- Folha de S. Paulo
• Eduardo nos deixou há um ano, mas seu legado ficou. É nosso dever ajudar a construir um Brasil do qual ele pediu para o povo jamais desistir
Qual o real peso dos líderes nos episódios mais importantes ao longo da história? Até que ponto esses protagonistas foram determinantes e fizeram a diferença, mudaram o rumo dos acontecimentos?
Essas são questões que emergem quando analisamos a falta que o ex-governador Eduardo Campos faz ao Estado de Pernambuco e ao Brasil. Na última segunda-feira (10), ele teria completado 50 anos de vida.
Eduardo foi o mais brilhante político brasileiro da sua geração. Tive o privilégio de acompanhar de perto essa trajetória, ao longo de 20 anos –mais intensamente entre 2007 e 2014, quando integrei sua equipe de secretários de Estado.
Eduardo se dividiu com perfeição no papel de líder político nacional e de gestor comprometido, atento a tudo o que dizia respeito ao governo que comandava. Era um perfeccionista que buscava suas metas com uma determinação singular.
Eduardo era esse líder diferenciado por duas razões que andam, infelizmente, escassas no Brasil: ele possuía uma imensa capacidade de dialogar e, acima de tudo, sabia se colocar no lugar do outro. Como ele dizia: "Conheço de gente". Dessa forma, Eduardo construiu um modelo de gestão que teve como objetivo melhorar a vida daqueles que mais precisam do poder público.
A partir de janeiro de 2007, Eduardo liderou em Pernambuco a implantação de um modelo de gestão que preza o mérito, o trabalho e a eficiência. Mas isso tudo só faz sentido porque o objetivo final é prestar um serviço público de qualidade ao povo pernambucano.
Foi sob esse princípio que Eduardo criou programas sociais reconhecidos internacionalmente, como o Mãe Coruja, de combate à mortalidade materno-infantil, o Pacto pela Vida, que uniu a sociedade para enfrentar a violência e reduzir o número de homicídios, o Ganhe o Mundo, responsável por abrir o intercâmbio aos alunos da rede estadual de ensino e o PE Conduz, que assegura o transporte de pessoas com mobilidade comprometida.
Eduardo dizia que o sonho dele era ver um Brasil no qual o filho do rico estudasse na mesma escola do filho do pobre. Para isso, o seu governo criou a maior rede do país de escolas públicas em tempo integral.
Nos últimos sete meses, como governador de Pernambuco, estive com várias lideranças empresariais, sindicais, políticas e da sociedade civil. Todos os que conheceram Eduardo Campos ou tiveram a oportunidade de conversar com ele relataram –sem exceção– emocionados o que foi aquela experiência.
Percebi um verdadeiro encantamento pelo que Eduardo dizia e defendia. Olho no olho, Eduardo tinha essa capacidade formidável de falar com a esperança de um Pernambuco melhor, de um Brasil mais desenvolvido, mais justo e solidário.
Eduardo não desistia. Não se intimidava diante das dificuldades. É de sua lavra a recomendação, que busco cumprir, de "não dar intimidade a problema". A paixão com a qual defendia suas ideias e propostas iria conquistar o povo brasileiro naturalmente, como conquistou os pernambucanos.
Eduardo Campos foi tirado da gente há um ano, coincidentemente no mesmo dia 13 de agosto em que, dez anos atrás, doutor Miguel Arraes, seu avô, também nos deixou. O legado de ambos, entretanto, permanecerá vivo, defendido pelos companheiros de PSB (Partido Socialista Brasileiro), amigos, admiradores e familiares.
Enquanto aqui esteve, Eduardo fez a diferença. Como todos os grandes líderes da humanidade. É nossa obrigação conduzir o seu legado e seus ideais de um Brasil que ele teve a esperança de ajudar a construir. De um Brasil do qual ele pediu para o povo jamais desistir.
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Paulo Câmara, 43, é governador do Estado de Pernambuco e vice-presidente nacional do PSB (Partido Socialista Brasileiro)
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