Gustavo Uribe, Valdo Cruz, Daniel Carvalho e Marina Dias – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Na tentativa de estancar a atual crise política, o presidente Michel Temer acertou a saída do governo de um dos seus principais braços direitos e começou a buscar um substituto que não tenha envolvimento em denúncias de irregularidades.
No centro de uma polêmica que envolveu até o nome do presidente, o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, cedeu à pressão de integrantes do próprio governo federal e pediu nesta sexta-feira (25) sua demissão do cargo.
A queda do homem de confiança do presidente, o sexto ministro a deixar o posto em pouco mais de seis meses de gestão peemedebista, ocorreu no dia seguinte à revelação, pela Folha, de depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal.
Segundo Calero, o presidente o teria "enquadrado" na tentativa de encontrar uma solução para um empreendimento em Salvador no qual Geddel adquiriu um apartamento e acabou embargado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Da Bahia, para onde viajou na quarta-feira (23) para consultar advogados e parentes sobre sua saída, Geddel telefonou para Temer para colocar o cargo à disposição.
O presidente pediu a emissários que transmitissem a seu assessor que sua situação havia ficado "insustentável" e sua saída era necessária. E que ela deveria ser formalizada ainda na manhã da sexta para acalmar os mercados.
Em carta enviada por e-mail, Geddel, principal articulador político do governo, disse que chegou ao "limite da dor" que podia suportar e chamou Temer de "querido" e "fraterno" amigo, dizendo torcer por sua gestão.
A avaliação do próprio presidente, contudo, é que a saída do ministro, considerada tardia por assessores, pode não ser suficiente para resolver a atual crise.
Na tentativa de fazer uma espécie de aceno de caráter moralizador, ele vai tentar escolher um substituto sem, por ora, vinculação a escândalos de corrupção.
A intenção foi manifestada a integrantes da equipe ministerial e à cúpula nacional do PSDB, com quem Temer almoçou no Palácio da Alvorada.
O sucessor de Geddel terá papel fundamental na negociação da emenda do teto de gastos, em fase de apreciação do Senado, e de reformas importantes no Congresso Nacional, entre elas a da Previdência, que deve ser enviada pelo Planalto ainda este ano.
TAMPÃO
Com receio de que uma escolha precipitada possa afetar a pauta governista no Congresso Nacional, o presidente pode deixar para a semana que vem o anúncio do substituto e passará o final de semana em conversas com aliados políticos e líderes da base aliada.
A principal alternativa estudada hoje pelo peemedebista é indicar para o posto um nome que exerça uma espécie de mandato-tampão ou determinar que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) acumule suas funções com a da Secretaria de Governo.
A estratégia seria, assim, utilizar o cargo do articulador político no ano que vem nas negociações para fechar uma candidatura de consenso da base aliada para presidir a Câmara dos Deputados. A eleição será em fevereiro.
Um dos nomes estudados pelo peemedebista para a possibilidade de mandato-tampão é o do assessor especial da Presidência da República Rodrigo Rocha Loures.
Ele já ocupou a antiga secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e costuma ser escalado em votações importantes no Congresso para dialogar com a base aliada e com os partidos de oposição.
O nome do secretário-executivo do PPI (Programa de Parceria e Investimento), Moreira Franco, chegou a ser cogitado, mas a avaliação no entorno do presidente é que as citações feitas a ele em delações no rastro da Operação Lava Jato fragilizam as suas chances.
Também foi ventilado o nome do ex-deputado Sandro Mabel, que atua como uma espécie de assessor extraoficial de Temer, intermediando negociações entre o Planalto e o Congresso.
Na lista de nomes da Câmara dos Deputados que poderiam assumir posteriormente o cargo, auxiliares e assessores presidenciais lembram de Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO), Baleia Rossi (PMDB-SP) e Darcísio Perondi (PMDB-RS).
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