- Folha de S. Paulo
O vice-presidente da República, determina o artigo 70 da Carta, "substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga". O parágrafo único estabelece que o vice "auxiliará o Presidente sempre que por ele convocado para missões especiais".
Na política, o vice é uma peça de composição partidária para a disputa das eleições. Marco Maciel representava a adesão do PFL à chapa de Fernando Henrique. Com José de Alencar, Lula acenou para o centro do espectro ideológico.
Michel Temer garantiu a entrega do cobiçado tempo de propaganda do PMDB à aventura que em 2010 deu a Presidência a uma debutante eleitoral. Temer submergiu nos quatro anos seguintes, voltou à tona em 2014 para reassegurar a aliança e talvez pensasse que teria mais quatro primaveras de sossego no Jaburu.
A presidente Dilma, entretanto, convocou-o para uma missão especial. Depois de queimados todos os outros cartuchos, entregou ao vice a tarefa de restaurar a coalizão governista no Congresso e viabilizar o programa emergencial na economia.
Deu errado. A base mostrou-se ingovernável com a ração de pão e água permitida pelas finanças escangalhadas e diante do desenrolar da Operação Lava Jato. Congressistas graúdos são alvos atestados ou potenciais dos "snipers" da Procuradoria. Ninguém sai à rua para conversar nessa Sarajevo da política nacional.
Michel Temer então fez um apelo por alguém que reunificasse a nação. Quis colocar-se nessa posição? Talvez não. Talvez tenha sido, admita-se, um acidente de oratória. A pasta, porém, saiu do tubo e não vai voltar para dentro.
Em situações de esfacelamento do poder presidencial, o vice insinuar-se como alternativa é algo mais que esperado. Nessas circunstâncias, conspirar –com cerimônia, apego à lei e sem retirar precipitadamente os pés das duas canoas– é quase dever constitucional do vice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário