• Sinais de descompressão sobre preços, reflexo também da grave recessão, compõem cenário favorável a que se comece, em bases firmes, um ciclo de cortes nas taxas
Às vésperas de mais uma reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, terça e quarta da semana que vem, consolida-se um quadro que indica a possibilidade de, afinal, a taxa básica de juros começar a ser cortada. Em 14,25%, das mais elevadas do mundo mesmo em termos reais, apostas são feitas entre analistas de que os juros podem ser cortados em 0,25 ponto percentual. Será uma boa notícia em vários sentidos.
Na sexta-feira da semana passada, em Washington, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou que a trajetória dos preços indica de fato um processo enfim de deflação. O IPCA de setembro sintomaticamente foi de apenas 0,08%, reflexo da grande redução das pressões nos alimentos. Mas Ilan considera “ainda incerta” a velocidade desse processo.
Há, também, efeitos nos preços da funda recessão ainda em curso, com índices de queda na produção superiores aos verificados na Grande Depressão mundial de 1929/30. A descompressão nos preços de serviços, muito dependentes da demanda interna, resulta disso, da perda do poder de compra da população, razão direta da inflação — ainda acima do teto da meta, de 6,5% —, mas principalmente de um elevado desemprego, acima dos 11%, ou 12 milhões de pessoas, e que pode chegar aos 13 milhões.
Um ponto de interrogação sobre o corte da Selic na semana que vem pode ser colocado pela questão fiscal: se o ajuste, para o qual é estratégica a aprovação da emenda do teto dos gastos, bem como será a reforma da Previdência, transitará sem muitos solavancos pelo Congresso. Numa visão otimista, a Câmara deverá aprovar o limite das despesas em segundo turno, e no Senado a emenda será sacramentada sem grandes sustos.
Embora pequeno, um corte na Selic terá grande efeito no ânimo dos mercados. E apontará para a confirmação de que em 2017 a economia poderá mesmo crescer algo acima de 1%, um desafogo para um país cujo PIB está encolhendo aproximadamente 7% em dois anos. Uma tragédia expressa nos milhões de desempregados.
Não se duvida que a qualificação técnica da nova diretoria do BC impedirá a repetição da aventura empreendida na era Dilma, em que a Selic foi podada, entre meados de 2011 e outubro de 2012, de 12,5% para 7,25%, na base do voluntarismo, na crença religiosa no desenvolvimentismo. O resultado — previsto — foi a volta da inflação, com mais força.
Mas, no plano dos desejos, não há quem não queira que os juros comecem a cair. Não só para começar a desanuviar o futuro a fim de que os investimentos no setor produtivo voltem, mas também por motivos fiscais.
Como a conta dos juros é, isoladamente, a mais elevada das despesas públicas, acima dos R$ 400 bilhões anuais, cortá-los é essencial também para o ajuste. Mas não pode ser na base da canetada, como se viu.
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