Os conflitos entre o Executivo e o Congresso – refletidos na aprovação, pela Câmara, de sucessivos projetos hostis ao primeiro e no bloqueio, pelas duas Casas do Legislativo, de medidas básicas do ajuste fiscal – poderão ser reduzidos ou em boa parte superados, especialmente quanto ao ajuste, por meio de nova postura “pró-governabilidade” por parte do comando peemedebista do Senado, com uma concretização dos sinais de entendimento, emitidos anteontem, num encontro de tal comando com a equipe econômica. O que, ou se confirmará na prática, ou terá constituído apenas um jogo de cena. Mas que, ontem, avançou para um acordo entre o Palácio do Planalto e o presidente do Senado, Renan Calheiros, em torno de uma “Agenda para o Brasil”, cuja implicação política básica – independentemente dos pontos polêmicos e de sua viabilidade institucional – é a de um socorro ao mandato de Dilma Rousseff em troca de grande espaço no governo para o PMDB dos senadores. A rigor, porém, a superação desses conflitos e das demais variáveis da crise política dependerá dos desdobramentos da incontrolável operação Lava-Jato e da escala, maior ou menor, das manifestações de protesto que estão sendo retomadas no próximo domingo. Fatores que se juntam aos da aguda crise econômica, potencializando-se reciprocamente e mantendo as incertezas sobre a continuidade ou a interrupção do mandato da presidente Dilma. Num contexto de aprofundamento da contração da economia e de seus múltiplos efeitos sociais.
A exploração da possibilidade de que o Senado, de Renan Calheiros, se contraponha ao “oposicionismo” da Câmara, de Eduardo Cunha, era um dos ingredientes da bateria de ações em defesa do mandato de Dilma, definidas no final de julho e desencadeadas e partir daí sob orientação e comando do ex-presidente Lula. A prioridade do Lula atual – destituído dos fortes trunfos que tinha no passado: elevada popularidade e respaldo de verbas do mensalão e do petrolão – não é a recomposição de majoritária base parlamentar governista, mas a garantia de uns 200 votos na Câmara para a barragem de um processo de impeachment na Casa, de par com um relacionamento com velhos caciques do PMDB, como José Sarney, Jader Barbalho, Temer e o próprio Renan, para a viabilização da possibilidade acima referida. Agora sem a necessidade da contrapartida de aliança com o lulopetismo em eleições à frente, o que facilita sua tática de contraposição aos tucanos dos objetivos próprios que os peemedebistas passam a ter no pleito presidencial de 2018.
Quanto às ações “populares” de defesa do governo Dilma, começaram com o agressivo programa de rádio e TV do PT, juntando Dilma e Lula. Esvaziado por nova prisão, três dias antes, de José Dirceu, seguida pelo conhecimento público dos papeis dele não apenas de beneficiário do petrolão, mas também de responsável pela montagem e comando do megaescândalo quando dirigia a Casa Civil do primeiro governo Lula. E se desdobram nas contramanifestações dos “movimentos sociais” (que tiveram início na semana passada em frente ao Instituto Lula) que serão promovidas estes dias por militantes da CUT, do MST, do MTST, da UNE. Além disso, essas ações incluem vários atos de “inauguração” de obras e de promoção de programas assistencialistas, utilizados para veementes discursos da presidente sobre a “travessia das dificuldades passageiras”, e ataques a “golpistas” que querem tirá-la do governo.
Os dois fatores acima destacados – novos passos da operação Lava-Jato e as manifestações de rua do próximo domingo (além de possível nova pesquisa de opinião pública) – serão condicionantes de peso, também, para o posicionamento e atitudes diante das incertezas sobre respostas às crises política e econômica por parte das lideranças do PSDB e de outros partidos de oposição. Condicionantes que poderão ampliar o espaço de parte dessas lideranças favorável a uma articulação em torno do vice-presidente Michel Temer – como possível substituto de uma chefe de governo afastada por impeachment ou renúncia – ou reforçar as posturas daquelas radicalmente oposicionistas, que defendem uma candidatura do PSDB no caso de eleição antecipada ou preparo dessa candidatura para o pleito de 2018. À frente das quais se encontra o presidente dos tucanos, Aécio Neves.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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