• Em reunião com 13 ministros, presidente diz que atuará na articulação com partidos
Na contramão dos pedidos da base aliada, ela não aceita mudanças, volta a falar na legitimidade do mandato e deixa sem resposta perguntas sobre corte nos ministérios
A pressão dos aliados não surtiu efeito. Em reunião com 13 ministros, ontem, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff frustrou a expectativa da base e ignorou a discussão em torno de uma reforma ministerial. A medida era considerada, por aliados, essencial para reconstruir a governabilidade. A presidente afirmou aos ministros que atuará na articulação política, conversando diretamente com os partidos. A reunião abre uma semana que deve elevar a tensão com a Câmara, onde serão votadas pautas- bomba que preocupam o governo. Antes do encontro, aliados pediram uma “revolução” no governo, e o líder do PMDB, Leonardo Picciani, disse que, sem mudanças imediatas, uma saída do partido da base seria o “caminho natural”.
Alheia às pressões
BRASÍLIA - Imersa em uma crise política e econômica, apesar do aumento da pressão dos aliados por medidas concretas de reestruturação do governo, a presidente Dilma Rousseff sinalizou apenas com a necessidade de aumento do diálogo. Após três horas de reunião no Palácio da Alvorada, com o vice- presidente Michel Temer e 13 ministros, Dilma decidiu ontem fazer reuniões individuais com os partidos aliados, assumindo a linha de frente da articulação política junto ao vice. Segundo relatos de ministros ao GLOBO, a presidente se mostrou otimista que conseguirá vencer a crise política e cumprirá seus quatro anos de mandato.
A redução do número de ministérios foi um dos pontos da reunião. No entanto, não houve avanço. Ao menos dois cenários vêm sendo discutidos internamente: um mais brando, que diminui dos atuais 39 para 29 pastas e outro mais drástico, cortando para 24 ministérios. Um auxiliar presidencial afirmou que num grupo mais restrito dentro do governo, a reformulação vem sendo discutida.
Enquanto mudanças concretas não são anunciadas, Dilma disse aos ministros que cobrará que eles garantam o voto de seus deputados e senadores no Congresso. Segundo relatos de integrantes do governo, ela reclamou da falta de fidelidade das bancadas.
— A presidente vai liderar um amplo diálogo com as bancadas, com os partidos, empresários, movimentos sociais. Vai percorrer o país e não há chance de renunciar — disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PT- CE), ao sair da reunião.
O ministro Edinho Silva ( Comunicação Social) afirmou que o Executivo reconhece as dificuldades políticas e econômicas, mas que serão superadas em um curto espaço de tempo.
— Não estamos negando as dificuldades. Estamos reconhecendo, mas temos certeza que serão superadas com diálogo — disse ao deixar a reunião.
Edinho afastou qualquer possibilidade de Dilma deixar a Presidência antes de 2018.
— A presidente foi eleita para cumprir quatro anos de mandato e o Brasil é exemplo de democracia para o mundo. Não podemos brincar com a democracia — afirmou.
Na reunião, o mais exaltado era o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência. Repetindo uma cobrança insistente dos petistas e do ex- presidente Lula, Rossetto disse que a retomada do diálogo com os movimentos sociais é o ponto central para resolver a crise de baixa popularidade da presidente Dilma e reaproximar o partido das bases. Na quarta- feira, Dilma participará da Marcha das Margaridas, com cerca de 50 mil mulheres sem terra na Esplanada. Dilma também terá reuniões com lideranças das centrais sindicais esta semana.
Todos os participantes da reunião se esforçaram para desfazer o clima de mal- estar entre Dilma e Temer, depois que o vice declarou que era necessária uma pessoa para unificar o país.
Perspectivas sombrias entre aliados
Nesta segunda semana de trabalhos legislativos, as perspectivas de parlamentares da base aliada são sombrias em relação à situação do governo. A análise coletiva entre os deputados é que, sem uma ampla reforma ministerial, nada irá melhorar.
O líder do PMDB, Leonardo Picciani ( RJ), defende ações imediatas por parte de Dilma, sob risco de desmoronamento do que resta de apoio ao governo no partido.
— Decisões precisam ser tomadas quase de imediato. O quadro está muito agravado. Hoje, a maioria da bancada do PMDB não é favorável a deixar a base. Mas, no ritmo que as coisas vão, esse vai ser o caminho natural — pontuou.
Há entre os deputados aliados ao governo a convicção de que vários dos ministros que foram nomeados por Dilma em nome das bancadas dos partidos não representam de fato seus interesses.
— Havia uma expectativa de que as questões partidárias de espaço fossem resolvidas no recesso. Muitos líderes estão reclamando que, apesar dos apelos, não conseguem controlar a base porque as demandas não são atendidas e a economia não responde ao ajuste — afirmou Maurício Quintella ( PR- AL).
O líder do PDT, André Figueiredo ( CE), que na semana passada anunciou a decisão da bancada de se declarar independente, critica a dificuldade do governo em se antecipar às negociações dos projetos que estão para ser votados.
— O problema é a inércia, o governo só age no limite. Não basta uma reforma, é quase uma revolução. Uma grande transformação em todos os setores de seu governo — disse o líder do PDT.
A partir desta semana, são várias as pautas- bomba que devem entrar na votação da Câmara. Além da apreciação das contas de 2014 da presidente, que podem ser rejeitadas pelo TCU e podem desencadear um processo por crime de responsabilidade se o Congresso confirmar a decisão da Corte, há pedidos de impeachment pendentes de análise. O Congresso também irá analisar vetos como o da alteração do fator previdenciário, o do aumento do Judiciário e o da equiparação do aumento do salário- mínimo às aposentadorias. Além disso, devem entrar na pauta medidas do pacto federativo que podem onerar mais a União para beneficiar estados e municípios.
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