• Ao abrir nova audiência de interrogatório de ex-diretor da Petrobrás, juiz da Operação Lava Jato admite esgotamento; Paulo Roberto Costa cita Renan, Gleisi, Humberto Costa, Sérgio Guerra...
Por Ricardo Brandt, Fausto macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo
O juiz federal Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Operação Lava Jato em primeira instância, está cansado. Ele próprio admitiu isso ao inaugurar mais uma audiência de depoimento do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento), na segunda-feira, 9.
“Bem, sr. Paulo sei que o sr. já foi ouvido sobre fatos similares várias vezes, sei que o sr. já manifestou que está cansado de relatar esses fatos, mas é essa é uma outra ação penal. Infelizmente, o sr. tem que relatar parte desses fatos novamente. O sr. está cansado de falar, eu também estou cansado de ouvir um pouco essa história. Isso não é um consolo, mas…”, disse Moro.
“Mas acho que estamos na reta final, Excelência”, respondeu Paulo Roberto Costa.
Primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor tem a obrigação de colaborar com a Justiça. Assumiu o compromisso no contrato que firmou com a força-tarefa do Ministério Público Federal. Ele reside no Rio, mas constantemente se desloca a Brasília e a Curitiba. Depõe na Polícia Federal, é submetido a longas acareações. Tem que falar em todas as ações criminais na Justiça Federal no Paraná.
“Eu vou tentar ser bastante objetivo, então’, prosseguiu Sérgio Moro. “O sr. foi diretor da Petrobrás?”, foi a primeira pergunta do juiz da Lava Jato, a mesma pergunta que faz em todas as audiências de Paulo Roberto Costa.
O ex-diretor ocupou o cargo estratégico na estatal petrolífera entre 2004 e 2012. Em sua delação, fechada em agosto de 2014 – cinco meses depois que a Lava Jato iniciou sua fase ostensiva -, apontou deputados, senadores e governadores como supostos beneficiários de propinas na Petrobrás.
Na segunda-feira, 9, ele foi chamado para depor sobre o cartel de grandes empreiteiras que tomaram posse de contratos bilionários da estatal, segundo o Ministério Público Federal. Desta vez, para falar sobre o suposto envolvimento da Andrade Gutierrez.
As audiências da Lava Jato são filmadas. Mas a defesa do ex-diretor pediu a Moro, mais uma vez, que não deixasse filmar o rosto do delator – tantas vezes filmado em audiências anteriores. O juiz consentiu.
A câmera ficou fixada em algum ponto do teto da sala do magistrado. Aberto o interrogatório, o juiz Moro indagou, mais uma vez, se ele ‘teve amparo político’ para assumir a Diretoria de Abastecimento. “Tive apoio do Partido Progressista.”
“O sr., no exercício desse cargo, teve conhecimento de algo que o Ministério Público denomina cartel de empreiteiras?”, questionou Moro, mais uma vez.
“Sim”, respondeu Paulo Roberto Costa…
“Pode descrever?”, prosseguiu Moro…
“Positivo, Excelência….. Entrei em maio de 2004 na Diretoria de Abastecimento. Nos primeiros anos, 2004, 2005, não tinha obras nem orçamento. Começou no final de 2006. Nesse período não tinha muito contato com as empresas. Esse contato foi aumentando a partir dessa data, onde a área de Abastecimento começou a ter projetos e orçamento…”
O juiz perguntou se houve pagamento da área de Abastecimento para outros partidos, que não o PP. “Houve pagamento de R$ 10 milhões para o senador Sérgio Guerra (PSDB/SP, morto em março de 2014), houve pagamento para o senador Valdir Raupp (PMDB/RO), houve pagamento para a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), para o senador Humberto Costa (PT/PE), para o senador Lindberg, lá do Rio.
Talvez mais algum outro que não estou lembrando agora…”
Moro perguntou sobre o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, outro delator da Lava Jato, apontado como operador de propinas do PMDB. “O sr. Fernando Soares efetuava pagamento para outros partidos?”
“O sr. Fernando Soares falou várias vezes que tinha uma relação muito forte com o PMDB e que tinha reuniões frequentes com o senador Renan Calheiros (PMDB/AL). Então, tudo leva a crer que ele tinha uma relação mais do que, vamos dizer assim, social com essas pessoas. O relacionamento do sr. Fernando Soares era uma coisa muito estreita. Ele comentou que teve reuniões com o pessoal do PMDB em relação a como fazer alocação de recursos. E nessa reunião foi dito que os projetos novos que viessem seriam alocados recursos para o PMDB.”
Sérgio Moro indagou do ex-diretor da Petrobrás sobre seus contatos na Andrade Gutierrez. “Rogério Nora, Elton Negrão, Paulo Dalmazzo.”
“Otávio Marques?”, perguntou o magistrado, referindo-se ao presidente da empreiteira. “Eu cheguei a conhecer, conversamos várias coisas. Nunca tratei de valores indevidos com ele.”
Todos os políticos citados por Paulo Roberto Costa negam categoricamente recebimento de propinas do esquema na Petrobrás. A defesa da Andrade Gutierrez diz que só se manifesta nos autos.
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