Atendendo a um apelo do setor automotivo, o governo reabriu o prazo para as indústrias se candidatarem ao PSI, uma linha de crédito subsidiado do BNDES que fora alvo de cortes no ajuste fiscal. O ministro Levy foi contra a decisão, e sofreu novo desgaste com a presidente Dilma.
Governo atende a montadoras e Levy sofre novo desgaste
• Ministro foi voto vencido em decisão sobre empréstimo subsidiado
Martha Beck, Cristiane Jungblut, Maria Lima Ana Paula Machado - O Globo
-BRASÍLIA e SÃO PAULO- Pressionado pelo setor automotivo, o governo reabriu o prazo para que empresas apresentem ao BNDES pedidos de financiamento com recursos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A medida deixa claro que a presidente Dilma Rousseff está cada vez mais preocupada em atenuar os efeitos da recessão. Embora continue a fazer a defesa pública do ajuste fiscal, Dilma aos poucos se afasta do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que resiste em adotar ações que possam afetar o reequilíbrio das contas públicas. Ele participou das negociações, segundo a Anfavea (associação de montadoras), mas foi voto vencido, em mais um desgaste do ministro no governo.
Em 23 de outubro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou redução de R$ 30,5 bilhões nos limites para empréstimos do programa. O montante para o PSI, que se encerra no dia 31 de dezembro, baixou de R$ 50 bilhões para R$ 19,5 bilhões. O CMN também fixou prazo que não existia: as empresas tinham até 30 de outubro para pedir os empréstimos.
Isso deu ao setor produtivo apenas uma semana para que os pedidos fossem protocolados. O setor automotivo, que é um dos principais favorecidos pelas linhas subsidiadas do PSI, procurou o governo para pedir prorrogação. Levy resistiu. Ele alegou que a ideia foi reduzir os custos do Tesouro com a diferença de juros do programa em relação ao custo de captação no mercado. A reabertura do prazo poderia gerar mais despesas este ano.
A redução do limite ainda deixava recursos para novos empréstimos. Até outubro, o total financiado foi de R$ 7 bilhões. Havia sobra de R$ 12,5 bilhões. Com o prazo de 30 de outubro, eram baixas as chances de que o valor subisse, pois não haveria tempo suficiente para as empresas.
A pressão das indústrias funcionou. E mesmo com a oposição de Levy, Dilma decidiu ceder aos apelos dos empresários. Interlocutores do Planalto afirmam que o ministro tem ficado isolado, o que o torna enfraquecido e cada vez mais alvejado por seus desafetos dentro e fora do governo. Levy tem participado cada vez menos das reuniões de coordenação política.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula tem se movimentado para tentar convencer Dilma a tirar Levy. O nome preferido é do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Petistas que têm conversado com o candidato de Lula afirmam que Meirelles tem dito que é preciso retomar o crescimento e que não se pode apenas pensar em corte de despesas. Ele também estaria indicando que aceitaria um convite para voltar ao governo. Nos últimos dias, Meirelles chegou a promover uma ofensiva e ligar para senadores para fazer uma avaliação do quadro econômico atual. Segundo interlocutores, Lula disse na semana passada, após encontro com a presidente, que não acredita na permanência de Levy na Fazenda após janeiro.
Em ‘ato falho’, menção a Meirelles
Ontem, o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), cometeu o que chamou de “ato falho” ao ver um cenário econômico melhor com Meirelles. Delcídio foi um dos que teriam se reunido com Meirelles na última semana e pertence à ala do governo e do PT que cobra de Levy plano de recuperação que não seja só o aumento de impostos. Ao comentar a dificuldade de aprovar na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que fixa teto do endividamento público, Delcídio disse que o projeto só seria viável se houver equilíbrio econômico.
— O governo nesse momento não tem meta, não tem orçamento, como vai fazer teto de endividamento? Se o Meirelles vier e estabilizar a economia, aí fica mais fácil — brincou Delcídio, dizendo depois que o comentário foi “um ato falho”.
Governadores que lançaram ontem o Consórcio Brasil Central, para desenvolver projetos de PPPs, cobraram aprovação do ajuste fiscal, mas são contra a CPMF.
— O ministro Levy tem sido correto conosco e não acho que vá sair. Mas ele precisa de apoio — disse o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
A Anfavea confirmou que seu presidente, Luiz Moan, pediu autorização ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para anunciar a reabertura do PSI. Segundo um executivo, a Anfavea negociou a medida com o governo durante a semana passada. Levy foi um dos interlocutores, além do Nelson Barbosa, do Planejamento, e de Wagner. Até a presidente Dilma Rousseff teria participado. Segundo ele, Levy foi contra a reabertura do programa.
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