- O Globo
Presidente Michel Temer admite que pode haver um fim antecipado do teto de gastos, em 4 ou 5 anos, se ocorrer um cenário em que a economia cresça mais fortemente, elevando as receitas. A ideia de que o teto do gasto público pode ser revisto mais cedo foi defendida pelo presidente Michel Temer dentro do contexto de um cenário bom, em que o país cresça, elevando a arrecadação. Ele acha que, se isso acontecer, o governante poderá propor a mudança através de emenda constitucional. É um cenário possível, mas muito difícil de se atingir e precisa de controle de gastos para se chegar lá.
‘Não me incomodo com a falta de popularidade,’ disse o presidente Temer ontem, na entrevista que me concedeu. E repetiu que não quer ser candidato. Por isso, está disposto a uma pauta impopular como a de limitar a correção das despesas públicas à inflação do ano anterior.
— Nós fixamos agora em 20 anos, visando o longo prazo, com revisão em 10 anos. Mas se daqui a quatro ou cinco anos o país estiver crescendo, aí se pode mudar isso por meio de uma emenda constitucional — disse o presidente.
Ele negou que já tenha desistido da reforma trabalhista, repetiu que a reforma da Previdência vai igualar, em alguns pontos, o regime de aposentadoria dos servidores e dos trabalhadores do setor privado, e que é preciso incluir os políticos nessa mudança de regras da Previdência.
O jornalista Elio Gaspari publicou recentemente que ele se aposentou aos 55 anos. Com base nisso, perguntei como ele convenceria as pessoas a se aposentarem mais tarde se ele mesmo — e vários de seus ministros — havia se aposentado cedo. Temer respondeu no estilo dele de enfrentar perguntas incômodas:
— É interessante como o meu exemplo serve para revelar como há aposentadorias precoces. Passaram-se 20 anos e estou aqui conversando. Ainda consigo trabalhar. A minha aposentadoria é uma revelação. É um exemplo para mostrar a impropriedade dessa aposentadoria. Vinte anos depois estou aqui trabalhando.
O que torna tão difícil essa discussão sobre a reforma da Previdência é que no país há uma legião de aposentados precoces e agora não dá mais para fugir da realidade de um déficit, apenas do Regime Geral (dos trabalhadores do setor privado), que supera R$ 100 bilhões.
Difícil também é o debate sobre o teto de gastos. Temer repetiu ontem o que o governo tem dito com insistência: que o limite é para o conjunto do Orçamento, mas pode-se escolher uma área para cortar, preservando-se saúde e educação. Quando o presidente quis dar um exemplo, ele falou em reduzir despesas em obras. O problema é que o país precisa voltar a investir, para retomar o crescimento.
Temer acha que a PEC passará em segundo turno na Câmara porque havia sete a oito deputados que não votaram porque estavam viajando, mas que são votos a favor do governo. Ele se arrisca a dizer que pode ter uns 370 votos. E repetiu que a medida é urgente.
— Se não fizermos isso, nós não vamos ter um país saudável daqui a quatro ou cinco anos — disse.
Temer diz que tem um “bom diálogo com o Congresso”, mas admite que isso não é o suficiente, porque os congressistas precisam estar conscientes da necessidade de medidas para reverter os desequilíbrios fiscais.
O presidente Temer não tem uma política específica para combater o desemprego. Quando perguntei sobre isso, ele disse que a geração de emprego será através dos investimentos do setor privado, que virão se continuar se recuperando a confiança na economia:
— Mas isso não vai acontecer no mês que vem, ou daqui a dois meses. É um processo paulatino, mas evidentemente daqui a algum tempo nós vamos começar a reduzir a margem de desempregados. O desemprego vai continuar alto, e o país precisa ter paciência para enfrentar as dificuldades.
Quando perguntei se ele havia desistido da reforma trabalhista, sobre a qual falou no começo do seu período de interinidade, Temer disse que o Judiciário vai aos poucos admitindo que o negociado entre as partes, principalmente para manter o emprego, prevalece sobre o legislado. Ele disse que só desistirá da reforma se ela não for mais necessária, pela generalização desse entendimento do Supremo.
O presidente admite que há um duro trabalho a fazer para reequilibrar o país, que as más notícias, como a do desemprego, vão permanecer, mas está confiante de que a aprovação de medidas de ajuste, por mais duras que sejam, vai levar o país a superar a crise.
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