Por Rodrigo Rocha e Carolina Mandl – Valor Econômico
• Setor de energia, que atraiu grupos chineses, envolveu aquisições de CPFL e Paranapanema no trimestre passado
SÃO PAULO - A perspectiva de maior estabilidade econômica e política no médio e longo prazos destravou o mercado de fusões e aquisições no Brasil, com forte participação de empresas estrangeiras.
Segundo levantamento da Transactional Track Record (TTR), consultoria especializada no monitoramento de negócios, em colaboração com a Merrill Corporation, das cinco maiores operações encerradas no Brasil no terceiro trimestre, em quatro companhias estrangeiras foram compradoras.
De julho a setembro, dos US$ 98,9 bilhões movimentados em fusões, aquisições, investimentos de "venture capital" e "private equity" no país - um avanço de 109% em relação ao mesmo período do ano passado -, cerca de US$ 46,2 bilhões, ou 46,7%, estavam relacionados a estrangeiros vindo às compras no Brasil. No ano até setembro, essas operações de estrangeiros alcançaram US$ 79 bilhões.
E o interesse é crescente. Só nesta semana, houve o anúncio da venda da Duke Energy Paranapanema para a chinesa CTG, por US$ 969,5 milhões, e a compra da fabricante de alimentos Parati pela Kellogg, por R$ 1,4 bilhão.
As aquisições mais recentes indicam que os negócios não acontecem apenas a partir de oportunidades em empresas endividadas ou em processo de recuperação judicial, mas integram uma estratégia de expansão das estrangeiras no mercado local. Há companhias comprando concorrentes para ganhar escala.
Além do setor de energia, que desde o fim do segundo semestre vem atraindo estatais chinesas, as atenções dos investidores voltam-se para os setores de infraestrutura - em razão da difícil situação das construtoras depois da Operação Lava-Jato - e de petróleo e gás - não só por conta da venda de ativos da Petrobras, mas também por um processo de reorganização das companhias.
"Há também fundos americanos interessados na área de educação, saúde, tecnologia. E os [fundos] canadenses com interesse na área imobiliária", diz Carlos Lobo, do Veirano Advogados. Para analistas, a conclusão do processo de impeachment impulsionou essa onda.
Estrangeiro volta a investir no país
Concluído o processo de impeachment, a perspectiva de maior estabilidade econômica e política começa a destravar o mercado de fusões e aquisições de empresas no Brasil, trazendo de volta principalmente o interesse de companhias estrangeiras em investir no país. Longe de se restringir a ativos com problemas financeiros, o movimento faz parte da estratégia de expansão das grandes companhias globais.
Segundo levantamento da Transactional Track Record (TTR), consultoria especializada no monitoramento de aquisições, em colaboração com a Merrill Corporation, das cinco maiores operações encerradas no Brasil no terceiro trimestre, quatro estavam ligadas à companhias estrangeiras adquirindo negócios no país: CPFL (State Grid), usina Ilha Solteira (China Three Gorges), bloco BM-S-8 da Petrobras (Statoil) e Anglo American Niobio (China Molybdenum Company). A exceção é a compra do HSBC pelo Bradesco.
De julho a setembro, dos US$ 98,9 bilhões movimentados em fusões, aquisições e investimentos de venture capital e private equity no Brasil - um avanço de 109% em relação ao mesmo período do ano passado -, cerca de US$ 46,2 bilhões, ou 46,7%, foram desembolsos de investidores estrangeiros. No acumulado do ano essa participação é de cerca de 40%, com US$ 79 bilhões, o que mostra o ânimo crescente dos investidores internacionais.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais mostram que de janeiro a junho as compras de empresas brasileiras por estrangeiros representaram 42,1% das operações totais por número, superando os percentuais de aquisições por companhias locais (34,2%), de estrangeiras por brasileiras (15,8%) e entre empresas estrangeiras (7,9%). No primeiro semestre de 2015, as aquisições de estrangeiros representaram 38%.
"O mercado de fusões e aquisições está voltando. Existe uma expectativa agora da retomada do poder aquisitivo, de equalização das perspectivas econômicas", diz Daniel Gunzburger, sócio do escritório Tauil & Chequer Advogados. "Há um crescimento substancial de análises por estrangeiros de M&A [fusões e aquisições]."
Nesta semana teve o anúncio da venda da geradora de energia Duke Energy Paranapanema para a China Three Gorges por US$ 969 milhões e da compra da fabricante de alimentos Parati pela americana Kellogg's por R$ 1,4 bilhão.
Uma diferença notada pelos envolvidos neste tipo de operação é que as aquisições mais recentes não se aproveitam apenas de companhias endividadas ou em processo de recuperação, mas integram a expansão das empresas para o mercado brasileiro. "Há, por exemplo, companhias presentes no Brasil interessadas na consolidação no setor, para se beneficiar de escala, vendo oportunidade de compra de uma concorrente", afirma Marcelo Perlman, do PVG Advogados.
Responsável pela área de fusões e aquisições no Bradesco BBI, Alessandro Farkuh, diz que os estrangeiros buscam tanto consolidar uma presença que já têm no Brasil, quanto criar uma plataforma local. "Isso demonstra que a insegurança com o Brasil está deixando de existir."
Outros fatores também pesam para o maior volume de recursos estrangeiros no Brasil. Em um momento de restrição de crédito, o maior acesso a fontes de financiamento é um ponto a favor de companhias globais, segundo Marco Gonçalves, chefe da área de fusões e aquisições do BTG Pactual. Para comprar a fatia da Camargo Correa na CPFL, por exemplo, os chineses da State Grid vieram com recursos no bolso, sem a necessidade de usar linhas de financiamento.
Gonçalves explica, porém, que a recente reabertura do mercado de ações voltará a trazer competitividade às companhias brasileiras, já que elas podem captar recursos via bolsa de valores para fazer aquisições. Em setembro, a empresa de software para o varejo Linx captou R$ 444 milhões por meio de uma oferta de ações com o objetivo de ir às compras.
O setor de energia, desde o final do segundo trimestre, vem atraindo as atenções dos chineses que, além da geradora Paranapanema, compraram a fatia da Camargo Correa na CPFL Energia, numa operação que até o momento movimentou cerca de R$ 13,5 bilhões. "Era um setor que já vinha sendo estudado desde o ano passado", destaca Gunzburger. A expectativa é de novos negócios no setor de energia nos próximos meses.
Outras áreas que devem movimentar o interesse dos estrangeiros são infraestrutura - pela situação mais delicada das brasileiras do setor -, e petróleo e gás, não só por conta da venda de ativos da Petrobras, mas também por um processo de reorganização das companhias.
"Há também os fundos americanos interessados na área de educação, saúde, tecnologia. E os [fundos] canadenses com interesse na área imobiliária", conta Carlos Lobo, da Veirano Advogados. Apesar de pouco ativos até agora nas compras, a expectativa é que os fundos estrangeiros de private equity também retornem às aquisições.
Tradicionalmente responsáveis por cerca de 30% das transações de fusões e aquisições no Brasil, os fundos de private equity só anunciaram cinco das 38 transações divulgadas no período.
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