• Petista vai se reunir com UNE e MST em contraponto a atos contra governo
• Presidente mostra irritação com infidelidade da base aliada e cobra pulso firme de ministros
Natuza Nery, Flávia Foreque – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff se reunirá nesta semana com movimentos de esquerda para tentar mostrar respaldo social em uma ofensiva contra as manifestações antigoverno marcadas para o dia 16 de agosto.
Para o governo, é importante sinalizar que Dilma não está isolada, apesar do recrudescimento da crise política.
Em outra frente, num esforço para recompor a base de apoio do governo no Congresso, a presidente também terá encontros individuais com os líderes aliados para cobrar fidelidade nas votações.
Na avaliação da cúpula do Executivo federal, é necessário apresentar um contraponto aos protestos. Ainda não há medição interna sobre o público, mas projeções de bastidores apontam para uma grande adesão.
Ministros e petistas afirmavam na semana passada que, dado o grau de enfraquecimento do governo, um ato massivo pró-impeachment poderia emparedar ainda mais a presidente. Alguns se arriscavam a afirmar que, se não houvesse reação, poderia ser "o começo do fim".
Na terça-feira (11), o Planalto sediará um encontro da presidente com a Marcha das Margaridas, que reúne trabalhadoras rurais. Possivelmente na quinta (13), Dilma receberá representantes de movimentos como UNE e MST para demonstrar apoio político.
A presidente é criticada por não receber e pouco dialogar com o alicerce social que sempre deu força ao partido. Em diversas reuniões, o ex-presidente Lula insistiu que ela dialogasse mais com esses setores, sob a lógica de que são eles que se organizarão nas ruas contra um eventual processo de deposição.
Na crise do mensalão, em que o governo Lula também enfrentou queda de popularidade, movimentos sociais ficaram a postos para defender a administração petista.
Reunião
O atual cenário de crise política foi o tema central de reunião entre Dilma e 13 ministros da Esplanada na noite deste domingo (9), no Palácio da Alvorada.
Dilma mostrou irritação com a infidelidade da base aliada e cobrou pulso firme dos ministros, indicando que aqueles que não têm força política no Congresso deverão ser substituídos.
Após a reunião, o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) cobrou "responsabilidade" do Legislativo e reforçou o discurso de que a presidente irá cumprir todo o mandato de quatro anos para o qual foi eleita.
"Não estamos negando as dificuldades políticas que estamos enfrentando, mas temos certeza de que serão superadas com diálogo. A política é a arte de dialogar e é isso que o governo da presidente Dilma irá fazer", disse.
Edinho fez questão de elogiar a posição "de destaque" e o "papel fundamental" que o vice-presidente Michel Temer vem desempenhando e afirmou que, durante a reunião, Temer "foi enfático com seu compromisso com a presidente Dilma".
"Em momento algum vamos permitir que intrigas, interpretações ou utilização política por alguns setores minoritários da própria base ou da oposição possam provocar ruídos ou dificultar a construção da governabilidade", afirmou o ministro.
Na semana passada, Temer disse que o país precisa de alguém que possa "reunificar a todos". A fala foi interpretada como sinal de que o vice estaria se preparando para assumir o governo. Temer até ofereceu deixar a articulação política, mas Dilma recusou.
Nesta segunda (10), Dilma avançará no plano de tentar conquistar o apoio do Senado contra projetos de forte impacto fiscal aprovados pela Câmara. Ela receberá senadores para jantar no Palácio da Alvorada e pedirá a eles "responsabilidade".
Trata-se de apelo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem pautado projetos que aumentam os gastos públicos.
Colaboraram Andréia Sadi e Marina Dias
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