Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - A possibilidade de mudanças no quadro político em poucos meses, com desfecho imprevisível para o governo Dilma Rousseff, gera novas incertezas no cenário de alianças eleitorais para as eleições de 2016 com o qual o PSDB vem trabalhando. A estratégia de ampliar filiações continua, assim como a de construir nas maiores cidades coligações em 2016 que possam se estender até 2018, em apoio à provável candidatura do senador Aécio Neves (MG) à Presidência da República. Mas, dependendo do que acontecer com o país, mudam os potenciais parceiros.
Com Dilma à frente do governo, a prioridade do PSDB é isolar o PT nas eleições municipais, reforçar a polarização com os petistas e atrair partidos da base aliada da presidente para alianças que poderão ser reeditadas nas eleições presidenciais. Uma orientação de Aécio, inclusive, é que os tucanos apoiem candidatos a prefeitos de outras legendas onde o PSDB não tiver nomes competitivos, em vez de lançar candidatura própria só para marcar posição. Nessa situação, a previsão é que o PMDB vá se desgastando junto com o PT e lideranças do partido poderiam até migrar para o PSDB.
Mas, como os tucanos avaliam que o governo Dilma está com seus dias contatos, os dirigentes começam a pensar em novos cenários, como a possibilidade de o vice-presidente, Michel Temer, assumir a Presidência da República. Nesse caso, a disposição de Aécio e seus aliados é não legitimar a nova gestão. O PMDB passaria, então, a ser uma legenda a se opor nas eleições. Fortalecido, o partido de Temer manteria quadros que hoje estão descontentes em ser linha auxiliar do PT.
Aécio, presidente nacional do PSDB, programou para os próximos dias iniciar ofensiva da Executiva Nacional sobre os cerca de 200 municípios com mais de 100 mil eleitores para atrair filiados e para começar os entendimentos sobre as candidaturas a prefeito e sobre as alianças eleitorais para 2016. A expectativa, agora, é que o processo seja prejudicado pelos desdobramentos da crise nacional, com uma possível dança de cadeiras.
Para pavimentar sua provável candidatura à Presidência, Aécio definiu como meta atrair para o PSDB o máximo de filiações até setembro, inclusive de atuais prefeitos e vice-prefeitos de cerca de 300 das maiores cidades do país para o PSDB; eleger o maior número de prefeitos nesse universo (com candidato próprio ou aliado); ampliar o leque de alianças para mantê-lo em 2018; e reforçar a polarização com o PT, especialmente nas grandes cidades.
Para isolar o PT, a intenção era reforçar o vínculo do partido com o governo Dilma Rousseff. No entanto, se Temer passa a ocupar a Presidência da República, o PMDB passa a ser foco principal. Os tucanos adotarão o discurso de mostrar que Temer e seu partido têm responsabilidade por todas as ações do governo Dilma, para que também sofram o desgaste da gestão petista.
O PSDB prevê que, independentemente do que acontecer, o PT tentará se descolar do governo nas eleições municipais e, por isso, precisará adotar o que Aécio chama de "discurso da sanfona": enquanto os petistas buscarão afastamento de Dilma, os tucanos vincularão a imagem do PT ao governo, como o grupo responsável pela política econômica que desempregou, levou ao aumento da inflação e desorganizou o país e pelo esquema de corrupção descoberto no país.
"É o discurso da sanfona, da colagem: eles vão abrir e nós vamos fechar", diz Aécio. "Nós queremos dar o tom na campanha, deixando claro que nós somos adversários do PT e do governo."
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que os eleitos pelo sistema majoritário (senador, prefeito, governador, presidente e vices) não perdem os mandatos se trocarem de partido, a cúpula tucana viu "uma janela aberta para o PSDB no Brasil inteiro" e quer filiar o maior número de prefeitos até setembro, um ano antes do pleito. A intenção é atrair gente de partidos da base de Dilma, como PMDB e PTB, por exemplo, que não queiram disputar as eleições municipais em alianças com o PT, para evitar a contaminação pelo desgaste do governo.
A direção do PSDB vai designar cinco coordenadores regionais para dar atenção total ao processo eleitoral nas maiores cidades do país. Cada um ficará responsável por 50. A orientação é que façam levantamento de todas as possibilidades de candidaturas tucanas ou de outros partidos com maior potencial de ganhar do PT e que possam ser parceiros, tanto em 2016 quanto em 2018.
Nas cidades em que o PSDB tiver candidatos viáveis a prefeito, o partido vai buscar construir aliança eleitoral em torno dele. Mas, onde potenciais parceiros tiverem nomes mais competitivos, a orientação da cúpula nacional aos diretórios locais será abrir mão de lançar candidato próprio com pouca viabilidade eleitoral e privilegiar alianças. A avaliação é que uma aliança feita nas cidades maiores, na qual o PSDB apoia um candidato de outro partido, tende a ser reeditada na eleição presidencial.
As candidaturas a prefeito ainda estão indefinidas, mas há tendência no PSDB de se buscar novos nomes, para renovar o partido. São Paulo é uma das cidades em que o PSDB não abrirá mão de ter candidato.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), também postulante à Presidência, quer lançar candidato, mas ainda não há um nome. Dirigentes nacionais dizem que qualquer tucano vai polarizar com o prefeito Fernando Haddad (PT) e irá para o segundo turno.
Em Belo Horizonte, a intenção do PSDB é reeditar aliança com o PSB do prefeito Márcio Lacerda, mas, por enquanto, as duas legendas têm pretensão de lançar candidato próprio. A orientação da direção nacional do PSDB é buscar o candidato mais viável para derrotar o PT. A preferência é por um tucano, mas não está descartada, previamente, a possibilidade de aliança em torno de um nome do PSB. A meta é ganhar do PT, que hoje comanda o Estado, com Fernando Pimentel, para recompor a base política de Aécio em Minas Gerais.
"O PSDB vai ter caras novas. Vai se apresentar nas eleições municipais com caras novas, discurso renovado e oposição frontal ao PT. Acho que vamos sair dessa eleição mais fortes do que de qualquer outra", afirma Aécio.
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