• O país é ainda classificado entre os que não representam risco para credores em moeda estrangeira, porém tal conceito vem caindo e os mercados cobram caro por isso
Mais uma agência internacional de avaliação de risco, a Moody’s, decidiu rebaixar a nota da economia brasileira. Se há algum alento nessa notícia é que a agência ainda mantém o país na faixa considerada de grau de investimento, e não há perspectiva de novo rebaixamento no curto prazo, o que explica a reação positiva dos mercados.
Não foi uma surpresa porque outra influente agência internacional, a S&P, já havia tomado iniciativa semelhante, e a Moody’s havia posto a economia brasileira em perspectiva negativa, o que significa que a possibilidade de rebaixamento estava em avaliação.
Agências de avaliação de risco são companhias privadas, que usam critérios conhecidos para definir o quanto investidores e credores estão expostos a algum tipo de calote. No caso de economias emergentes e menos desenvolvidas, são avaliados os riscos de crédito em moedas nacional e estrangeiras. O fato de a economia brasileira ainda estar classificada na faixa de grau de investimento, mesmo que no menor conceito (“Baa3”), significa que o risco de calote hoje é pequeno, para a Moody’s.
O ranking das agências não equivale a um atestado de boa ou má conduta. As agências não são infalíveis, também se equivocam. Trata-se apenas de um serviço, geralmente contratado por credores ou por companhias, instituições ou todos os que precisam, ou desejam, criar referências para os mercados. Como não é possível avaliar cada empresa isoladamente fora de seu “habitat”, as agências classificam o chamado “risco soberano", que é o do conjunto de uma economia, um país.
Assim, quando o risco soberano é rebaixado, quase automaticamente empresas, instituições, entes federativos e credores demasiadamente expostos a essa economia sofrem igual restrição. No sentido inverso, o da minimização do risco soberano, geralmente também é estendido aos agentes econômicos.
Embora seja um serviço, os conceitos das agências classificadoras servem realmente de referência aos mercados, a ponto, por exemplo, de grupos de investidores não aceitarem aplicações em títulos de emissores que estejam no grau especulativo. Os mercados acabam cobrando um prêmio de risco para devedores nessa situação.
Não é então para agradar as agências classificadoras que a política econômica no Brasil tem de entrar nos eixos. Se sair fora do prumo, o país terá menos acessos aos mercados de crédito, o que tornará o ajuste mais difícil no futuro. O rebaixamento serve de alerta para que a atual correção de rumos seja levada bem a sério por todos os envolvidos, o que inclui não só os administradores públicos, mas os que aprovam no Congresso as condições para o ajuste.
Está dado o recado a governo e agentes políticos: ainda há tempo para o equacionamento da crise econômica — ajuste — e a debelação da crise política. Mas quando mais rapidamente tudo for feito, melhor.
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