- O Estado de S. Paulo
Quando assumiu o governo, em maio, ainda na interinidade e na incerteza do impeachment, Michel Temer montou uma equipe econômica que tinha tudo para dar certo. E uma equipe política que tinha tudo para dar errado. Não só porque parte dela era citada na Operação Lava Jato, o que aumentava seu potencial de explodir o próprio governo, mas também porque era constituída de amigos e confidentes do chefe.
Uma das várias lições da política diz que encrencados com a Justiça vão continuar encrencados, mesmo que o processo demore um tempão para andar. Mas um dia, por certo, anda. E que amigos e confidentes quase nunca dão bons auxiliares. Ganham autoconfiança excessiva e muitas vezes confundem amizade com tráfico de influência.
Por isso é que a saída de Geddel Vieira Lima do ministério não é suficiente para tirar o presidente Michel Temer do centro da crise política desde que Marcelo Calero pediu demissão da Cultura por causa de pressão que vinha sofrendo do então secretário de Governo.
Pressão que não tinha nada a ver com melhorias para a Cultura, mas para que Calero revogasse ato do Iphan que atrapalhava interesse imobiliários de Geddel em Salvador.
Em nenhum momento Geddel agiu como secretário de Governo, como alguém interessado em fazer a administração andar. Mas sim em defesa de seus próprios interesses. Misturou o público com o privado, avançou um pouco mais na tradição da cultura patrimonialista que faz do interesse público escravo do interesse privado. A amizade com Temer o fez sentir-se dono do pedaço, capaz de levar ao presidente as queixas contra o colega que não o atendia. E Temer, em nome dessa proximidade, envolveu-se no caso.
De uma hora para a outra, Temer, que se autodeclarou o pacificador do País, deixou de lado seu maior desafio, que é resolver a crise econômica, devolver o emprego aos brasileiros e botar o País nos trilhos do crescimento, para resolver uma questão pessoal de seu amigo e confidente.
Ao se envolver numa questão menor, do pior varejo possível, de interesse pessoal do amigo que não agiu como auxiliar do governo, mas como um oportunista, o presidente acabou por prejudicar a própria administração. Foi um tombo feio num momento em que a prioridade é aprovar a emenda constitucional que cria um teto de gastos para o setor público.
Tudo bem que Temer conta com uma base de apoio no Congresso muito forte e não é um escorregão como esse que envolveu Geddel Vieira Lima que vai levá-lo a sofrer uma derrota assim de repente. Mas não há dúvidas de que o País vai enfrentar novamente numa crise política, quando tudo o que não precisa é de mais uma.
Principalmente porque a maioria do governo no Congresso tem levado os políticos a tomar atitudes obscuras que, à frente, sem dúvida, se voltarão contra eles e poderá levar a novas e maiores crises.
Todos estão brincando com coisas perigosas. O presidente, ao passar a mão na cabeça do amigo, quando tudo o que o amigo fez foi traí-lo. O Congresso, por buscar anistia aos que no passado fizeram uso do caixa 2 em suas campanhas políticas.
Anistia quer dizer esquecimento, perdão em sentido amplo. Carrega a conciliação consigo, de partes que, antagônicas antes, decidem selar a paz depois de tempos de combate. No caso do caixa 2, não pode ser chamada de anistia, já que traz implícita a confissão das mutretas.
As eleições municipais de outubro mostraram que o eleitor começou a dar o troco naqueles que, como o PT, dilaceraram suas esperanças.
O eleitor está mudando muito rápido. Só os políticos parecem não perceber isso.
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