• Ministro falou com a imprensa duas vezes e Planalto assegurou a analistas que apoia o titular da Fazenda
• Dólar, que no início do dia chegou à maior alta em 2 meses, recuou depois das entrevistas dadas em Brasília
Valdo Cruz, Marina Dias, Sofia Fernandes, Natuza Nery e Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo Dilma e o ministro Joaquim Levy (Fazenda) montaram um roteiro nesta segunda-feira (25) para afastar rumores de que ele deixaria o cargo. A possibilidade foi aventada após a ausência de Levy no anúncio do corte de R$ 69,9 bilhões no Orçamento na sexta-feira (22).
A estratégia desta segunda incluiu entrevistas do ministro, uma delas ao lado de Aloizio Mercadante (Casa Civil), e contatos de integrantes do governo com analistas de mercado garantindo que Levy continua tendo o apoio da presidente Dilma e não pretende sair do ministério.
O mercado financeiro, que começara o dia fortemente influenciado pelas dúvidas sobre a permanência de Levy, passou a ajustar suas cotações após a operação do governo.
Na Bolsa, o principal índice da BM&FBovespa, o Ibovespa, chegou a cair até 0,75%, mas fechou em alta de 0,43%, aos 54.609 pontos.
No câmbio, o dólar comercial, usado no comércio exterior, chegou a bater R$ 3,135 durante o pregão, mas recuou e fechou a R$ 3,098.
Fora do padrão
Logo pela manhã, Levy, que é pouco afeito a falar com jornalistas na entrada do ministério, deu as primeiras declarações do dia. "Acho que o contingenciamento foi no valor adequado", afirmou, defendendo o corte. Internamente, ele defendera um bloqueio maior, na faixa de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões.
O ministro afirmou que o corte foi necessário porque as receitas previstas no Orçamento, aprovado um mês atrás, "não têm conexão com a realidade da arrecadação".
Mais tarde, Levy participou da reunião de coordenação política com a presidente Dilma. Seu colega Nelson Barbosa (Planejamento) não compareceu. A justificativa foi uma consulta médica para tratar de dores nas costas.
Os dois ministros divergiram em relação ao tamanho do corte e esse teria sido um dos motivos da ausência de Levy no anúncio do bloqueio na sexta. O titular da Fazenda também teria ficado irritado com o Planalto pela forma como foi conduzida a divulgação do aumento de tributos para os bancos, na quinta (21).
Ao final da reunião com a presidente, Levy deu nova entrevista, ao lado de Mercadante. O objetivo foi sinalizar que o governo continua unido na defesa do pacote fiscal e que o ministro da Fazenda segue firme na equipe.
Alvoroço
Questionado por jornalistas, Levy falou pela primeira vez publicamente sobre sua decisão de faltar à divulgação do corte. "Não pensei em nada de sair", disse. Afirmou ainda que não houve divergências sobre o tamanho do corte. "Estava realmente resfriado ou gripado. Houve um certo alvoroço em torno dessa história, mas eu expliquei o que estava acontecendo."
Na entrevista, Levy chegou a tossir ao microfone, arrancando risadas dos presentes. Ele também fez uma defesa do ajuste e pediu agilidade ao Senado para votar as medidas do pacote fiscal. Segundo o ministro da Fazenda, "delongas não favorecem a retomada do crescimento".
Buscando mostrar sintonia com o colega, Mercadante justificou o corte de R$ 69,9 bilhões com o mesmo discurso de Levy. "Nós não temos a receita para podermos executar o Orçamento que foi aprovado tardiamente."
Levy reforçou seu discurso de que, sem equilíbrio fiscal, a economia não vai se recuperar. "É uma ilusão pensar que as pessoas vão investir se elas virem problema fiscal. É uma ilusão que alguém vai botar dinheiro em infraestrutura (...) se as pessoas têm receio de que em dez anos a Previdência vai estar em desequilíbrio grave."
Sobre novos aumentos de impostos, o ministro afirmou: "Tem que ir com calma na parte de imposto. Não adianta inventar novos impostos como se isso fosse salvar a economia. A gente tem uma questão mais profunda que não se resolve com coisas fáceis, por mais emocionantes que possam ser".
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