Por Raymundo Costa, Thiago Resende e Raphael Di Cunto - Valor Econômico
BRASÍLIA - Menos de 24 horas após apresentar uma agenda econômica de 27 pontos ao governo, a cúpula do PMDB cobrou ontem uma agenda "pós-ajuste" do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro ocorreu no Palácio Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer. Semana passada, Temer disse que era preciso "alguém" para unir o país, o que desencadeou uma crise nas suas relações com a presidente da República, Dilma Rousseff. A ofensiva da presidente sobre o PMDB do Senado, o TCU, o Judiciário e os movimentos sociais é vista como uma das últimas cartadas da presidente Dilma para tentar se recompor politicamente e ficar no governo.
Na conversa do Jaburu, o ex-presidente elogiou a fala do vice. Segundo Lula, foi graças ao que Michel Temer disse que o governo passou a se movimentar. No domingo, Dilma reuniu no Palácio do Alvorada os ministros responsáveis pela coordenação política do governo, no dia seguinte ofereceu um jantar aos senadores e amarrou a agenda de 27 pontos.
Quem melhor resumiu o sentimento dos senadores do PMDB, na reunião com Lula, foi o líder da bancada do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE). Segundo o senador, a agenda de 27 pontos acertada com Renan Calheiros "não é um pacote econômico", é uma pauta que será submetida ao Congresso. Serão votadas e aprovadas as medidas sobre as quais houver consenso ou maioria razoável.
Os senadores do PMDB, em geral, elogiam a disposição do ministro Joaquim Levy em conversar e negociar com o Senado, mas avaliam que ele deve ir além e liderar um processo de transformação da economia brasileira. Ninguém nega a importância do ajuste, mas para os políticos é mortal ficar nessa agenda o ano inteiro. O senador Romero Jucá diz que é preciso "animação" econômica e isso o ministro não sabe ou simplesmente não fez até agora.
A negociação de Dilma com o Senado é vista como uma das últimas, se não a última cartada de Dilma para recuperar algum fôlego político e interromper as conversas sobre seu afastamento no Congresso. "Ninguém aguenta mais falar de crise", disse na reunião um dos senadores mais empenhados na manutenção do mandato da presidente.
O PMDB, no entanto, deixou registrado que viu na ação do Planalto junto aos senadores uma manobra divisionista em relação ao partido. Mas a conversa com Lula foi vista como a "recolocação" de Michel Temer como o principal interlocutor do partido com o governo e de certa forma serviu para retirar o caráter divisionista que o Palácio do Planalto deu ao acordo com o presidente do Senado.
Ao negociar com os senadores, o Palácio do Planalto tenta isolar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente rompido com o governo. No momento os interesses convergem, porque os principais caciques pemedebistas avaliam que Eduardo Cunha, para tumultuar as investigações sobre sua participação na Lava-Jato, passou a representar um efetivo risco fiscal para o país. A cúpula pemedebista, porém, queria tratar de Cunha a seu modo, no devido tempo.
Para serenar os ânimos, o vice Michel Temer reuniu-se com a bancada dos deputados. Temer disse que as bancadas na Câmara e no Senado não têm que concorrer e prometeu apresentar uma pauta que unifique o partido, segundo relato do deputado Danilo Forte (PMDB-CE). No encontro, pemedebistas disseram que a bancada na Câmara estava ficando como "patinho feio" diante da aproximação de senadores do partido com o governo em busca de um acordo para a chamada "Agenda Brasil".
Deputados também reclamaram que esse movimento do PMDB no Senado estaria isolando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), convidado não foi à reunião com Lula no Jaburu. Mas estava na conversa de Temer com a bancada e negou ser "incendiário". Disse que só colocou em votação projetos que já estavam previstos - rechaçando a ideia de que está articulando contra o governo.
O clima foi de críticas a Renan. Para os pemedebistas, o acordo para evitar a aprovação de projetos da Câmara no Senado joga a pecha de irresponsáveis sobre os deputados. "O Renan se tornou o salvador da pátria, mas esqueceram que foi ele que aprovou o reajuste do Judiciário e sentou em cima do projeto da reoneração", protestou um parlamentar.
Um dos que mais criticaram o presidente do Senado foi Eduardo Cunha, que já tornou público o desconforto com o acordo que excluiu a Câmara. O sistema, reforçou Cunha, é bicameral e é preciso o apoio das duas Casas para um projeto sair do papel.
Para o vice, o momento pede "a convergência de todos os setores, e particularmente do Legislativo". (Colaborou Lucas Marchesini)
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