Por Andrea Jubé, Ribamar Oliveira, Raymundo Costa e Cristiano Romero – Valor Econômico
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com aval do ex-presidente Lula, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles está conversando com líderes políticos governistas sobre cenários econômicos para o Brasil, em encontros realizados em São Paulo. As conversas estão sendo interpretadas pelos interlocutores como sondagens sobre uma eventual substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas uma fonte próxima a Meirelles disse que ele "está quieto em seu canto".
Lula e outros líderes do PT estão há semanas no processo de persuasão da presidente Dilma para que ela aceite a troca. Meirelles tem dito a Lula que aceitaria a missão, desde que possa indicar toda a equipe econômica.
Meirelles começa a discutir cenários com líderes políticos
Com autorização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles está conversando com líderes políticos governistas sobre cenários econômicos para o Brasil, em encontros realizados em São Paulo. As conversas estão sendo interpretadas pelos interlocutores como sondagens sobre um eventual ingresso do ex-presidente do BC no governo, em substituição ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O Valor PRO, o serviço em tempo real do Valor, conversou com um desses interlocutores, que ficou impressionado com a clareza da análise do ex-presidente do Banco Central sobre os desafios da economia brasileira que precisam ser enfrentados.
Lula e outros líderes do PT estão há semanas no processo de persuasão de Dilma para que ela aceite Meirelles. Recentemente, Dilma lembrou a Lula de suas restrições ao ex-presidente do BC: "Você sabe que eu não gosto dele", disse a presidente a seu antecessor. Lula respondeu, satisfeito, que a situação está "melhorando", porque "não gostar" é um grande avanço em comparação ao cenário anterior, que era de que Dilma não podia nem ouvir o nome do ex-presidente do BC. "A Dilma também não gosta do Levy", lembrou Lula a um interlocutor.
Meirelles tem dito a Lula, segundo essas fontes, que aceitaria a missão de comandar a economia se for convidado, mas com algumas condicionantes. Ele gostaria de indicar toda a equipe econômica, ou seja, o presidente do Banco Central e o ministro do Planejamento. Segundo esses interlocutores, as mudanças são necessárias porque Meirelles acredita que a equipe econômica tem de ter "unicidade", ou seja, falar a mesma língua.
Entre líderes partidários, inclusive do PSDB, a eventual nomeação de Meirelles para o Ministério da Fazenda é vista como uma barreira ao impeachment da presidente. A posse do ex-presidente do Banco Central de Lula poderia interromper, pelo menos por enquanto, o processo de perda de credibilidade e deterioração da autoridade do governo Dilma.
Essa é uma avaliação corrente no PSDB, mas também em setores do PMDB mais vinculados à ideia de trocar a presidente por seu vice Michel Temer. Na realidade, até o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), em uma intervenção no plenário, sugeriu que é possível a "recuperação da credibilidade" com um novo governo, mesmo mantendo a presidente Dilma à frente.
"Nós precisamos trabalhar para fazer como ter um governo que traga para nós a credibilidade - pode ser até a própria presidente Dilma, se for o caso -, traga uma nova postura, com um novo governo nos seus Ministros, com uma nova postura na relação com os partidos, com o Congresso", disse Cristovam. O senador do Distrito Federal não falou em Meirelles, mas seus partidários avaliam que o figurino cabe à perfeição no ex-presidente do BC.
Fontes do PT, por outro lado, disseram que Meirelles tem condições de estabelecer boas relações com o PSDB, partido pelo qual foi eleito deputado federal em 2002, e no PMDB do vice Michel Temer, ao qual também já esteve filiado. As mesmas fontes asseguram, no entanto, que Meirelles só teria sucesso na empreitada se tivesse carta branca para agir e para nomear os principais nomes da área econômica.
A articulação em torno da "saída Meirelles" resulta da constatação, feita por líderes da base governista, de que o ministro Joaquim Levy não teria mais condições de comandar a economia. "O Levy já não é mais operacional, já não articula as medidas do governo", disse um importante líder. "Não acredito que ele chegue no cargo até o fim deste ano", acrescentou. Na realidade, desde que Lula negociou com Dilma a reforma do ministério, a sorte de Levy estava selada, de acordo com fontes que participaram das reuniões. O que não está definido é o nomes do seu sucessor. Lula quer Meirelles, Dilma preferiria outra solução.
Ontem à noite, o ministro Levy foi convidado para um jantar na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que teria a participação de senadores do partido e de senadores independentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário