• EUA, Itália e Peru já negociam acordos de colaboração com envolvidos na operação, entre eles Youssef, Barusco e Júlio Camargo; ex-ministro José Dirceu também é alvo
Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo
CURITIBA, SÃO PAULO - Forças-tarefas de pelo menos três países já negociam acordos de colaboração premiada com delatores da Operação Lava-Jato. Autoridades dos Estados Unidos, Itália e Peru estiveram em Curitiba, em contatos com advogados e procuradores para colher informações. Entre os procurados estão o doleiro Alberto Youssef, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o lobista Júlio Camargo. Os trabalhos mais adiantados até agora, porém, são os da força-tarefa italiana, que apura a participação das empresas Techint e Saipen no esquema de corrupção da Petrobras.
A força-tarefa da Itália já teve acesso a depoimentos de João Antonio Bernardi Filho, que foi funcionário da Saipen e atuou como operador de propina para o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Os investigadores querem saber se ele operou pagamento de propina para a Saipen e para a Techint, empresas italianas. Bernardi forneceu detalhes sobre pagamentos da Saipen, que desembolsou propina para assegurar contrato nas obras do gasoduto submarino, que interliga os campos de Lula e Cernambi. Contou ter movimentado cerca de R$ 9,4 milhões para Duque.
O maior interesse das autoridades italianas, no entanto, é a participação da Techint. Em relatório da Polícia Federal, ela aparece como dona do segundo maior volume de contratos obtidos entre as 27 empresas do cartel, atrás apenas da Odebrecht. O nome da companhia apareceu envolvido nas irregularidades da usina Angra III, por suposto pagamento de propina a Othon Silva, ex-presidente da Eletronuclear. A multinacional colabora com as investigações. Até o fechamento desta edição, a Saipen e Techint não se pronunciaram.
O ex-ministro José Dirceu também é alvo. Investigadores peruanos pediram informações sobre os contratos de consultorias que Dirceu fez. O ex-ministro é acusado de intermediar reuniões com políticos do Peru com auxílio de Zaida Sisson, mulher do ex-ministro da Agricultura do Peru Rodolfo Bravo. Dirceu é alvo ainda da Procuradoria de Portugal, que investiga corrupção em negócios da Portugal Telecom e do Grupo Espírito Santo no Brasil. O advogado do ex-ministro disse que não teve acesso as investigações, mas que tem “certeza de que não há irregularidade” da parte de Dirceu.
Desde o início das investigações, os americanos tiveram acesso às informações da Lava-Jato. O objetivo é garantir ressarcimento de perdas a fundos de investimentos e a fundos de pensão que entraram com ação na Corte de Nova York contra a Petrobras.
Ontem, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa reafirmou que o lobista Fernando Baiano era o operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Costa disse que Baiano tinha uma relação próxima com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), e que “com certeza colocava dinheiro no PMDB”. Desde o início das investigações, Renan nega envolvimento no esquema. Costa voltou a citar políticos que teriam recebido propina.
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