• Fruto de seus próprios desvios, partido enfrenta ameaça de defecções entre políticos paulistas e abandono da militância
Hortolândia saiu da eleição estadual de 2014 como último bastião do PT em São Paulo e pode chegar ao pleito municipal de 2016 como símbolo da deterioração do partido.
Distante cerca de 110 km da capital, o município de 212 mil habitantes notabilizou-se no ano passado por dar ao petista Alexandre Padilha sua única vitória sobre o governador Geraldo Alckmin (PSDB), 38,6% a 34,9%. As demais 644 cidades paulistas consagraram o tucano, que se reelegeu no primeiro turno com 57,3% dos votos.
Administrada pelo PT desde 2005, Hortolândia agora aparece numa lista de municípios nos quais políticos da legenda negociam migrar para o PSB, comandado em São Paulo pelo vice-governador Márcio França. Prefeitos e vereadores petistas consideram que assim terão mais chances na disputa do ano que vem, dada a crescente rejeição à sigla.
A fim de dissuadir potenciais desertores, dirigentes do PT têm feito viagens a cidades do interior do Estado. Calculam que, confirmadas as defecções, a agremiação terá até 30% menos prefeituras sob seu controle após a disputa municipal de 2016 --são, atualmente, 68 municípios paulistas.
O desânimo, porém, não acomete apenas quadros do partido; também afeta seus militantes. Basta dizer que, na sexta-feira (22), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou seu discurso na abertura do Congresso Estadual do PT em São Paulo para não ser visto diante de plateia reduzida.
No segundo dia do evento, Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência, desabafou: "Nunca vi uma reunião do PT tão esvaziada quanto ontem, quando se anunciava que o Lula viria, e tão esvaziada quanto hoje, quando no passado as pessoas disputavam o crachá para estar aqui".
No passado, seria preciso acrescentar, o partido não disputara uma eleição presidencial defendendo suas tradicionais bandeiras somente para arriá-las logo após a vitória. Tampouco estivera no centro dos principais escândalos de corrupção da política nacional.
Não admira, portanto, que cada vez menos gente esteja disposta a manter no peito um crachá do PT, ao mesmo tempo em que cresce o número de pessoas que se comprazem com o próprio antipetismo --embora, neste caso, se registrem exageros, como nos episódios em que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi hostilizado.
Se houve práticas corruptas, estas devem ser julgadas e condenadas pelos órgãos competentes; quanto às mentiras, elas já começam a cobrar seu preço em termos de prestígio e popularidade --uma fatura que o PT dificilmente deixará de pagar diante das urnas.
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