sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Candidato a chefe - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• No dia em que Lula virou réu em Brasília, a frente de erosão da crise ética atravessou o salão verde e foi para o salão azul do Senado

Não, desta vez não foi o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que, quanto mais o PT tenta demonizar, mais é endeusado pela sociedade. Quem aceitou a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, que a opinião pública mal conhece. Ele abriu uma ação penal contra o líder petista, o sobrinho da primeira mulher dele Taiguara dos Santos, o empresário Marcelo Odebrecht e outras oito pessoas. Lula agora é réu em mais um processo. Dessa vez, responde por crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de influência. O Ministério Público do Distrito Federal, e não a “espetaculosa” força-tarefa de Curitiba, acusa Lula de envolvimento em fraudes relacionadas a contratos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Por uma dessas ironias do destino, a notícia correu o mundo no momento em que o presidente Michel Temer faz uma viagem à Índia e ao Japão, em busca de mais investimentos e negócios para o Brasil. Lula está sendo processado por causa dos negócios que patrocinou para a Odebrecht em Angola, financiados pelo BNDES. Esse é o rabo de fora de um suposto esquema de financiamento do seu projeto de poder. Em nota da assessoria do Instituto Lula, o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, diz que Lula é “vítima” de uma “guerra travada por meio da manipulação das leis para atingir alguém que foi eleito como inimigo político”. Se for isso mesmo que a defesa alega, Lula continua enrascado. Abriu-se uma terceira frente de batalha: as outras são a de Curitiba e a do Supremo Tribunal Federal (STF). A acusação mais grave é a de participação em organização criminosa.

A propósito, ontem, em Curitiba, o senador Gim Argelo (PTB-DF) foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 19 anos de prisão. O político de carreira meteórica assumiu o mandato no Senado como suplente do ex-governador Joaquim Roriz, que renunciou para não ser cassado, logo após reeleição de Lula, em 2010. Durante o governo Dilma, foi um dos líderes da base governista, que havia conquistado ampla maioria, depois que Lula limpou a área no Senado, derrotando os seus principais desafetos naquela Casa. Hoje, alguns deles estão de volta ao Congresso, como o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Homem-bomba
Quem perdeu a eleição foi Gim Argelo, que agora está preso. Por que um personagem que hoje está fora da política merece tanto destaque? Primeiro, porque foi um político influente na capital federal, apesar de sem-voto. Segundo, porque sua condenação é das mais altas. Por essa razão, pode ser que negocie uma delação premiada. Se isso ocorrer, a cúpula do Senado e os ex-presidentes Lula e Dilma estarão em mais apuros. Ele também fazia o jogo pesado do governo no Senado, disputando influência com o atual presidente do PMDB, senador Romero Jucá, no grupo liderado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa. É o novo homem-bomba na Lava-Jato.

Outra ironia: durante todo o processo de impeachment, a crise ética rondou a presidência da Câmara, da qual foi ejetado o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que quase apanhou de uma senhorinha num voo comercial. Depois que foi cassado pelos próprios pares, Cunha baixou a bola e foi cuidar da sua defesa. Toda vez que um petista é preso ou condenado, seu nome é lembrado, Mas está mergulhado.

Agora, a frente de erosão da crise ética atravessou o salão verde e foi para o salão azul do Senado, cuja cúpula está enrolada na Lava-Jato. Frio e estrategista, Renan Calheiros evita cometer os erros de Cunha e se movimenta como parceiro do presidente Michel Temer na aprovação do ajuste fiscal. Se tudo der certo, deixará a presidência do Senado, em fevereiro, e voltará a ser o líder da bancada do PMDB. Seu destino está nas mãos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, algoz de Cunha, e do relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki.

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