• Diante de um Planalto que não crê em ajustes e um PT em conspiração contra sua permanência no governo, o ministro se firma como o fiador da estabilidade
Não deve haver pessoas providenciais em governos na democracia. O personalismo é característica de regimes autoritários. Mas há momentos em que projetos estratégicos podem ou não naufragar em função de pessoas. Neste sentido, foi péssimo sinal para o governo Dilma e o próprio país o gesto do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de não comparecer à entrevista coletiva do anúncio do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões no Orçamento, deixando vazia a cadeira ao lado do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Levy, devido a todos os desacertos existentes em torno do “cavalo de pau" dado por Dilma na política econômica do primeiro mandato, se tornou o único símbolo de sensatez no governo. A própria presidente não demonstra convicção no ajuste, prefere dar a entender que se trata de alguns reparos periféricos na sua política, para logo voltar a abrir os cofres do Tesouro desregradamente, com a ressurreição do malfadado “novo marco macroeconômico". Perigoso engano.
Consta que a razão da cadeira vazia na entrevista de sexta seria o desgosto de Levy por não ter conseguido um contingenciamento de R$ 80 bilhões, para compensar concessões já feitas nas negociações no Congresso e com o PT sobre as medidas provisórias do ajuste. Dos estimados R$ 18 bilhões de economia, para ajudar na obtenção do superávit primário de 1,2% do PIB, a esta altura existiriam apenas R$ 5 bilhões. Mas o problema parece ser maior que a diferença de bilhões no contingenciamento. A questão estaria nas fortes pressões contra Levy deflagradas dentro do PT, estimuladas pelo próprio ex-presidente Lula.
A ação do principal líder petista contra a política econômica do governo Dilma é denunciada, por exemplo, pela presença do senador petista Lindberg Farias (RJ) num abaixo-assinado contra Levy. Um desatino neste momento de crise e de instabilidade no Congresso, onde até o PSDB resolveu aliar-se a petistas e votar contra o que sempre defendeu, a responsabilidade fiscal.
O desvario é tal que até o lulopetismo não entende que desestabilizar Levy é conspirar contra os próprios projetos eleitorais para 2018. Pois se o país chegar às eleições em frangalhos, o candidato petista entrará na disputa derrotado.
E tudo transcorre diante de uma Dilma omissa. Ontem, Levy procurou desfazer rumores. Considerou “adequado” o contingenciamento, enquanto o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou, ao lado de Levy, que o governo “intensificará esforços” para garantir a aprovação das MPs no Congresso. Assim terá de ser, porque elas perdem o efeito em 1º de junho.
Todas essas contingências tornaram Levy um “homem providencial”. Sua saída do governo, nessas circunstâncias, sinalizará o recuo na política de estabilização, com a consequente debacle da própria economia, deflagrada pelo rebaixamento da nota de risco do país por agências internacionais. Este roteiro está escrito. Cabe a Dilma e companheiros decidirem ou não encená-lo.
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