• Presidente da Câmara diz que propostas de Renan são ‘ jogo de espuma’
• “A sensação que eu tenho, e espero que isso se transforme numa convicção, é de que a Câmara dos Deputados vai colaborar. Lá estão os representantes do povo brasileiro” Michel Temer Vice- presidente e articulador político do governo
• “Não é questão de apoiar ou de não apoiar. A Câmara sempre teve o comportamento de votar projetos do governo. Quero saber que tipo de conteúdo ( tem a Agenda Brasil). Até agora, é jogo de espuma” Eduardo Cunha Presidente da Câmara
Catarina Alencastro, Fernanda Krakovics, Júnia Gama e Simone Iglesias - O Globo
BRASÍLIA- Depois de três horas de reunião em sua residência oficial com o ex- presidente Lula, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e caciques do PMDB, o vice Michel Temer tentou botar panos quentes na disputa entre Câmara e Senado, depois que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, rompeu com o governo e Renan lançou um plano de ajuda à presidente Dilma Rousseff. Temer, que é o articulador político do governo, disse que a Câmara também se preocupa com o Brasil e que vai colaborar com o plano de 28 pontos que o Senado sugere que sejam implementados para tentar reerguer a economia. O vice disse que também terá encontro com Renan e Cunha.
— A sensação que eu tenho, e espero que isso se transforme numa convicção, é de que a Câmara dos Deputados vai colaborar — afirmou Temer, após o fim do café da manhã no Palácio do Jaburu. — Porque a Câmara também é preocupada com o país. Lá estão os representantes do povo brasileiro. Ninguém quer que o Brasil vá mal. Eu tenho absoluta convicção de que a Câmara vai colaborar.
O vice ainda saiu em defesa de Renan, dizendo estar certo de que o presidente do Senado, ao propor o pacote de socorro ao governo, não tinha a intenção de isolar a Câmara.
— Ele ( Renan) jamais quis isolar o Senado em relação à Câmara. A ideia do presidente Renan sempre foi, ao apresentar uma proposta que nasceu no Senado e que é de sua lavra, chamar a Câmara dos Deputados — pontuou Temer.
Durante a reunião, Lula elogiou a iniciativa de Renan de apresentar um pacote de medidas anticrise. O ex- presidente e a cúpula peemedebista concordaram que é preciso conversar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A avaliação que foi feita é de que, se não passar a ter uma postura mais responsável, a Câmara acabará ficando isolada.
Preocupado em não parecer que interfere no governo, Lula reconheceu dificuldades na conversa com o PMDB, mas disse que o ambiente político melhorou nos últimos dias.
— Lula disse que estava conversando não como um governo paralelo ( ao da presidente), mas como amigos preocupados com o futuro do Brasil. Para a sociedade, não interessa o “quanto pior, melhor”. E para quem for eleito ( em 2018) também não. Como vai se fazer lá na frente com as aposentadorias, com setores ganhando salário igual ao de ministro do Supremo Tribunal Federal? — disse um peemedebista que participou da conversa no Palácio do Jaburu.
Lula Critica ministros
Lula fez críticas à atuação dos ministros de Dilma, que não têm atuado na linha de frente da defesa do governo.
— É preciso que ministros compareçam aos eventos, viagens. Não estão indo e não podem ter medo das críticas e das ruas — disse, segundo relato de um dos participantes da reunião.
O ex- presidente também fez questão de desfazer o mal- estar causado por declaração de Temer na semana passada, quando o vice- presidente disse que era preciso “alguém” para unificar o país. Lula afirmou aos peemedebistas que entendeu a frase como uma tentativa de ajudar o governo, e não como um golpe na presidente Dilma.
— ( Lula) achou positiva a Agenda Brasil, como achou positiva a minha declaração na semana passada, quando alertei para a gravidade da crise. Foi muito correto nessas afirmações. Elogiou o plano, acha que nós devemos trabalhar nele — disse Temer na saída.
Além de Lula, Temer e Renan, também participaram do café da manhã quase todos os principais caciques do PMDB: os ministros Eduardo Braga ( Minas e Energia) e Henrique Eduardo Alves ( Turismo), os senadores Jader Barbalho ( PA), Romero Jucá ( RR) e Eunício Oliveira ( CE), e o ex- presidente José Sarney.
Depois, Temer seguiu para um encontro com 56 dos 57 deputados da bancada do partido na Câmara, com a presença do rebelde presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Sem uma pauta específica, a reunião serviu como primeira tentativa de flexibilizar a posição dos deputados contra o governo Dilma. Cunha, que esteve no almoço, discursou aos correligionários dizendo que não é “golpista” e que não concorda com as críticas de que armou uma pauta- bomba para prejudicar o governo.
— Não sou eu que faço a pauta. É o colégio de líderes — disse, segundo um peemedebista.
Cunha disse ter sido convidado para o café da manhã no Palácio do Jaburu, mas não compareceu por ter “outro compromisso”. Ao sair do almoço, ele disse que parte da agenda proposta por Renan já foi aprovada pela Câmara, mas alfinetou o correligionário:
— Não é questão de apoiar ou de não apoiar. Tem coisas que vão tramitar tranquilamente. Propostas boas para o país sempre terão nosso apoio. A Câmara sempre teve o comportamento de votar projetos do governo. Algumas propostas que foram colocadas são propostas nossas. Quero saber que tipo de conteúdo ( tem a agenda). Até agora, é jogo de espuma, nada de concreto e aproveitando parte da espuma aprovada pela Câmara.
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