• No final da tarde, cresceram rumores de que Henrique Meirelles, ex-chefe do BC, substituiria ministro da Fazenda
Valdo Cruz, Giuliana Vallone
BRASÍLIA, SÃO PAULO - Alvo de pressões de petistas e até de empresários, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) está disposto a resistir à nova onda para tirá-lo do posto enquanto considerar que tem o apoio da presidente Dilma dentro do governo.
Apesar de se sentir isolado, Levy tem recebido da presidente sinalizações de que mantém o apoio à sua política de ajuste fiscal como passo essencial para garantir a retomada do crescimento da economia brasileira.
Além do apoio de Dilma, o ministro da Fazenda aponta outro motivo classificado por ele como fundamental para sua permanência no governo: aprovar um Orçamento da União para 2016 que garanta um superavit primário.
Dentro do Palácio do Planalto, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) tem dito que não há motivo para tirar Levy do cargo e que o governo vai priorizar, nesta reta final de ano, a aprovação das medidas do pacote fiscal –o que está em linha com o que defende o ministro da Fazenda.
A Folha apurou, porém, que defensores de que o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) substitua Levy estão por trás dos rumores, divulgados ontem, de que estaria sendo costurada a substituição de Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Para integrantes do grupo de Lula, a presidente só vai aceitar Meirelles no lugar de Levy quando a situação econômica piorar ainda mais, com nova perda de grau de investimento, dólar em alta e quebra de empresas no país.
Alguns banqueiros acham pouco provável que Meirelles volte ao governo e interpretaram a movimentação como "fogo amigo", uma tentativa de alas do governo interessadas em enfraquecer Levy e forçar sua saída.
No Ministério da Fazenda, a avaliação é que Joaquim Levy está sendo alvo não só de petistas, mas também de empresários insatisfeitos com o corte de subsídios que garantia crédito a baixo custo do BNDES para seus negócios.
O ministro conseguiu o apoio de Dilma para não liberar mais recursos para o BNDES, depois de cortar R$ 30 bilhões do crédito do banco, reivindicado principalmente pelo setor automotivo.
Levy aceitou analisar apenas a ampliação, para o final deste mês, do prazo de adesão ao PSI (Programa de Sustentação do Investimento), que venceu em 30/10.
reação
Reação
As especulações sobre a saída de Levy do cargo mexeram com o mercado financeiro no fim da tarde desta terça (10).
Na Bolsa brasileira, em que o Ibovespa terminou o dia com leve avanço de 0,03% (para 46.206 pontos), as principais ações acentuaram o movimento de alta nas negociações após o fechamento do pregão.
Os papéis preferenciais do Itaú, que possuem o maior peso dentro do índice, tiveram alta de 1,57% nas negociações noturnas —no horário regular, a elevação havia sido de 0,62%. O mesmo aconteceu com as ações do Banco do Brasil, cujo ganhou foi de 0,88% para 1,94%.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, acentuou a queda por volta das 17h, nas negociações realizadas após o fechamento do dia (às 16h, a R$ 3,788). A moeda, que chegou a valer R$ 3,7329, era cotada a R$ 3,7501, em queda de 1,01%, às 20h44 —a variação considera os mercados internacionais, que ainda operavam neste horário.
De acordo com analistas, a tendência da taxa de câmbio já era de queda, influenciada pela estratégia do Banco Central de realizar leilões no mercado como forma de se antecipar à demanda sazonal de fim de ano, quando aumenta o valor enviado ao exterior para pagamento de dívidas e remessas de lucros, por exemplo.
A notícia da possível saída do ministro da Fazenda, no entanto, dominou as negociações no fim do dia. Parte do mercado avalia que a substituição de Levy pode ser positiva, já, de acordo com analistas, o ministro perdeu força para realizar o ajuste fiscal necessário. "A notícia se torna potencialmente boa, mais pela mudança em si do que pelo nome de Meirelles", afirmou um operador.
Para André Perfeito, da Gradual Investimentos, é preciso encarar as especulações com cautela. "Estão demitindo o Levy desde o início do governo. E a presidente Dilma Rousseff tem dado apoio a ele durante todo esse período", disse. "O mercado está numa fase de autoengano muito grande. Tirar o Levy sem um nome para substituir é o o pior dos mundos.
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