segundo reportagem publicada pelo GLOBO, o governo deve abrir mão da exigência , nos casos de filhos menores. — Acho que temos maior possibilidade de avançar nas pensões — disse o ministro.
Apesar dos avanços no entendimento entre governo e PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que houve um "escorregadão" na política econômica e fiscal no governo Dilma, e não uma "escorregadinha", como declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Renan disse que são necessários cortes nas despesas do governo. Ele defendeu o corte temporário das nomeações de 50% dos cargos em comissão do governo federal. (Colaboraram Geralda Doca e Júnia Gama)
Nenhum comentário:
Postar um comentário