Por André de Souza e Maria Lima – O Globo
• Presidente da Câmara diz que não é vilão das contas públicas e reafirma que governo é culpado por derrotas em plenário
BRASÍLIA - Horas antes de a presidente Dilma Rousseff se reunir com o núcleo político do governo, neste domingo, o presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rechaçou, por meio de sua conta no Twitter, que tenha se tornado o vilão das contas públicas e atribuiu ao próprio Planalto a responsabilidade pela crise política.
Cunha rompeu com o governo, depois que foi citado, em delação premiada da Operação Lava-jato, como um dos políticos que teriam recebido propina do esquema de corrupção montado dentro da Petrobras. De acordo com o empresário Júlio Camargo, Cunha recebeu R$ 5 milhões, denúncia negada pelo parlamentar. Desde então, ele patrocina a chamada "pauta-bomba" na Câmara, com propostas que desagradam o governo, o que inclui o aumento das despesas públicas.
Em sua conta no Twitter, Cunha destacou que não é dono dos votos dos deputados e ressaltou que jogar nele a culpa pelas derrotas do governo é o mesmo que querer não enfrentar o problema. Para ele, o governo continuará sendo derrotado, caso não reagrupe a maioria no Congresso.
"Sem reagrupar a sua base e constituir uma maioria sólida, o governo continuará com problemas e sofrendo derrotas"... "A tentativa de alguns de me colocar como vilão das contas públicas por retaliação ao governo não tem amparo na realidade dos fatos", disse Cunha no Twitter, acrescentando: "Sei bem os riscos que sinais equivocados podem causar na avaliação do grau de investimento do país e não compactuo com isso".
No encontro deste domingo, a presidente Dilma pode dar início ao processo de reformulação de sua base de sustentação no Congresso, inclusive com mudanças em ministérios e uma nova distribuição de cargos de segundo e terceiro escalões aos partidos aliados.
Ao GLOBO, Cunha criticou a articulação da presidente Dilma Rousseff para tentar isolar a Câmara, fazendo um pacto com partidos, para segurar, no Senado, as matérias consideradas bombas fiscais aprovadas na Casa.
— Não adianta fazer um cavalo de batalha e tentar isolar a Câmara, dizer que a Câmara está sabotando o ajuste e o Senado ajudando. Votamos todas as matérias do ajuste. O problema é que o ajuste é fraco, o governo não consegue implementá-lo, não dá resultado, e querem culpar a Câmara. Se querem saber, pelas coisas que o governo manda, eu até segurei muito — disse Cunha.
Na madrugada de quinta-feira, com apoio de Cunha, a Câmara aprovou em primeiro turno a proposta de emenda constitucional (PEC) que eleva o teto salarial dos advogados da União, procuradores estaduais e municipais e delegados das polícias Federal e Civil. Neste domingo, no Twitter, o presidente da Câmara afirmou que o governo, caso não consiga reagrupar sua base de sustentação na Câmara, continuará com problemas e sofrendo derrotas.
Ele destacou também que, em 2009, o então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), hoje vice-presidente da República, não conseguiu impedir a votação de algumas propostas que contrariavam o governo. "Isso não quer dizer que Michel estava contra as contas públicas.Foi a vontade da casa naquele momento que ele teve que aceitar", disse Cunha, concluindo: "Presidente da Câmara não é o dono da Câmara e nem do voto dos deputados".
Cunha também negou responsabilidade sobre a instalação de CPIs que não agradam o governo. Ele lembrou que cinco CPIs podem funcionar simultaneamente, e que elas devem ser instaladas na ordem em que foram protocoladas. "Não fui eu quem protocolei as CPIs. Se a vez eram dessas CPIs,o que me restava fazer a não ser cumprir a minha obrigação", disse Cunha.
Ele também defendeu a votação de quatro contas de ex-presidentes da República, o que ajuda a abrir caminho para a votação das contas de Dilma. O Tribunal de Contas da União (TCU) ainda está analisando a situação e são reais as chances de que rejeite as contas da presidente. Depois disso, a matéria segue para o Congresso, que tem a palavra final sobre o assunto. "É preciso parar de especular e se tratar as coisas com mais seriedade", concluiu Cunha.
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