A China tinha saído de cena como um dos fatores de risco imediato para a economia mundial e fez uma reaparição ontem, que poderá ser breve. Os números do comércio exterior do país foram inquietantemente baixos, com queda de 10% nas exportações nos doze meses encerrados em setembro, e uma redução de 1,9% nas importações. O temor, ressuscitado, foi de uma desaceleração mais acentuada da economia chinesa, ampliando a fraqueza econômica global. O contrário, porém, é mais plausível: a fraqueza econômica global pesa sobre a China, o maior importador e exportador do planeta. As estatísticas chinesas podem ser apenas mais um capítulo ilustrativo da redução do comércio internacional desde a crise de 2008 e especialmente após 2011.
A reação baixista dos mercados financeiros mostram sensibilidade acentuada ao futuro do crescimento chinês. Por esse lado, porém, não há até agora mudanças significativas, em um cenário em que o governo chinês tem empurrado para frente os desequilíbrios financeiros de empresas chinesas, mergulhadas em dívidas, e dos bancos, com boa concentração de empréstimos que nunca serão pagos. Os juros foram reduzidos, os compulsórios também, enquanto se tomam medidas pontuais para de novo esfriar o mercado imobiliário e estourar suavemente uma enorme bolha de crédito.
Diante de enorme capacidade ociosa em diversos setores da indústria, a transição para um modelo voltado menos ao investimento e mais ao consumo tem sido lenta e cheia de recuos. Mas está sendo feita de uma forma que tende a reduzir as importações, cuja intensidade em relação ao consumo é metade daquela do investimento na matriz insumo-produto do país. Além disso, a China subiu na cadeia de produção e o conteúdo nacional embutido nos produtos de exportação subiu de apenas 50% para 70%.
A queda nas exportações chinesas em setembro, coadjuvadas pelas da Coreia do Sul e Taiwan, reforçam o quadro de baixo crescimento global, que tem derrubado, com uma intensidade inédita em décadas, o comércio internacional. As vendas para a União Europeia declinaram 9,8% em doze meses, 8,1% para os EUA e 7% para o Japão. O declínio está em linha com o menor crescimento do PIB mundial (FMI), de 3,1%, e do comércio global para 1,7% em 2016 (previsão da OMC).
O FMI considera o menor ritmo do comércio internacional um "sintoma da desaceleração sincronizada registrada nos países desenvolvidos e nos emergentes", cujo efeito mais claro é a redução dos investimentos. Por isso, os bens de capital ocupam o primeiro lugar na queda e os intermediários vêm em seguida. Pelos cálculos do FMI, fraqueza econômica e baixo investimento explicam dois terços do refluxo comercial entre os países.
As estatísticas de importação de setembro da China não indicam por enquanto uma desaceleração inesperada, embora as compras para uso doméstico tenham sido o fator preponderante para a redução. Já as compras de petróleo no período de um ano subiram 18,3% e as de minério de ferro, 8%.
Há duas fontes de risco associadas aos dados mensais, que são muito voláteis. Além das preocupações sobre o ritmo de crescimento chinês, que parece diminuir gradativamente, como esperado, há a suspeita e o temor de que o desempenho ruim do comércio exterior chinês reflita, isto sim, uma nova rodada de enfraquecimento da economia global. Há evidências mais robustas disso na União Europeia e no Reino Unido, uma preocupante estabilidade no baixo nível de crescimento da economia japonesa, e indícios não muito claros sobre a economia dos Estados Unidos, que, de qualquer forma, crescerão menos em 2016 pela performance mais fraca registrada no primeiro semestre.
A julgar pelo tom dominante nas reuniões do Federal Reserve americano, que indicou como resultante a chance de aumentar os juros "em breve", não se vislumbra nada parecido com um esfriamento da economia americana. Mas o Fed já rebaixou sucessivamente as estimativas de crescimento e não há garantia de que realmente eleve os juros em dezembro, mês no qual as apostas dos mercados financeiros se concentram. É possível que haja novo viés de baixa para a economia dos países desenvolvidos e da China, em uma magnitude que não deve surpreender. Os investidores, porém, estão com a sensibilidade à flor da pele, à espera de uma nova crise.
Nenhum comentário:
Postar um comentário