segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Reforma ministerial ganha força, mas Dilma resiste

Por Andrea Jubé, Lucas Marchesini, Raymundo Costa e Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Para melhorar as relações com a esfacelada base governista e tentar evitar o aprofundamento da crise política, a presidente Dilma Rousseff está sendo pressionada a realizar uma reforma ministerial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos defensores da estratégia. Ontem à noite a presidente se reuniu com ministros e líderes partidários que integram a coordenação política para organizar a semana do governo no Legislativo. A presidente decidiu "focar" os esforços no Senado, em mais um esforço para barrar as "bombas fiscais" eventualmente aprovadas na Câmara.

A tese principal dos defensores da reforma ministerial é que, embora fragilizada, a presidente ainda comanda a máquina pública e até agora não usou efetivamente a caneta. "É preciso zerar o jogo e começar tudo de novo", diz uma fonte do governo. Em público, ministros negam o possível rearranjo. Mas em conversas reservadas, o assunto é recorrente. A presidente resiste.

Os alvos preferenciais são ministros que não exercem influência sobre suas bases. Um exemplo recorrente é o do ministro do Trabalho, Manoel Dias, indicado pelo PDT. Dias não controla a bancada, que na última semana declarou-se "independente" do governo. Exemplos semelhantes são os de Gilberto Kassab (PSD), do Ministério das Cidades, e Armando Monteiro Neto (PTB), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

A intenção da presidente é se reunir hoje com os líderes da base aliada no Senado. Está em articulação um jantar no Palácio da Alvorada com um grupo mais restrito e influente de senadores aliados. Dilma conversou com senadores pemedebistas no fim de semana e eles mostraram disposição para ajudar. A ideia de buscar anteparo no Senado evoluiu depois que Temer fez relato à presidente sobre suas conversas com os líderes das duas Casas. Dilma está convencida de que a Câmara, presidida por Eduardo Cunha (PMDB) é um caso "perdido".

O otimismo de Dilma em relação ao Senado é visto com reservas por integrantes da base aliada. Até hoje o Senado não votou o projeto que prevê o fim das desonerações da folha de pagamento das empresas, uma das medidas mais importantes do ajuste fiscal. A tendência no Senado é adiar o máximo sua votação.

Aumenta pressão sobre Dilma por trocas ministeriais
A presidente Dilma Rousseff está sendo pressionada a antecipar uma reforma ministerial para afinar a relação com os aliados fieis e conter o aprofundamento da crise política. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos defensores da estratégia. Dilma encomendou estudos para reorganizar a máquina pública e reduzir gastos, o que estava previsto para fins de setembro. Mas auxiliares próximos tentam convencê-la a precipitar a mudança para nomear ministros capazes de liderar suas bancadas.

A tese principal é que, embora fragilizada, a presidente ainda comanda a máquina pública, e até agora, não usou efetivamente a caneta. "É preciso zerar o jogo e começar tudo de novo", argumenta uma fonte do governo. Em público, ministros negam o possível rearranjo. Mas em conversas reservadas, o assunto é recorrente, enquanto a presidente resiste, em busca de alternativas para conter a turbulência.

Dilma convocou uma reunião de emergência com o vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo, e ministros do núcleo político para a noite deste domingo no Palácio da Alvorada. Na pauta, a agenda do Congresso Nacional, a fim de evitar novas derrotas, e os possíveis desdobramentos da crise.

"Vamos discutir o futuro", disse um dos convidados ao Valor. Foram convocados os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, da Justiça, José Eduardo Cardozo, da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, da Defesa, Jaques Wagner.

Nos bastidores, as atenções se voltam para o avanço da Operação Lava-Jato, com as iminentes delações premiadas de investigados-chave, como Fernando Baiano, apontado como suposto operador do PMDB, e Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que teria sido nomeado pelo ex-ministro José Dirceu, preso na última semana. Há receio de que Duque possa implicar ainda mais o PT.

Defensores da reforma alegam que Dilma deve usar a caneta presidencial para prestigiar aliados que têm dado provas de lealdade. A base ficará menor, mas a presidente saberá com quem pode contar de verdade.

Os alvos preferenciais são ministros que não exercem influência sobre suas bases. Um exemplo recorrente é o ministro do Trabalho, Manoel Dias, indicado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. Dias não controla a bancada, que na última semana declarou-se "independente" do governo. Outros que não influenciam as respectivas bancadas são os titulares do Ministério das Cidades, Gilberto Kassab, do PSD, e do de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Armando Monteiro Neto, do PTB. O PSD ainda comanda a Secretaria de Micro e Pequena Empresa, com Guilherme Afif.

Outro nome questionado no primeiro escalão é o de Kátia Abreu, do Ministério da Agricultura, filiada ao PMDB, mas considerada da cota pessoal de Dilma. O problema é que a presidente tem apreço especial por Kassab, Afif e Kátia, e não pretende dispensá-los.

Um grupo restrito defende que o ex-presidente Lula seja nomeado para uma pasta, que poderia ser o Ministério das Relações Exteriores, para exercer maior influência no governo e, simultaneamente, ganhar foro privilegiado. A tese chegou diretamente ao ouvido de Lula, que a rechaçou automaticamente.

Dilma segue determinada a enfrentar a crise. "Sou uma pessoa que aguento pressão, aguento ameaça", afirmou em discurso em Boa Vista, Roraima, na solenidade de entrega de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida. Disse que a democracia brasileira respeitará sua vitória nas urnas. "Ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu".

A presidente reconheceu a fase de turbulência, mas ressaltou que "não quebramos". Admitiu que "o Brasil passa por dificuldades", mas hoje é um "país muito mais robusto". Segundo ela, "antes, no Brasil, quando havia qualquer problema, tendia a ter dificuldade para pagar as contas externas", mas hoje o país tem mais de US$ 300 bilhões em reservas.

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